terça-feira, 17 de maio de 2016

19/05 é o Dia Nacional de Combate à Cefaleia: Saiba como lidar com a dor de cabeça, problema que afeta 90% da população mundial





Especialista do Instituto de Neurologia do Hospital Santa Paula dá dicas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 90% da população mundial sofre de cefaleia, nome científico da dor de cabeça. A entidade escolheu o dia 19 de maio para alertar as pessoas sobre a importância do tratamento de um problema que é a causa mais comum da busca de atendimento nos consultórios e ambulatórios de neurologia. 

Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, cerca de 70% das mulheres e 50% dos homens apresentam pelo menos um episódio de cefaleia ao mês. A enxaqueca ocorre em até 20% das mulheres. Um total de 13 milhões de brasileiros apresenta dor de
cabeça pelo menos 15 dias por mês, o que chamamos de cefaleia crônica diária. 
“São números alarmantes. Geralmente, a cefaleia se torna crônica, ou seja, se inicia com dores menos frequentes, consideradas ‘normais’, e com o aumento das crises e o uso excessivo de analgésicos se transforma em uma cefaleia quase diária”, afirma o neurologista do Instituto de Neurologia do Hospital Santa Paula João Roberto Sala Domingues, especializado em dor de cabeça. 

Segundo o neurologista, existem mais de 150 tipos descritos de cefaleia dividida em dois grupos: cefaleia primária e cefaleia secundária.

Cefaleia primária: é quando a própria dor de cabeça é a doença a ser tratada e não há nenhum problema estrutural, como tumores, anomalias ósseas ou anatômicas provocando a dor de cabeça. Exemplos deste caso são a cefaleia tensional e a enxaqueca. 

A cefaleia primária é a mais comum e pode evoluir com a piora da frequência e intensidade das crises, transformando-se em cefaleia crônica diária. Essa está relacionada ao uso excessivo de analgésicos orais em decorrência da desinformação dos pacientes e da automedicação. De 3 a 5% da população mundial adulta sofre de cefaleia crônica diária, o suficiente para causar algum tipo de incapacidade para realizar tarefas do dia a dia. A enxaqueca é um subtipo de cefaleia crônica diária. Ela pode ser tratada e controlada, mas não tem cura, ao contrário de outros tipos de cefaleia.

Um estudo epidemiológico sobre enxaqueca realizado pela Sociedade Brasileira de Cefaleia fez uma pesquisa com mais de 3800 pessoas e revelou que 15,2% da população brasileira sofrem de enxaqueca, 13% de cefaleia tensional (ligada a tensão muscular) e 6,9% de cefaleia crônica diária.

Cefaleia secundária: é quando há uma causa a ser descoberta e tratada especificamente. Neste caso, a dor está relacionada a outras causas, como sinusite, tumores, aneurismas, meningite, etc. 

Quando a dor de cabeça pode ser sintoma de algo mais grave, esses sinais de alerta recebem o nome de red flags. Os mais comuns são início súbito da dor, forte intensidade, uma dor progressiva ou que não melhora, alteração no padrão da dor, dor associada à febre e rigidez da nuca ou fraqueza de alguma parte, dor após traumatismo craniano ou após esforço físico e início da dor após os 50 anos. Na presença de qualquer um destes sintomas é importante procurar um médico.

Entendendo a origem da dor

De acordo com o especialista, diversos fatores podem desencadear uma crise, entre eles aspectos emocionais e estresse, variações bruscas de temperatura e umidade do ar, menstruação e outros fatores hormonais. Em alguns casos a dor também pode começar com o consumo de queijos amarelos, frutas cítricas, banana, linguiças, frituras, chocolate, café, chá, refrigerantes a base de cola, vinhos e cervejas.

Quem sofre de dor de cabeça diária pode ainda estar sentindo na pele os efeitos colaterais de outros medicamentos em tratamentos de uso contínuo ou até mesmo o uso excessivo de analgésicos que pode, inclusive, ser a causa da dor.

