A seleção
e acesso a bons alimentos é fundamental para a promoção da saúde, prevenção de
doenças e redução da insegurança alimentar
O Brasil enfrenta desafios significativos em
relação à alimentação, da desnutrição à obesidade. Estudo com base na Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS - Ministério da Saúde e IBGE), no Brasil, a taxa de
obesidade aumentou de 20,8% em 2013 para 25,9% em 2019. A desnutrição também se
mantém um problema, especialmente entre as famílias que vivem com menos de dois
salários mínimos, residentes em áreas menos desenvolvidas, e que comumente
dependem de alimentos processados e ultraprocessados.
A desnutrição decorre da falta de nutrientes
essenciais. “Ela pode ser causada por ingestão insuficiente de alimentos ou por
má alimentação, ou seja, consumir produtos não saudáveis. Por isso, escolher
bem os alimentos, ter moderação e variedade no consumo de alimentos, são
fatores básicos para uma alimentação saudável e equilibrada”, explica a gerente
de nutrição da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Tatiana Bononi.
Na lista dos piores alimentos consumidos pelos
brasileiros, destacam-se:
- Refrigerantes
(diet ou normal);
- Batata
frita;
- Carnes
processadas (bacon, salchichas, nuggets, enlatados);
- Sorvete;
- Biscoitos
recheados;
- Churros
recheados;
- Cachorro-quente;
- Margarina;
- Salgadinhos
de pacote;
- Macarrão
instantâneo.
“A complexidade dos problemas alimentares traz a
necessidade de promoção e conscientização urgente da população sobre a boa
nutrição e como selecionar bem os alimentos. Isso é fundamental para melhorar
os problemas de desnutrição e obesidade, que hoje abrange todas as faixas da
população, mas principalmente os de baixa renda”, comenta a nutricionista.
O percentual de pessoas que sofrem com a
insegurança alimentar no país aumentou nos últimos anos e atingiu 70,3 milhões
de pessoas, de acordo com o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição
no Mundo da ONU (Organização das Nações Unidas). No mundo, os números chegam a
735 milhões com fome e 2,4 bilhões em insegurança alimentar.
Alimentos que “enchem” e
alimentos que nutrem
Identificar e selecionar os alimentos é fundamental
para uma boa nutrição e para evitar o consumo de alimentos com “calorias
vazias”. “São alimentos que enchem, mas não nutrem. Tem hiper sabor, vem em
grandes quantidades, mas não saciam e não nutrem o organismo para se manter
saudável, restaurar as energias e se recuperar do esforço do dia a dia, seja
ele físico ou mental”, esclarece Bononi.
O Guia Alimentar para a População Brasileira, do
Ministério da Saúde, orienta sobre os tipos de alimentos e o processamento
empregado na produção de cada um, fator determinante no sabor, nutrientes
presentes no alimento e no impacto social e ambiental.
Alimentos in natura ou
minimamente processados
Os alimentos in natura devem ser a base todas as
alimentações e são obtidos diretamente de plantas ou animais, não sofrem
qualquer modificação após deixarem a natureza ou foram minimamente processados,
como remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, fermentação,
pasteurização ou congelamento, para chegarem com qualidade ao consumidor. Esses
alimentos não recebem sal, açúcar, óleos, gorduras, nem outros
ingredientes.
Exemplos: hortaliças (legumes e verduras) e frutas
in natura ou embalados, fracionados, refrigerados ou congelados; arroz, milho
(em grão ou na espiga) e outros cereais em grãos; feijões (preto, carioca,
fradinho, vermelho, guandu, branco, etc); suco de fruta (natural ou
pasteurizado e sem adição de açúcar ou outras substâncias); castanhas; farinhas
de mandioca, de milho ou de trigo e macarrão ou massas frescas ou secas feitas
com essas farinhas e água; carnes de gado, de porco e de aves e pescados
frescos, resfriados ou congelados; leite pasteurizado, UHT ou em pó; iogurte
(sem adição de açúcar); chá, café, água potável; ovos.
Ingredientes culinários
Os ingredientes culinários são extraídos de
alimentos in natura ou outras fontes da natureza, sendo usados para temperar e
cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. Devem ser utilizados em
pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos.
Exemplos: óleos de soja, de milho, de girassol e de
canola; azeite de oliva; manteiga; banha de porco; gordura de coco; açúcar de
mesa branco, cristal, demerara ou mascavo; açúcar de coco; sal de cozinha
refinado ou grosso.
Alimentos processados
Os alimentos processados são alimentos in natura ou
minimamente processados que recebem sal, açúcar, vinagre ou óleo para durarem
mais tempo. As técnicas de fabricação incluem cozimento, fermentação, salmoura,
entre outros.
Exemplos: conservas de cenoura, pepino, ervilhas,
palmito, cebola, couve-flor, dentre outros legumes, preservados em salmoura ou
em solução de sal e vinagre; extrato ou concentrado de tomate (com sal e/ou
açúcar); frutas em calda ou cristalizadas; geléias; carne seca e toucinho;
sardinha e atum enlatados; queijos; pães feitos com farinha de trigo, fermento,
água e sal.
Alimentos ultraprocessados
Os alimentos ultraprocessados são formulações
industriais à base de ingredientes extraídos ou derivados de alimentos (óleos,
gorduras, açúcar, amido modificado) ou, ainda, sintetizados em laboratório
(corantes, aromatizantes, realçadores de sabor, etc.). Os rótulos podem conter
listas enormes de ingredientes. E a maioria deles tem a função de estender a
duração do alimento, ou, ainda, dotá-lo de cor, sabor, aroma e textura para
torná-lo atraente. Quando presentes, ingredientes in natura ou minimamente
processados aparecem em proporção reduzida.
Exemplos: guloseimas em geral (bolachas,
chocolates, pirulitos, sorvetes etc.); cereais matinais açucarados; bolos e
misturas para bolo; margarina; barras de cereal; sopas, macarrão e temperos
“instantâneos”; molhos prontos; salgadinhos “de pacote”; refrescos e
refrigerantes; iogurtes e bebidas lácteas adoçados e aromatizados; bebidas
energéticas; produtos congelados e prontos para aquecimento (lasanha, pizza,
nuggets etc.); pães, bolachas e biscoitos feitos com gordura vegetal
hidrogenada, açúcar, amido, soro de leite, emulsificantes e outros.
“Um grande número de ingredientes e a presença de
nomes pouco familiares, como gordura vegetal hidrogenada, xarope de
frutose, espessante, aromatizante, corante, indicam que o produto é um
ultraprocessado. A maioria dos ultraprocessados é consumida no lugar de
alimentos como frutas, leite e água ou, até mesmo, de preparações culinárias.
Esses são alimentos que devem ser evitados ou ter seu consumo reduzido. Eles
favorecem o consumo excessivo de calorias, prejudicam a sensação de saciedade e
são formulados para que sejam extremamente saborosos favorecendo o “comer sem
parar”, adverte a nutricionista.
A seleção e diversificação de alimentos,
proporcionam ganhos mais otimizados de nutrientes essenciais para o bom
funcionamento do organismo. “Evitar muitos desses alimentos completamente pode
ser difícil, mas reduzir a frequência e a quantidade em que são consumidos contribui
para melhorar a saúde”, finaliza Bononi.
Rede de
Hospitais São Camilo de São Paulo