sábado, 23 de dezembro de 2023

Tristeza de fim de ano existe mesmo? Entenda!

Psiquiatra do CEJAM destaca alguns dos motivos que costumam causar angústia entre os brasileiros durante as festividades de Natal e Ano Novo

 

A época de Natal e Ano Novo, na maioria das vezes, está associada a sentimentos de alegria, entusiasmo e confraternização no imaginário coletivo. A chegada dessas datas carrega diferentes simbolismos e tradições tanto para crianças como para adultos. Há até quem acredite que literalmente exista o "espírito natalino", que torna as pessoas mais generosas, solidárias e gratas no final do ano.

Em contrapartida, também existem pessoas que passam por experiências bem diferentes nesse período, como tristeza, ansiedade, medo e frustração. Tudo isso pode ser resultado de diversas razões, sendo uma delas a perda.

"Normalmente, essas datas estão atreladas a memórias em que, para muitos, remetiam a uma época em que tudo parecia perfeito, mágico, especial ou interminável. Assim, ao longo do tempo, especialmente na vida adulta, essas recordações provocam uma sensação antagônica: alegria pelas experiências vividas, mas também tristeza por não existirem mais", afirma o Dr. Rodrigo Lancelote Alberto, especialista em psiquiatria e diretor técnico do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) de Franco da Rocha e do Hospital Estadual de Franco da Rocha, gerenciados pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim" em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.

Isso ocorre porque, ao longo dos anos, muitos precisam lidar com a ausência de entes queridos, seja por distanciamento decorrente de algum assunto mal resolvido ou pelo óbito. E, justamente nessas celebrações, tudo passa a ficar mais evidente a partir da falta. Esses mesmos sentimentos podem ocorrer em outras datas consideradas especiais, como aniversários, por exemplo.

“Não é incomum que as pessoas tenham um sentimento de solidão forte nessas datas e, por vezes, se isolem em uma época marcada tradicionalmente pelo entusiasmo e euforia”, explica o médico.

Há também quem vivencie frustrações decorrentes de altas expectativas para o momento, que é um dos mais esperados do ano. Seja pelos ambientes, pelos presentes ou pelas pessoas, muitas vezes as festas podem tomar um rumo totalmente diferente do esperado. Brigas, desentendimentos e atitudes egoístas podem ser algumas das razões para que o período siga um caminho distinto do idealizado.

Eventuais problemas financeiros ainda podem aguçar toda essa sensação de melancolia e ansiedade, já que é um período propício para o consumo de diferentes áreas. E o fato de o dinheiro ser um recurso limitado para muitas pessoas, infelizmente, pode gerar preocupações adicionais.


Então é Natal, e o que você fez?

O encerramento do ano marca o fim de um ciclo, propiciando reflexões sobre os objetivos alcançados e aqueles que não foram. Essa oportunidade, embora potencialmente poderosa para impulsionar o progresso no futuro, pode também se tornar algo angustiante para muitos, desencadeando crises de ansiedade decorrentes das comparações com familiares e amigos.

Os famosos votos estabelecidos no início do ano, como ir à academia com frequência, praticar exercícios físicos, fazer um novo curso, economizar dinheiro, arrumar um novo emprego, começar um relacionamento amoroso, aprender uma nova habilidade e viajar mais, são apenas alguns dos itens da tradicional lista de desejos.

"Essas aspirações refletem o desejo comum de crescimento pessoal, bem-estar e realização, e todos nós temos isso. No entanto, a realidade, muitas vezes, se revela desafiadora e, ao longo do ano, as demandas cotidianas podem interferir nessas resoluções. Logo, as metas, que deveriam ajudar na evolução, passam a pressionar muitas pessoas", ressalta Dr. Rodrigo.

O psiquiatra destaca que tudo isso pode gerar um ciclo de expectativas elevadas e, por vezes, desilusões e autocrítica, que podem ficar ainda mais fortes com a chegada do final do ano.

De fato, há uma infinidade de razões que podem entristecer o coração das pessoas. Por isso, é essencial reconhecer a existência de uma diversidade de experiências entre cada indivíduo, para, assim, promover uma abordagem mais compassiva.

Segundo o especialista, o conselho para tornar as festividades mais leves é um só: "Essa época demanda tolerância e compreensão em relação às pessoas que nos rodeiam, uma vez que cada indivíduo pode estar presente fisicamente, mas vivenciando uma gama de emoções complexas. Essa, sem dúvida, é uma oportunidade de sermos gentis conosco e com o próximo. No geral, são momentos de reflexão e, de certa forma, podem ajudar no aprofundamento de si. Apesar de tudo, pode ser uma oportunidade de renovação e autoconhecimento", finaliza.



CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
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