A Rede de Bancos de Leite Humano está entre as ações que garantiram o reconhecimento do país como referência mundial em aleitamento materno pela OPAS e pela revista britânica The Lancet
A
Rede de Bancos de Leite Humano (rBLH) é uma das iniciativas que rendeu ao
Brasil, nesta quarta-feira (2/2), reconhecimento especial da Organização
Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da revista científica britânica The Lancet como referência
mundial em aleitamento materno. O país tem posição de destaque em relação a
nações de alta renda como Estados Unidos, Reino Unido, Portugal, Espanha e
China, em função das políticas públicas adotadas há pelo menos 30 anos.
Dentre os 292 bancos de leite humano existentes no mundo - implantados em 21
países das Américas, Europa e África - 72,9% deles estão no Brasil (213). Essas
unidades beneficiaram, entre 2008 e 2014, 88,5% (cerca de 11 milhões) de todas
as mulheres assistidas no planeta e contaram com o apoio de 93,2% das doadoras
de leite (1,1 milhão de brasileiras). As mulheres brasileiras foram
responsáveis por 89,2% da coleta dos 1,1 milhão de litros de leite doados e
beneficiaram 79,1% de todos os recém-nascidos atendidos nesses espaços,
tornando o Brasil no país que registra o maior número de doadoras de leite
humano do mundo.
Além dos bancos de leite, a revista The Lancet e a OPAS atribuem a evolução das
taxas de amamentação no país a um conjunto de políticas integradas de incentivo
à amamentação. O documento que reconhece o protagonismo do Brasil cita a
regulamentação da Lei de Amamentação, assinada em novembro de 2015, que limita
a comercialização de substitutos do leite materno, promove a licença
maternidade de 4 a 6 meses e melhora os processos sistemáticos de certificação
dos hospitais Amigos da Criança, assegurando padrões de qualidade e treinamento
constante de profissionais de saúde, liderança governamental, investimentos e
uma ativa participação da sociedade civil.
“Sabemos que o leite materno é capaz de reduzir em 13% as mortes por causas
evitáveis em crianças menores de cinco anos e estamos conseguindo reduções
fantásticas na mortalidade infantil. Em 2008, 41% das crianças brasileiras já
eram amamentadas até os seis meses de vida, de forma exclusiva, e devido às
nossas ações, campanhas, políticas e investimentos esse número só vem
crescendo, o que é um motivo de comemoração e satisfação para todos nós”,
comemora o ministro da Saúde, Marcelo Castro. Durante o evento também foi
lançada a nova série da revista científica britânica The Lancet, contendo o
maior e mais abrangente estudo comparativo já feito sobre aleitamento materno:
a equipe analisou dados coletados em 153 países.
De acordo com a coordenadora da Unidade Técnica de Família, Gênero e Curso de
Vida da OPAS/OMS, Haydee Padilha, o Brasil se evidenciou nos últimos anos como
um exemplo para os outros países. “Devido a suas políticas, regulações,
normativas, estratégias de fortalecimento dos recursos humanos e capacitações,
assim como iniciativas de educação para toda a população sobre a importância da
amamentação, além da importante participação da sociedade civil. Esperemos que
este reconhecimento ao país possa fortalecer a política de aleitamento materno
no Brasil e nas Américas”.
A Rede de Bancos de Leite Humano (rBLH) brasileira conta com 161 postos de
coleta em todos os estados do país. Nos últimos quatro anos, o Ministério da
Saúde repassou R$ 3,2 milhões para o custeio do serviço. O modelo do banco de
leite humano brasileiro é referência internacional e, desde 2005, o país
exporta técnicas de baixo custo para implementar bancos de leite materno em 25
países da América Latina, Caribe Hispânico, África Portuguesa e Península
Ibérica. Uruguai, Venezuela e Equador receberam as primeiras tecnologias
transferidas, e Portugal e Espanha receberam os primeiros bancos no modelo
brasileiro. Na última década, quase 2 milhões de recém nascidos no Brasil
receberam leite humano processado com a qualidade da Rede Brasileira de Bancos
de Leite Humano/FIOCRUZ/MS.
HOSPITAIS AMIGOS DA
CRIANÇA – Outra estratégia para incentivo a amamentação adotada
pelo Ministério da Saúde, desenvolvida em parceria com o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef), é a certificação de hospitais que cumprem os
chamados “Dez passos para o sucesso do aleitamento materno”. O certificado
“Hospitais Amigos da Criança” conta atualmente com 326 instituições em todas as
Unidades da Federação, garantindo incentivos financeiros às unidades que mantém
assistência humanizada e qualificada às mães e aos bebês.
