Psiquiatra explica que a cobrança excessiva por
desempenho e sucesso pode deixar os balzaquianos doentes; se livrar das
máscaras e reforçar a autoestima são caminhos para a cura
Parece que agora qualquer erro pode ser fatal,
pois não há mais tempo para correções. Chegar aos 30 anos se torna um drama
para algumas pessoas, é como se não desse mais tempo para realizar novos
projetos e os que já existem não fossem realmente um sucesso. "Muitos
adultos nessa fase ficam refletindo consigo mesmo e pensando que não realizaram
nada de concreto ou que estão muito distantes dos colegas bem sucedidos",
explica a psiquiatra Dra. Maria Cristina De Stefano.
O nome dado é ansiedade do desempenho, chamada
assim, a doença acomete adultos, os quais se sentem frustrados com o que
conquistaram até o momento. Chegar aos 30 anos deve ser considerado uma grande
vitória. Passar pelas mudanças hormonais da adolescência, pelos desafios da
juventude, pela formatura e pela estabilização em um emprego são conquistas
importantes. “Os principais questionamentos dessa etapa são ‘o que estou
realmente fazendo da vida?’, ‘sou apenas um produto da sociedade?’, ‘terei
tempo para realizar meus sonhos?’. A tendência da fase é a comparação e, como
ninguém se compara com alguém que está pior, sempre que fazemos isso, nós
perdemos”, explica Dra. Maria Cristina.
Em uma sociedade onde se impõe a necessidade de
graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado, ser gerente ou diretor de uma
empresa, falar três idiomas e ter conhecido pelo menos alguns países, a
especialista aponta que é difícil sentir-se satisfeito quando não se cumpriu
alguma ou, como a maioria das pessoas, algumas dessas etapas.
“A consequência disso é se sentir uma mentira,
mas não deixar evidente esse sentimento para os outros. Comparando a um jogo de
Poker, é como se a pessoa blefasse o tempo todo, mas conseguisse esconder que
não está com boas cartas”, avalia a psiquiatra.
Não é apenas na relação com as outras pessoas
que a ansiedade do desempenho reflete negativamente. Na saúde, essa cobrança
excessiva desencadeia crises. Ter o sono prejudicado e a possibilidade de
desenvolver úlceras e infecções são alguns dos exemplos do que a ansiedade pode
causar. “É necessário buscar ajuda profissional para o tratamento, que depende
da causa da ansiedade e do grau de intensidade, e pode ser feito com
medicamentos e psicoterapia específica”, orienta Dra. Maria Cristina.
Uma forma de lidar com esse sentimento é
encontrar amigos de idades próximas, dividir os problemas e entender que todo
mundo está sujeito a passar por isso. “Se livrar das máscaras, reforçar a
autoestima e o olhar para própria individualidade são fundamentais para superar
essa fase”, finaliza a psiquiatra.
Dra. Maria Cristina
De Stefano –
É formada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Foi médica
sanitarista e professora de Saúde Pública na Faculdade de Medicina de Jundiaí.
Desde 1996, atua como médica psiquiatra. Em 2012, a psiquiatra perdeu o filho
de 34 anos por suicídio e desde então tem trabalhado na prevenção por meio de
palestras para especialistas da área de saúde, estudantes universitários e
membros de entidades. Além das palestras, a psiquiatra lança a segunda edição
ilustrada com quadros pintados pelo autor, com os últimos três anos do diário
do filho Felipe.
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