quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Como se tornar mais inteligente, neuro ensina

Afinal, o que é ser inteligente? Quais são os diferentes tipos, como aplicar melhor cada uma das inteligências, o que pode atrapalhar e o que pode tonificar o cérebro humano? Neurocirurgião ensina.
 

Para o médico neurocirurgião, neurocientista e professor livre docente da Faculdade de Medicina da USP, Dr. Fernando Gomes, o conceito de inteligência se refere a capacidade mental de aprender, raciocinar, resolver problemas, compreender ideias complexas, adaptar-se a novas situações e interagir de maneira eficaz com o ambiente em que cada um está inserido. “A inteligência humana é multifacetada e pode ser analisada de várias maneiras, subdivida por tipos, os quais são mais aflorados em uma pessoa do que em outra e é bem particular de cada pessoa”, diz. 

Entre os diversos tipos de inteligência, uma das teorias mais conhecidas é a teoria das inteligências múltiplas, desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner. Segundo essa teoria, existem diferentes tipos de inteligência, sendo elas:
 

Tipo 1. Inteligência Lógica/Matemática

Este tipo de inteligência confere ao indivíduo a capacidade de confrontar e avaliar objetos e abstrações, discernindo as suas relações e princípios. Trata-se da habilidade para raciocínio dedutivo e para solucionar e lidar com números. Matemáticos, estatísticos, cientistas e filósofos possuem esta característica de forma exacerbada. Um excelente exemplo de ser humano dotado deste tipo de inteligência privilegiada foi Albert Einstein, que desenvolveu a teoria da relatividade, sendo inclusive agraciado com o prêmio Nobel.

Tipo 2. Inteligência Linguística

Caracteriza-se por um domínio e gosto especial pelos idiomas, dialetos e palavras e por um desejo em explorá-los. É predominante em poetas, escritores e linguistas. Em nosso meio, podemos enumerar nomes como Carlos Drumond de Andrade, Monteiro Lobato entre tantos outros.


Tipo 3. Inteligência Musical

Confere habilidade para compor e executar padrões musicais, em termos de ritmo e timbre, mas também escutar e discerni-los. Pode estar associada a outras inteligências, como a linguística, espacial ou corporal-cinestésica. É predominante em compositores, maestros, músicos, críticos de música como Beethoven, Mozart, Hermeto Pascoal.


Tipo 4. Inteligência Espacial

Trata-se da capacidade de compreender o mundo visual com precisão, permitindo transformar, modificar percepções, recriar experiências visuais ou até mesmo sem estímulos físicos. É predominante em arquitetos, artistas, escultores, cartógrafos, navegadores e jogadores de xadrez, como por exemplo, Michelangelo, Antoni Gaudí e Oscar Niemeyer.


Tipo 5. Inteligência Corporal-cinestésica

Expressa-se pela capacidade de controlar e orquestrar movimentos do corpo. É predominante entre atores e aqueles que praticam a dança e esportes. Alguns nomes se destacam como Neymar e Michael Jackson.


Tipo 6. Inteligência Intrapessoal

Caracteriza-se pela capacidade de se conhecer e ser mais desenvolvida em escritores, psicoterapeutas e conselheiros, como por exemplo, Sigmund Freud.


Tipo 7. Inteligência Interpessoal

É a habilidade de entender as intenções, motivações e desejos dos outros. Encontra-se mais desenvolvida em políticos, religiosos e professores, como Nelson Mandela e Gandhi.


Tipo 8. Inteligência Naturalista

É caracterizada pela sensibilidade para compreender e organizar os objetos, fenômenos e padrões da natureza, como reconhecer e classificar plantas, animais, minerais e seus componentes. É característica comum de biólogos, geólogos e arqueólogos. Charles Darwin é exemplo desse tipo de inteligência.


Tipo 9. Inteligência Existencial

Abrange a capacidade de refletir e ponderar sobre questões fundamentais da existência. É característica de líderes espirituais e de pensadores filosóficos como, por exemplo, Chico Xavier.


Como medir a inteligência?