Nos últimos dois anos, foram realizados 1,3 milhão de partos nos Hospitais
Amigos da Criança, que possuem qualificação das Boas Práticas de Parto,
Nascimento e Amamentação, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Em duas
décadas dos Hospitais Amigos da Criança no Brasil, o crescimento de
instituições habilitadas foi de 93,9%, passando de 66 hospitais em 1996 para
326 em 2015. O Brasil integra o seleto grupo dos 70 países que já adotam esse
critério em seus hospitais.
Além do aprimoramento do atendimento nos hospitais, o Ministério da Saúde tem
investido na capacitação dos profissionais da Atenção Básica com enfoque no
aleitamento materno. De 2013 a 2015, foram capacitados e qualificados 18 mil
profissionais, registrando um crescimento de 354,2% no período.
MULHER TRABALHADORA QUE
AMAMENTA – Para incentivar as brasileiras a manterem a
amamentação após o fim da licença maternidade, o Ministério de Saúde implantou,
em 2015, a ação Mulher Trabalhadora que Amamenta. A iniciativa possui três
eixos fundamentais: licença-maternidade de seis meses, implantação de creches
nos locais de trabalho ou convênio com creches próximas, e a criação de salas
de apoio à amamentação dentro do ambiente de trabalho. A meta inicial para
2015, de certificar 50 salas de apoio em empresas de todo o Brasil, foi
superada em 100%, chegando a 101 salas (o dobro do previsto inicialmente) que
beneficiam até 70 mil mulheres em idade fértil. Para 2016, o objetivo é
certificar outras 75 salas.
As salas de apoio à amamentação são espaços localizados no próprio ambiente de
trabalho, destinados às mulheres que retornam da licença maternidade. A
intenção é que elas possam, durante o horário de trabalho, com privacidade e
segurança, retirar o leite, armazená-lo em local adequado e depois levá-lo para
casa, aumentando o período de amamentação do filho. Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 43% dos trabalhadores brasileiros
são mulheres, ou seja, quase metade da força de trabalho no país.
Todas estas ações ajudaram o Brasil a atingir a meta do Objetivo do Milênio
(ODM) número 4, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), de
reduzir em dois terços até 2016 a mortalidade de crianças menores de cinco
anos, três anos antes do prazo. A queda dessa taxa foi de 77% em 22 anos,
passando de 62 mortes para cada mil nascidos vivos em 1990 para 14 mortes para
cada mil nascidos vivos em 2012.
BENEFÍCIOS –
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam que os
bebês sejam alimentados exclusivamente pelo leite da mãe até os seis meses e
que a amamentação continue acontecendo, junto com outros alimentos, por até
dois anos ou mais.
Crianças
que são amamentadas por mais tempo têm melhor desenvolvimento intelectual (um
aumento médio de 3 pontos no QI), o que pode melhorar o desempenho escolar e, a
longo prazo, aumentar a renda. Além disso, a cada ano que uma mãe amamenta, o
risco de desenvolvimento de câncer de mama invasivo é reduzido em 6%.
“A criança que recebe o devido aleitamento materno fica melhor preparada para a
vida. Tem mais estabilidade emocional, fica mais amorosa, desenvolve um caráter
e uma personalidade mais forte e se torna em uma pessoa mais saudável no
futuro. O aleitamento materno é, portanto, uma grande solução, tanto física
quanto psicologicamente, para o desenvolvimento de uma criança em todas as
etapas da vida”, completa o ministro da Saúde.
Com o leite humano, o bebê fica protegido de infecções, diarreias e alergias,
cresce com mais saúde, ganha peso mais rápido e fica menos tempo internado. O
aleitamento materno também diminuiu o risco de doenças como hipertensão,
colesterol alto, diabetes, obesidade e colesterol. O benefício também se
estende à mãe, que perde peso mais rapidamente após o parto e ajuda o útero a
recuperar seu tamanho normal, o que diminui risco de hemorragia e anemia.
Além disso, uma série de evidências científicas mostra que o leite materno é
capaz de reduzir em 13% as mortes por causas evitáveis em crianças menores de
cinco anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a OMS e
a Unicef, cerca de seis milhões de crianças são salvas por ano devido ao
aumento das taxas de amamentação exclusiva. O leite materno tem tudo o que a
criança precisa até os seis meses, inclusive água.
ESTUDO PILOTO –
O Ministério da Saúde está realizando um estudo piloto no Distrito Federal para
validar o monitoramento das práticas de alimentação infantil nos municípios por
meio de inquéritos telefônicos. Os resultados parciais desse estudo, relativos
à capital federal, mostram evolução favorável da amamentação exclusiva em
crianças menores de seis meses, de 50% para 65,8%, entre 2008 e 2014. A
pesquisa também constatou que o percentual de mães que continuam amamentando
seus bebês dos nove aos 12 meses aumentou de 65,4% em 2008 para 76,2% em 2014.
Gustavo Frasão
Agência Saúde
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