Além disso, alguns tipos de cefaleia são mais comuns em mulheres, principalmente pelas oscilações hormonais (estrógeno). A principal delas é a enxaqueca, três vezes mais comum do que em homens. Após a menopausa, quando não há mais uma oscilação hormonal tão importante, a proporção em mulheres e homens tende a se igualar. Já nos homens são mais comuns as cefaleias em salvas, a mais intensa descrita pela medicina. Trata-se de um tipo de dor de cabeça onde a dor é localizada somente numa parte da cabeça.  

Como tratar?

Segundo Dr. Domingues, para cada tipo de cefaleia há um tratamento, que pode ser desde alteração de hábitos e vícios, terapias farmacológicas (analgésicos, antidepressivos, anti-hipertensivos e até anticonvulsivantes) terapia não farmacológica (mudança de hábitos e vícios) e o tratamento da causa para cefaleia secundária (cirurgia, antibióticos e anticoagulantes). 

Alguns tipos exigem um tratamento mais duradouro, mas a maioria prevê um tratamento mais pontual. É importante ressaltar que o uso indiscriminado de analgésicos pode mascarar alguns tipos de dores e atrasar o diagnóstico correto.

No caso de enxaqueca crônica refratária é liberado o uso terapêutico da toxina botulínica do tipo A. A cada sessão a substância é injetada em até 39 pontos da cabeça e do pescoço do paciente, em aplicações a cada 90 a 120 dias, por um ano, com melhora terapêutica observada mais frequentemente após a terceira sessão de aplicação.

Veja abaixo algumas dicas do Dr. João Roberto Sala Domingues:

- Dor de cabeça também pode ser fome. Ficar muito tempo em jejum pode levar à queda de açúcar no sangue (hipoglicemia), que é um dos principais desencadeadores da enxaqueca. Em algumas situações de jejum também nos deparamos com a abstinência de outras substâncias, como a cafeína, que também pode desencadear na cefaleia.

- Problemas oftalmológicos como a hipermetropia, miopia e astigmatismo podem causar dor de cabeça. Nesses casos, o paciente relata acordar bem, mas durante ou no final do dia começam as dores. A este tipo de queixa damos o nome de astenopia. Uveítes (doença inflamatória nos olhos) e glaucoma agudo também podem provocar essas dores de cabeça.

- Durante a crise sempre tenha o medicamento indicado pelo médico por perto. Em caso de dor intensa, procure um local fresco e escuro para recostar. Beba muita água, coma moderadamente e mantenha-se em repouso. Colocar gelo sobre as áreas doloridas também pode minimizar a dor.

- A herança genética também tem a sua importância, mas o que mais tem sido considerado ultimamente é a qualidade de vida do paciente. Um indivíduo que come mal, fuma, bebe, não faz exercícios físicos regularmente e não tem um sono reparador terá uma maior chance de desenvolver ou agravar uma cefaleia já pré-existente.

- A cafeína potencializa os efeitos de outros analgésicos e tem sido usada como auxiliar no tratamento da cefaleia, principalmente na enxaqueca e na cefaleia do tipo tensional, inclusive por abstinência da própria cafeína. Porém o uso abusivo ou em indivíduos sensíveis a esta substância, a cafeína pode precipitar alguns tipos de cefaleia, principalmente a chamada cefaleia em salvas que, como foi falado anteriormente, é a mais intensa de todas.

Dez alimentos e bebidas que devem ser evitados

Na maioria das vezes, os alimentos podem engatilhar a dor de cabeça. O Ministério da Saúde listou o que deve ser evitado para quem tem tendência à cefaleia:

- Queijos amarelos envelhecidos;
- Frutas cítricas (laranja, limão, abacaxi e pêssego);
- Banana (principalmente banana d’água);
- Linguiças;
- Frituras e gorduras;
- Salsicha e alimentos com coloração avermelhada em conserva;
- Chocolates;
- Café, chá e refrigerantes a base de coca;
- Vinhos;
- Cervejas

“A ideia de normalidade atribuída à cefaleia é perigosa, atrasa o diagnóstico e um tratamento adequado, podendo ainda levar à automedicação, grave problema cultural em nosso país. Escute seu corpo. A dor é o meio que ele tem de chamar sua atenção de que algo não vai bem”, conclui o especialista.



Hospital Santa Paula
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