Excelentíssimo Senhor
Fernando Pimentel
DD. Governador do Estado de Minas Gerais
“Minas Gerais não aceita a paz morna da submissão”
(Governador Itamar Franco)
Senhor Governador.
No ano de l982 fui agraciado pelo Governo do meu estado com a Medalha da Inconfidência.
Era então, Diretor do Colégio Tiradentes da Policia Militar sediado em
Barbacena e Comandante Geral da mesma Corporação o Coronel PM Jair
Cançado Coutinho sendo Governador do Estado o Dr. Francelino Pereira dos
Santos.
Por indicação daquele Comandante fui agraciado pelo Governador com esta
comenda pelos “relevantes serviços prestados” à gloriosa Polícia
Militar e ao seu sistema de ensino.
Não sei se tão relevantes foram esses serviços, mas afirmo que durante
os sete anos em que dirigi o referido Colégio entreguei-me de corpo de
alma à missão e o fiz despontar, coadjuvado por excelente equipe de
Especialistas, Professores e Corpo Administrativo, como Padrão em Minas
Gerais, segundo avaliação da Secretaria de Educação, e, sem qualquer
dúvida, o melhor de Barbacena.
Cheguei à direção daquele Colégio através de uma caminhada pelas
fileiras da Corporação, na qual me alistei, em 1.954, com treze anos de
idade, como aluno da Escola de Formação Musical do 9º Batalhão, escola
essa criada pelo Governador Juscelino Kubitscheck. Nessa caminhada e
graças à PMMG logrei alcançar dois cursos superiores, conquistar o
primeiro lugar no Estado no Concurso Público para a Cadeira de História,
patrocinado pela Corporação e, em seguida, ser nomeado Diretor do
referido estabelecimento.
Com dedicação e apoio do saudoso Coronel Walter Rachid Bittar, Chefe do
Estado Maior da PMMG e do não menos saudoso Dr. Chrispim Jacques Bias
Fortes Secretário de Obras do Estado, edificamos o novo prédio do
Educandário, remodelamos a sua administração e implantamos o Serviço de
Supervisão Pedagógica.
Foram vinte e oito (28) anos vividos no seio da Corporação, da qual me
desliguei para encetar carreira na Magistratura do Estado de Rondônia.
Reconheço, sinceramente, que a comenda a mim conferida, ultrapassa, e
muito, os meus méritos, se é que os tenho, mas a recebi com orgulho e a
consciência tranquila de quem tudo fez em prol da educação mineira e em
especial da juventude barbacenense.
Hoje, assisto no noticiário haver Vossa Excelência conferido igual
comenda a um tal Stédile, de quem ouço falar como invasor de
propriedades alheias, de incentivador da desobediência civil, da
liderança de insurrectos e como comandante de um exército ilegal e
nocivo à segurança nacional.
Respeito a escolha de Vossa Excelência por essa atitude, mas me recuso
ao nivelamento a que estão submetidos os nomes de grandes brasileiros
que também foram distinguidos pelos governadores que lhe antecederam.
No Brasil atual em que a corrupção endêmica é a tônica do noticiário,
em que a mediocridade se sobrepõe à criatividade; a esperteza à
honestidade, a incompetência à capacidade e o corporativismo partidário
aos interesses maiores na nação, sinto quão imerecida se apresenta essa
condecoração, eis que grandes nomes do cenário nacional, em todas as
áreas da atividade, são ignorados neste momento pelos governantes de
plantão.
Prefiro tê-la merecido sem ostentá-la que dividi-la com quem nada fez
em prol do Brasil, da ordem pública e muito menos por Minas Gerais onde é
ilustre desconhecido.
Nesta oportunidade peço desculpas ao ilustre Coronel PM Jair Cançado
Coutinho e ao Governador Francelino Pereira dos Santos por esta atitude,
afirmando, contudo que maior que a comenda que me concederam é a
gratidão que por eles guardo no recôndito do meu coração.
Não me julgo superior a esse senhor Stédile, mas a minha modesta
biografia, a minha devoção ao meu Estado natal, -berço e sacrário da
nossa liberdade- recomendam-me não aceitar esse nivelamento, razão pela
qual e por imperativo da minha formação cívica, renuncio ao galardão,
com pesar, é verdade, mas convicto de que faço o que dita minha
consciência.
A medalha, a passadeira e o respectivo Diploma seguem endereçadas ao
Cerimonial do seu governo, via SEDEX com aviso de recebimento.
Atenciosamente.
Brasília, 21 de abril de 2015
MOZART HAMILTON BUENO
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