A boa notícia para você que está lendo este texto em 2016 é que
isso significa que você sobreviveu a 2015. Sobreviveu não significa que
superou sem algum contratempo, afinal, estamos num momento em que quase tudo
ficou 10% mais caro e que uma em cada dez pessoas que você conhece perdeu o
emprego.
Se está difícil para você, saiba que as
empresas enfrentam um problema a mais. Acaba sendo inevitável imaginar (e
constatar) que um funcionário com dificuldades financeiras, que dorme e come pior,
e quase nunca se diverte, trabalhe menos e com menor eficiência do que se tudo
estivesse bem. E não dá para “mudar” essa chave da noite para o dia.
O paradoxo está em uma empresa que lhe emprega e, portanto, lhe
paga, ter problemas porque você está sem renda, endividado ou com algo mais
sério. Por que isso ocorre e por que isso é, sim, um assunto a ser discutido
pelas empresas?
O porquê isso ocorre deriva de 516 anos em que
o Brasil não considerou importante oferecer algum tipo de educação financeira
para as pessoas. Aqui o sujeito tem cartão de crédito, renda, poder e estímulo
para fazer financiamento, tudo isso sem nunca ter tido nem dez minutos de
esclarecimento sobre o que é receita, despesa, juros e o que é se endividar.
Assim, com várias “armas” na mão e um conhecimento similar a um gorila,
parece-me claro que algumas pessoas irão se machucar.
Segundo o Instituto FGV, educação financeira
precisa estar constantemente na pauta entre os gestores de uma empresa,
independentemente de seu porte ou segmento, no mínimo por dois motivos:
1. O descontrole financeiro está diretamente
ligado às ausências no trabalho em 58% das organizações;
2. O excesso de dívidas abala negativamente a
produtividade em 78% destas empresas.
Quando sabemos que 55% dos brasileiros hoje
estão seriamente endividados e 34% estão inadimplentes, estamos falando de uma
“bomba invisível” que não pode mais ser ignorada nas companhias, especialmente
enquanto o assunto produtividade for a questão a ser atingida.
Com esses números, desenvolver o funcionário
para que o mesmo cresça em desempenho e produtividade sem antes equacionar o
que esta lhe tirando o sono, parece-me muito com a tarefa de enxugar gelo.
Infelizmente para o curto prazo, porém
felizmente para um país melhor, algumas empresas já estão investindo em
palestras, cursos e consultorias a fim de ajudar o seu público interno a lidar
com um cenário assustador, como uma taxa de juros anual de 300% no cartão de
crédito, por exemplo.
Além do benefício de ter de volta um
funcionário concentrado, a decisão do gestor de implementar um plano de
educação financeira na empresa acaba, lá na frente, sendo muito valorizada pelo
trabalhador. A vida familiar fica muito prejudicada quando se tem dívidas e
receber um suporte para superar essa dificuldade gera uma eterna gratidão.
Se você, gestor, perceber que funcionários que
nunca faltavam agora se ausentam por qualquer motivo; se perceber que a
quantidade de pedidos de antecipação de férias ou 13º aumentou, tenha
certeza que o problema já existe e não vai sair dali sozinho. Se por qualquer
razão isso ainda não chegou à sua empresa, não perca a chance de resolver um
problema enquanto ele ainda está pequeno. Pois, como todos já sabemos, a nossa
crise política e econômica ainda estará presente em 2016.
Luiz Gustavo Medina - formado em Finanças pelo Insper e trabalhou por 13 anos
do mercado financeiro. É autor dos livros ''Investindo em Ações - Os primeiros
passos'', “Investindo sem Erro” e "Investindo no Futuro", todos pela
Editora Saraiva. Foi controller da Luandre - Soluções em Recursos Humanos. Teco
Medina, como é conhecido, é palestrante e co-apresentador dos programas ''Fim
de Expediente'', "Hora de Expediente" e "Call de Abertura"
na rádio CBN. Esse último, uma conversa sobre economia junto com o ex-diretor
do Banco Central Alexandre Schwartzaman.
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