No
exato momento em que novo relatório da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que o Brasil inclui-se entre os dez
países que têm mais alunos com baixo rendimento escolar em matemática,
compreensão de textos e ciências, corremos o risco de enfrentar um processo de
desestímulo ao hábito de leitura, desencadeado pelo reajuste de 24% no preço do
papel de imprimir, anunciado pelos fabricantes em fevereiro. Lembrando que essa
majoração segue-se a aumento acumulado de 11% em 2015. É uma contradição,
considerando que os livros são decisivos para que possamos reverter à má
qualidade do ensino!
A
Câmara Brasileira do Livro (CBL) estima que o impacto desse reajuste no preço
final para os consumidores será de 16%. Trata-se de um índice incompatível com
atual quadro recessivo do País. Não há como as famílias assimilarem um aumento
de tal proporção. Portanto, o encarecimento do papel nacional e suas
consequências na cadeia produtiva são um desestímulo ao hábito de leitura, que
já é baixo em nosso país, de 1,7 livro por habitante/ano.
Além
do desestímulo à leitura em geral, já bastante danoso ao País e à economia, as
famílias terão de despender mais dinheiro para comprar livros, inclusive os filhos
estudantes, num momento em que é elevado o seu nível de endividamento, de queda
da massa salarial e crescimento do desemprego. Assim, os efeitos do aumento do
papel são graves para as gráficas, editoras, livrarias, distribuidores,
vendedores porta a porta e, principalmente, para a sociedade.
Por
isso, é necessário um diálogo entre todos os segmentos da cadeia produtiva,
incluindo os fabricantes de papel e os distribuidores do insumo, gráficas e
setor editorial. Esse entendimento é importante para evitar a contratação de
serviços de impressão no exterior para fazer frente à oneração da produção
interna.
Entretanto,
até mesmo essa possibilidade poderá ser comprometida em grande parte, caso seja
aprovado o Projeto de Lei 7.867, de 2014, de autoria do parlamentar Vicente
Paulo da Silva (PT-SP). A matéria, em tramitação na Câmara dos Deputados,
proíbe a impressão no exterior das obras compradas pelo Governo Federal no
âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e das contempladas pela
Lei Rouanet. O projeto recebeu emenda na Comissão de Cultura que amplia a
proibição também à importação do papel.
Com
aumento do papel nacional e a restrição de imprimir e comprar o insumo no
exterior a preços menores, as editoras e os consumidores ficam submetidos a uma
política oligopolista de preços. A consequência é mais um golpe no hábito de
leitura, cuja disseminação é o nosso portal para o desenvolvimento!
Luís
Antonio Torelli - presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL)
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