Artigo
analisa informações sobre o vírus Zika, suas características epidemiológicas, a
apresentação clínica em crianças, testes laboratoriais, tratamentos e métodos
de prevenção
Os Centros para
Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agências do Departamento de
Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, compilaram suas
pesquisas e recomendações sobre o vírus Zika em um novo artigo, publicado no Pediatrics,
jornal oficial da Academia Americana de Pediatria.
Segundo os autores do
artigo, o objetivo era reunir num só local as informações relevantes para os
pediatras que necessitam aconselhar as mulheres que estão pensando em viajar
para lugares onde pode haver a transmissão em curso do vírus, bem como
informações sobre a prestação de cuidados destinados às crianças infectadas
pelo vírus Zika e suas famílias.
“O
vírus Zika, um flavovírus transmitido por mosquitos, já é conhecido desde 1947,
mas somente no ano passado começou a se espalhar pelas Américas. A introdução
do vírus coincidiu com o aumento do número de casos de microcefalia no Brasil.
Mais de 5.000 casos suspeitos de microcefalia foram relatados por aqui, desde
outubro de 2015. O número supera a média de 150-200 casos por ano no Brasil”,
afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Os pesquisadores
agora estão estudando as associações entre o vírus em mulheres grávidas e os
casos de microcefalia, bem como outros distúrbios neurológicos nos bebês,
embora uma ligação causal ainda não tenha sido definida, apesar de muito provável.
“A cada semana a doença preocupa mais as autoridades de saúde no mundo todo e
mais informações científicas sugerem que a ligação entre o vírus e a
microcefalia é real”, explica o pediatra.
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) expressou extrema preocupação com o vírus Zika e as doenças que
ele vem causando numa conferência de imprensa realizada em 22 de março. “Embora
as associações ainda não estejam definitivamente comprovadas, agora há um
consenso científico de que o vírus Zika está implicado em diversos distúrbios
neurológicos. O tipo de ação pedida por esta emergência de saúde pública não
deve esperar por uma prova mais definitiva”, defendeu Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde.
O vírus Zika agora está
espalhado em mais de 38 países e territórios na América Latina e no Caribe,
segundo a OMS. Com a proximidade do verão no hemisfério norte, as autoridades
dizem que provavelmente o vírus vai se espalhar pelo continente americano,
particularmente em áreas que abrigam os vetores primários, o Aedes aegypti
e, possivelmente, o Aedes albopictus. Em casos raros, o Zika também pode
ser transmitido através do contato sexual.
“Para os 20% das
pessoas infectadas que apresentam sintomas, a doença é leve e os sintomas são
febre, erupção cutânea, dor nas articulações e conjuntivite. A principal
preocupação é em relação aos bebês nascidos de mães que possam ter contraído
Zika durante a gravidez”, explica Moises Chencinski.
O CDC, em colaboração
com a Academia Americana de Pediatria, está divulgando orientações aos
pediatras para que eles possam identificar lactentes e crianças que possam ter
sido infectados. Confira as principais recomendações das entidades nesse
sentido:
·
Lactentes
devem ser testados para Zika quando nasceram com microcefalia ou
calcificações intracranianas e quando a mãe passou algum tempo em uma área
afetada durante a gravidez ou teve contato sexual com um parceiro do sexo
masculino que viajou para as áreas de disseminação do vírus;
·
Lactentes
devem ser testados para Zika se a mãe teve um teste positivo ou inconclusivo
para Zika, pois muitos defeitos de nascimento não são detectados no pré-natal
ou no momento do nascimento;
·
Crianças
cujas mães apresentaram resultados negativos para Zika ou não foram testadas e
que não nasceram com microcefalia ou calcificações intracranianas devem receber
cuidados preventivos rotineiramente;
·
A
suspeita de Zika deve ser levantada em crianças com dois dos sintomas acima
mencionados em suas duas primeiras semanas de vida se a mãe viajou para uma das
áreas afetadas, antes de duas semanas do parto;
·
A
suspeita de Zika deve ser levantada em crianças que apresentam pelo menos dois
sintomas depois de duas semanas de viagem a uma área afetada;
·
Os
adolescentes também podem ser expostos ao vírus através do contato sexual com
um homem que passou um tempo em uma área afetada.
Nos EUA, o vírus é
uma doença de notificação obrigatória nacional e deve ser relatado para os
departamentos de saúde estaduais ou locais para facilitar o teste. Os
dirigentes do CDC dizem que estão trabalhando para melhorar a disponibilidade
de testes de diagnóstico, mas nenhum deles está disponível no mercado americano
no momento.
“Para lactentes e
crianças que contraem o Zika através da picada do mosquito, a doença é
tipicamente leve, como é nos adultos. O tratamento envolve cuidados de suporte.
Nos EUA, as mortes de duas adolescentes têm sido associadas com o vírus, mas,
pelo menos, uma delas tinha outras condições pré-existentes de saúde graves. Os
pesquisadores também estão explorando possíveis associações entre o vírus Zika
e a síndrome de Guillain-Barré”, informa o médico.
Vírus Zika x
aleitamento
Chencinski destaca
que “o vírus Zika já foi encontrado no leite materno, mas não há casos infantis
de infecção pelo vírus relacionados com a amamentação. As entidades de saúde
recomendam que as mães com diagnóstico de Zika, que vivam em áreas onde o vírus
esteja se espalhando, continuem a amamentar. Não há nenhuma evidência de
transmissão (através do leite materno) e nós já sabemos quais são os benefícios
da amamentação”.
Como medida
preventiva, as autoridades de saúde recomendam que as mulheres grávidas evitem
viagens para áreas onde o vírus esteja disseminado, pois não há vacinas
disponíveis. “Todos os que viajam para áreas onde o Zika vírus está sendo
transmitido devem tomar medidas para evitar picadas do mosquito”, destaca
Chencinski, membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da
Sociedade de Pediatria de São Paulo.
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