Denúncias de
violações contra crianças e adolescentes correspondem a 58% de todos os casos
recebidos pelo serviço de denúncias anônimas Disque 100
Segundo os últimos dados
disponibilizados pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Governo
Federal, foram registradas 80.437 denúncias de violações de direitos humanos
contra crianças e adolescentes em 2015. O número representa 58% do total de
denúncias recebidas no último ano pelo Disque 100.
Apesar de um recuo de -12% em
relação ao número absoluto de denúncias recebidas em 2014, crianças e
adolescentes continuam sendo o grupo mais afetado, com um número bem maior que
o de pessoas idosas, segundo grupo no ranking, que registrou 32.238 denúncias.
Das denúncias envolvendo violações contra crianças e adolescentes, 17.583 foram
casos de violação sexual.
Para o assistente social e
diretor do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP), Júlio
Cezar de Andrade, esse número pode ser muito maior, já que nem todos os casos
são efetivamente denunciados. O motivo é que muitas vezes o autor da violência
faz parte da família da vítima.
“As relações familiares também
são permeadas pela naturalização da violência, dificultando que ocorra uma
denúncia nos primeiros episódios de abuso. Muitas vezes existe a esperança de
que seja um caso isolado, que não vá se repetir. Existem diversos componentes
que atuam no fenômeno da violência e, consequentemente, na questão do
silenciamento”, explica Andrade.
Por causa disso, ressalta o
diretor do CRESS, é de extrema importância a criação de uma cultura de proteção
que envolva vários atores da sociedade: “É preciso que todos sejam sensibilizados
sobre sua obrigação em proteger as crianças e adolescentes, utilizando as
ferramentas de denúncia disponíveis, como o Disque 100, e não naturalizando a
violência cotidiana”.
Perfil
da violência
O
relatório mostra que as meninas ainda são as maiores vítimas correspondendo a
54% das vítimas. Além disso, a faixa etária mais atingida é de 4 a 11 anos,
sendo 57,5% negros/pardos.
Rede de proteção
Andrade explica que todos os atores
envolvidos na proteção de crianças e adolescentes precisam trabalhar na perspectiva
da responsabilidade coletiva e da importância de ações conjuntas de proteção.
Apenas um trabalho unificado envolvendo campanhas de sensibilização e métodos
de denúncia efetivos poderia mudar o panorama atual, em que o Brasil é visto
como foco de turismo sexual.
“O combate efetivo a esse tipo de
violência perpassa por uma mudança na concepção de mundo. Não podemos
compactuar com uma sociedade em que o corpo de crianças e adolescentes é visto
e tratado como mercadoria. Atuar no enfrentamento à violência contra crianças e
adolescentes é, portanto, atuar para a alteração dessa lógica perversa de
dominação”, finaliza o diretor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário