A constatação de pelo menos 40 casos de endoftalmite
(infecção ocular pós cirúrgica) registrados após mutirão de cirurgias
oftalmológicas ocorrido em fevereiro, em Porto Velho (RO), levou o Conselho
Brasileiro de Oftalmologia (CBO) a cobrar de secretários estaduais e municipais
de saúde a observação pelos gestores de critérios técnicos e sanitários rígidos
para realização de atendimento em escala. Segundo o presidente do CBO,
Cristiano Caixeta Umbelino, ao não atender essas exigências os promotores
dessas iniciativas estão colocando em risco a saúde da população.
“A situação registrada em Rondônia é fato grave a ser devidamente apurado pelas autoridades competentes, sendo que o Governo e responsáveis pela ação devem oferecer suporte às vítimas, com garantia de tratamento para evitar prejuízos irreparáveis à visão”, pontuou o CBO em nota pública, que também foi encaminhada aos Conselhos Nacionais de Secretários Estaduais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems).
Demanda - Para o CBO, os mutirões, que têm sido adotados
como forma de dar vazão à demanda reprimida por atendimento especializado, nem
sempre seguem as recomendações que trazem maior segurança aos pacientes. Essas
falhas operacionais podem gerar complicações, com efeitos deletérios
importantes, como aconteceu no mutirão de três dias organizado pela Secretaria
de Saúde do Estado de Rondônia (SESAU). Por dia, teriam sido atendidos em torno
de 120 pacientes, conforme apuração do Conselho Regional de Medicina (Cremero).
A endoftalmite, registrada em Rondônia, é uma infecção no interior do olho, considerada emergência médica. Problemas ocorridos durante procedimentos, como cirurgia ocular, lesão ocular ou infecção na corrente sanguínea podem causar esse quadro, caracterizado por intensa dor e vermelhidão nos olhos. Os pacientes devem ser avaliados por médicos oftalmologistas, sendo que em determinadas situações pode ocorrer comprometimento da visão.
Oportunidade - Na nota divulgada, o CBO afirma que a
denúncia, que está em apuração, deve ser entendida “como oportunidade para se
reforçar parâmetros de segurança com o objetivo de reduzir chances de que
situações semelhantes, ou em menor proporção, voltem a ocorrer. Neste sentido,
a entidade médica defende que os organizadores dos mutirões adotem
providências, como, realizar atendimentos em “ambientes adequados, na presença
de médicos e de equipes capacitados para sua realização e sempre com o suporte
de equipamentos, insumos e medicamentos necessários”.
Os oftalmologistas pedem ainda que seja feito
planejamento prévio para evitar a sobrecarga de infraestruturas e de recursos
humanos, bem como bom atendimento, em todas as etapas (antes, durante e após ao
procedimento). De modo complementar, como ação preventiva, o CBO pede aos
gestores que ampliem a presença dos especialistas no aparelho da visão nos
postos de saúde, “facilitando o acesso dos pacientes a diagnóstico e tratamento
precoces de doenças oculares, aumentando-lhes as chances de cura e/ou controle
de agravos, às vezes, sem necessidade cirurgias e/ou outros procedimentos
invasivos.