De acordo com o Instituto Nacional do
Câncer (INCA), em 2012 foram registrados mais de 11,5 mil novos casos de câncer
infanto-juvenil no Brasil. A proliferação descontrolada de células anormais
pode ocorrer em qualquer parte do organismo, mas, nesse caso, os tumores mais
frequentes costumam ser a leucemia (que afeta os glóbulos brancos), os linfomas
(que comprometem o sistema linfático) e os tumores do sistema nervoso central.
Menos comuns, também os neuroblastomas (sistema nervoso periférico), o
retinoblastoma (olhos), os sarcomas e osterossarcomas (partes moles e ósseas,
respectivamente), o tumor de Wilms (renal) e o tumor germinativo (de células
que dão origem a ovários e testículos) também costumam comprometer a saúde de
crianças e adolescentes entre zero e dezenove anos. Esse tipo de informação
assusta, mas é importante dizer que em média 70% dos pacientes são curados
quando diagnosticados e tratados logo no início. Por isso, a fertilidade está
entrando cada vez mais na discussão do tratamento. Afinal, saber que teve sua
fertilidade preservada aumenta a qualidade de vida depois que o paciente for
curado.
Na opinião de Edson Borges Junior,
especialista em Medicina Reprodutiva e diretor científico do Fertility Medical Group, a infertilidade
é um dos efeitos colaterais de longo prazo mais angustiantes quando
adolescentes ou adultos jovens estão em tratamento de câncer. Por isso é tão
importante que os oncologistas estejam aptos a discutir com os pacientes a
possibilidade de recorrer a técnicas de preservação da fertilidade antes de dar
início de fato ao tratamento. “Tratamentos quimioterápicos e radioterápicos têm
permitido taxas de sobrevivência em torno de 80% entre crianças e adolescentes.
Depois de superar o câncer, os jovens se dão conta de que têm uma vida toda
pela frente e se preocupam com a possibilidade de ter filhos. É natural,
a essa altura, que o desejo principal seja levar uma vida mais próxima do que
era antes da doença”, diz.
Segundo o especialista, a fertilidade
masculina pode ser prejudicada em diferentes níveis, incluindo a remoção
cirúrgica dos testículos ou ainda tendo a qualidade e a quantidade de
espermatozoides afetada pela químio e radioterapia, por exemplo. Com relação às
meninas, o tratamento pode comprometer a produção de óvulos e os níveis de
hormônios, bem como o funcionamento de ovários e útero. Por isso, além de
conversar detalhadamente com o oncologista, é fundamental que o paciente possa
tirar todas as suas dúvidas e confiar a preservação de sua fertilidade – quando
indicada – a um especialista em Medicina Reprodutiva. “O que é necessário
ponderar é que não existem evidências que as técnicas de preservação da fertilidade
possam comprometer o sucesso do tratamento do câncer, exceto quando a vida do
paciente depende de uma cirurgia de emergência ou quando há riscos de se
postergar a quimioterapia. Nesses casos, infelizmente, há pouco a fazer. Mas há
outros muitos casos em que a fertilidade poderia ter sido preservada e não foi
simplesmente porque isso não fazia parte da conversa de base entre o
oncologista e o paciente – se transformando num problema de grandes proporções
no futuro daquela pessoa que sobreviveu a um câncer mas teve a chance de ser
pai ou mãe desperdiçada”.
Borges destaca algumas das técnicas mais
utilizadas na preservação da fertilidade masculina. “A criopreservação de sêmen
é a mais comum, embora seja possível apenas quando o paciente já entrou na
puberdade. As amostras são coletadas e podem ser congeladas por muitos anos.
Quando o paciente decidir ser pai, pode usar as amostras tanto num procedimento
de inseminação intrauterina, como num tratamento de fertilização in
vitro. Outro método utilizado em determinados casos é a proteção dos
testículos contra radiação (blindagem gonadal). Já com relação às mulheres, a
proteção do tecido germinativo através de hormônios pode ser uma alternativa
para a preservação da fertilidade, por ser um tratamento simples e relativamente
seguro, ideal para pacientes jovens ou quando não há tempo para o estímulo
ovariano antes do tratamento do câncer. O nascimento de bebês saudáveis após o
transplante de tecido germinativo descongelado tem aumentado a esperança de
jovens pacientes com câncer, mas ainda há muita pesquisa a ser feita.
Entretanto, o método mais seguro para evitar a infertilidade como efeito
colateral nesses casos é a criopreservação de gametas ou embriões. Esse é o
método com maior chance de sucesso para as mulheres que serão submetidas a um
tratamento de câncer. Estudos avançados incluem o congelamento de tecido
ovariano – que seria removido cirurgicamente antes do tratamento da doença de
base, congelado e mais adiante reimplantado. Mas ainda precisamos de mais evidências
para recorrer a essa técnica com segurança”.
Dr. Edson Borges Junior - especialista em
Medicina Reprodutiva e diretor científico do Fertility Medical Group –
www.fertility.com.br
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