Para saber então como medir a inteligência, Dr. Fernando explica que os Testes de QI (Quociente de Inteligência) são um dos métodos mais conhecidos já que envolvem uma série de perguntas ou tarefas que irão avaliar algumas habilidades cognitivas como raciocínio lógico, resolução de problemas, habilidades matemáticas e verbais. O resultado é um número que representa a pontuação de QI, sendo:

Acima de 130: superdotação

De 120 a 129: inteligência superior

De 110 a 119: inteligência acima da média

De 90 a 109: inteligência média

“Há ainda testes de aptidão específica que servem para medir habilidades em áreas particulares, como matemática, linguagem, ciências, etc., ou entrevistas e observação comportamental das situações do dia a dia. São avaliações feitas por especialistas em neuropsicologia e neurociência que irão medir habilidades interpessoais, habilidades sociais, autocontrole emocional e realizarão exames neuropsicológicos para avaliar o funcionamento cognitivo, identificando áreas específicas do cérebro associadas a diferentes habilidades. Assim, fica mais fácil uma pessoa usar as inteligências que estão mais abundantes a seu favor ao invés de ‘quebrar a cabeça’ tentando melhorar aquelas que podem não ser a expertise”, ensina.


O que pode comprometer a inteligência?

O médico afirma que existem fatores que podem comprometer a inteligência, seja ela qual for a mais abundante em cada pessoa. Isso inclui fatores genéticos que são determinantes das capacidades cognitivas de uma pessoa, ou o ambiente familiar e a educação o qual uma pessoa está inserida, o que uma pessoa come, se está exposta a toxinas e substâncias nocivas, como chumbo, mercúrio, álcool e drogas ilícitas, por exemplo, que podem prejudicar o desenvolvimento do cérebro, se há exposição a traumas e situações de estresse, ou ainda, problemas de saúde mental como transtornos mentais, como depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e outros, podem impactar a função cognitiva e, por consequência, a inteligência.


Como ser mais inteligente?

Se de um lado há fatores que comprometem a inteligência, há outros que podem ser trabalhados para melhorar a cognição de um modo geral. “Os exercícios físicos praticados de maneira regular ajudam a aumentar o fluxo sanguíneo para o cérebro, promovem o crescimento de novas células cerebrais e melhoram a plasticidade cerebral. Se estiverem aliados ainda a uma dieta balanceada, rica em antioxidantes, ácidos graxos ômega-3, vitaminas e minerais ajudam ainda mais a promover o estímulo mental que ainda pode ser potencializado por pequenos desafios cerebrais como jogos de quebra-cabeças, de estratégia, aprendizado de novas habilidades ou a prática de instrumentos musicais”, afirma o médico que ainda alerta para a qualidade do sono como algo crucial para a consolidação da memória e para o funcionamento cognitivo.

“No mais, ainda é importante gerenciar o estresse através de boas práticas como meditação, ioga e técnicas de relaxamento e ainda cultivar o aprendizado contínuo com novas experiências, leituras, cursos e desafios intelectuais além de manter a interação social com outras pessoas que pode ajudar a enriquecer o pensamento e promover a criatividade”, ensina.

Para Dr. Fernando, fica impossível falar de inteligência no mundo atual sem citar a inteligência artificial, que é a capacidade de sistemas, como computadores, aprenderem e realizarem tarefas cognitivas que normalmente seriam executadas pela inteligência humana. “A inteligência artificial criou as redes neurais artificiais que são inspiradas na estrutura do cérebro humano e – de modo artificial – realizam tarefas complexas como traduções e criação de textos automáticos, reconhecem face, tomam decisões, automatizam carros, recomendam conteúdos e fazem até diagnósticos médicos, tudo apenas com base nas informações disponíveis na internet”, explica o especialista que alerta para o grande desfaio da tecnologia: “Apesar dos avanços notáveis, enquanto a IA ainda é incapaz de interpretar com clareza as emoções, somente o cérebro humano compreende a fundo a melhor maneira de ser mais inteligente de verdade, afinal até por trás da inteligência artificial precisa existir um cérebro real”, finaliza. 



Dr. Fernando Gomes - Professor Livre Docente de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas de SP com mais de 2 milhões de seguidores. Há 12 anos atua como comunicador, já tendo passado pela TV Globo por seis anos como consultor fixo do programa Encontro com Fátima Bernardes (2013 a 2019), por um ano (2020) na TV Band no programa Aqui na Band como apresentador do quadro de saúde “E Agora Doutor?” e dois anos (2020 a 2022) como Corresponde Médico da TV CNN Brasil. Atualmente comanda seu programa Olho Clínico com Dr. Fernando Gomes semanalmente no Youtube desde 2020. É também autor de 9 livros de neurocirurgia e comportamento humano. Professor Livre Docente de Neurocirurgia, com residência médica em Neurologia e Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é neurocirurgião em hospitais renomados e também coordena um ambulatório relacionado a doenças do envelhecimento no Hospital das Clínicas.
drfernandoneuro

 

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