Pesquisadores
apresentam conclusões sobre cinco anos de ensaios clínicos envolvendo o uso de
atropina para tratar a miopia em crianças, durante a reunião anual da Academia
Americana de Oftalmologia
Pesquisadores
anunciaram que colírios medicamentosos podem ser a chave para combater o rápido
agravamento da miopia em crianças. Os resultados de um ensaio clínico - Five-Year Clinical Trial on
Atropine for the Treatment of Myopia 2: Myopia Control with Atropine 0.01%
Eyedrops - de cinco anos, onde
colírios de atropina de baixa dose retardaram significativamente a progressão
da miopia em crianças, foram apresentados durante a AAO
2015, reunião anual da Academia Americana de Oftalmologia.
As descobertas sugerem que esta medicação pode ser um tratamento eficaz na luta
contra o aumento global da miopia.
“A miopia aumentou
significativamente em todo o mundo ao longo das últimas décadas e continua a
ser uma das principais causas de deficiência visual globalmente. Nos Estados
Unidos, estima-se que 42% da população é míope, 25%
acima do que era registrado nos anos 70.
Os países asiáticos desenvolvidos apresentam taxas de miopia de 80-90% entre os jovens adultos.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de
Oftalmologia, a prevalência da miopia
varia de 11 a 36% da população brasileira. A visão do míope pode ser
corrigida por óculos ou lentes de contato, mas a alta miopia tem complicações
que incluem maior risco de descolamento de retina, degeneração macular,
catarata e glaucoma prematuros”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454),
diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Para ajudar a
combater este problema de saúde pública, os pesquisadores de Cingapura
debruçaram-se sobre a atropina, tratamento comumente empregado para tratar “o
olho preguiçoso” ou ambliopia. Neste estudo, que começou em 2006, 400 crianças
de 6 a 12 anos foram recrutadas e receberam aleatoriamente uma dose diária de
atropina. Três grupos diferentes receberam gotas noturnas com concentrações de
0,5, 0,1 ou 0,01%, durante dois anos. Os pesquisadores então pararam a
medicação por 12 meses. No grupo de crianças cujos olhos se tornaram mais
míopes durante esse ano de folga (-0,5 D ou mais), os pesquisadores iniciaram
uma nova rodada de aplicação do medicamento de 0,01% por mais dois anos. Ao
término do período total do estudo, os pesquisadores concluíram:
- Depois de cinco anos de uso, as crianças usando baixas doses de atropina em gotas (0,01%) eram as menos míopes quando comparadas com os pacientes tratados com doses mais elevadas;
- O colírio de atropina a 0,01% diminuiu a progressão da miopia em 50% em comparação com crianças que não foram tratadas com a medicação em um estudo anterior;
- A atropina em 0,01% parece ser segura o suficiente para ser usada em crianças de 6 a 12 anos, por até cinco anos, embora mais estudos sejam necessários. A dose mais baixa causa dilatação mínima da pupila (inferior a 1 mm), o que minimizou a sensibilidade à luz, experimentada em concentrações mais elevadas. Os pacientes também não experimentaram a perda da visão de detalhes com o medicamento de baixa dosagem.
Sobre o
tratamento da miopia
Foi postulado que a
atropina inibe o crescimento axial do olho associado com a miopia. Mas, a forma
como o medicamento funciona permanece em grande parte desconhecida. Além disso,
o medicamento tem vários efeitos colaterais, quando administrado em
concentrações mais elevadas. Por exemplo, para a concentração utilizada no
tratamento do “olho preguiçoso”, a atropina dilata as pupilas. Isso resulta em
sensibilidade à luz e visão borrada quando se olha para os objetos de perto.
“As crianças que
utilizam altas concentrações desse medicamento, muitas vezes, precisam usar
óculos bifocais e óculos de sol. Além disso, as concentrações mais altas também têm causado
conjuntivite alérgica e dermatites. Estas desvantagens explicam
porque o uso de atropina para correção da miopia até hoje continua a ser
bastante incomum nos Estados Unidos”, explica o oftalmopediatra Fabio Pimenta
de Moraes (CRM-SP
124.321), que também integra o corpo clínico do IMO.
Esta tendência pode
ser alterada agora, quando as doses menores de atropina parecem oferecer
benefícios na redução da progressão miopia, sem os efeitos colaterais. Os
pesquisadores dizem que este estudo recente de acompanhamento de cinco anos
mostra que os benefícios de longo prazo superam os riscos.
“No entanto, eles
enfatizam que mais informações são necessárias para determinar quais as
crianças são boas candidatas a esse tratamento, visto que 9% das crianças do
grupo de baixa dose não responderam ao tratamento nos dois primeiros anos. Mais
estudos também são necessários para determinar quando o tratamento pode ser
iniciado com segurança e por quanto tempo os colírios devem ser usados. Estudos
adicionais sobre atropina para a progressão da miopia estão sendo realizados na
Europa e no Japão, eles podem ajudar a encontrar essas respostas”, destaca
Fabio Moraes.
IMO, Instituto de
Moléstias Oculares - http://www.imo.com.br/home.aspx - Email: imo@imo.com.br - https://www.facebook.com/imosaudeocular -
TV IMO: https://www.youtube.com/user/imosaudeocular
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