Tipo de câncer que mais mata no mundo pode ter sua letalidade anual aumentada de 1.8 milhão para 3.01 milhões nas próximas duas décadas. O maior fator de risco para câncer de pulmão é o tabagismo. Cerca de 85% dos casos estão relacionados ao consumo do tabaco. Portanto, muitas das mortes por câncer de pulmão são evitáveis, alertam especialistas
Estamos no Agosto Branco, mês de
conscientização sobre o câncer de pulmão, doença que ocupa o posto de doença
oncológica de maior mortalidade no mundo. Só no ano passado, foram registradas
1.794.144 mortes por câncer de pulmão, segundo o levantamento Globocan 2020,
realizado pelo IARC, braço de pesquisa sobre o câncer da Organização Mundial da
Saúde (OMS). E se nada for feito, esse número pode alcançar 3,01 milhões em
2040, um aumento de 66,7 % no número de mortes, de acordo com a projeção do
mesmo estudo.
No Brasil, de acordo com o Instituto
Nacional de Câncer (INCA), são registradas cerca de 30 mil mortes anuais por
câncer de pulmão e são esperados para 2021 um total de 30.200 casos (17.760 em
homens e 12.440 em mulheres). “Se considerarmos que esse tipo de câncer está
fortemente relacionado ao tabagismo, responsável pelo desenvolvimento de 85%
dos tumores malignos do pulmão, ou seja, uma causa evitável, a realização de
campanhas de conscientização como o Agosto Branco são de extrema relevância no
combate à doença”, afirma o cirurgião oncológico e presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Alexandre Ferreira Oliveira.
O médico patologista e diretor de
Ensino da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Felipe D´Almeida Costa,
explica que o câncer de pulmão é resultado de mutações que levam à doença em
longo prazo, por danos causados por fatores de risco, com ênfase para o
tabagismo e o etilismo. "Se todas as pessoas no mundo largarem o cigarro
hoje, 8 entre 10 casos de câncer de pulmão deixariam de existir nos próximos
anos”, diz. Assim, não por acaso, a epidemia de tabagismo é considerada uma das
maiores ameaças à saúde pública que o mundo já enfrentou, segundo alerta da
OMS, em documento que avaliou o impacto global do cigarro, narguilé e outros
formas de consumo de tabaco e concluiu que todas as formas de consumo de tabaco
são prejudiciais à saúde.
Diagnóstico tardio – Um dos fatores que torna o câncer de pulmão ainda mais grave é o
diagnóstico tardio, situação que ocorre em 75% dos casos. Entre os
motivos elencados pelos especialistas da SBP e SBCO está o fato de que, muitas
vezes, o fumante naturaliza os sintomas de tosse, pigarro e secreção,
associando-os ao ato de fumar e negligência a possível evolução de um tumor.
Outra situação que leva ao diagnóstico tardio é que quando um pulmão está
afetado pelo tumor, o outro mantém a pessoa viva. Assim, mesmo com um pulmão já
comprometido pela doença, a pessoa demora a procurar um médico, atrasando ainda
mais o diagnóstico.
É uma situação muito grave porque as
chances de sucesso no tratamento aumentam quando a doença é diagnosticada em
fase inicial. De acordo com o levantamento SEERs, da American Cancer Society,
quando a doença é descoberta ainda restrita ao pulmão a chance é de 59,8% do
paciente estar vivo após cinco anos. A taxa de sobrevida em cinco anos cai para
32,9% quando a doença se espalhou para os linfonodos e, quando há metástase, a
taxa é de 6,3%.
O câncer de pulmão acomete
principalmente pessoas com mais de 65 anos. Porém, a doença pode acometer mais
jovens, inclusive, com menos de 45 anos. De acordo com a American Cancer
Society, a idade média das pessoas quando diagnosticadas é de cerca de 70 anos.
Evolução do tratamento – Paralelamente ao cenário de diagnóstico tardio e mortalidade, o
câncer de pulmão é uma das doenças oncológicas que mais mostra evidências de se
beneficiar de terapias-alvo e de imunoterapias, tratamentos da era da Medicina
de Precisão. Ao contrário do início do milênio, quando todo tumor pulmonar era
tratado com quimioterapia, hoje os pacientes, antes de iniciar o tratamento,
podem receber a indicação de teste de mutação em EGFR, BRAF, ROS-1, KRAS, fusão
EML4-ALK, rearranjo em NTRK, dentre outras alterações genéticas para as quais
há medicamentos com eficácia comprovada para perfis de pacientes com câncer de
pulmão avançado.
Esse arsenal reflete em mais tempo e
qualidade de vida para o paciente. Comparativamente, se em 2020, com tratamento
restrito à quimioterapia, os pacientes com câncer de pulmão agressivo e
metastático tinham sobrevida média de 12 meses, as terapias-alvo e, mais
recentemente, as imunoterapias, permitem que os pacientes com câncer de pulmão,
que têm indicação e acesso à esta terapia-alvo, tenham média de até 90 meses de
sobrevida e com menor toxidade. Por essa razão, o acesso dos pacientes à
terapia alvo é essencial. Isso porque a cirurgia não é a opção de escolha para
o câncer de pulmão que é diagnosticado em fase avançada (o que representa 75%
dos casos).
Combate ao tabagismo – Além do Agosto Branco, o Dia Nacional de Combate ao Fumo
é comemorado no mesmo mês, dia 29. Importante reforçar que começar a fumar
nunca é uma boa decisão. E, para os que fumam, que parar de fumar o quanto
antes é o melhor que se pode fazer para diminuir o risco de câncer de pulmão e
outras doenças oncológicas.
O caminho que a fumaça do cigarro
percorre no corpo humano é devastador. O cigarro contém, entre outras
substâncias prejudiciais, a nicotina, o alcatrão e um composto de mais de 40
substâncias comprovadamente cancerígenas. O tabagismo aumenta o risco de vários
tipos de câncer, além do de pulmão. São eles: cabeça e pescoço, bexiga,
esôfago, estomago, pâncreas, intestino grosso e reto. O tabagismo também está
ligado ao aumento de risco de alguns cânceres ginecológicos e leucemia.
Sobre a SBP - Fundada em 5 de agosto de 1954, a Sociedade Brasileira de Patologia é
responsável por representar seus associados e oferecer-lhes suporte
técnico-científico e profissional, incluindo assessoria jurídica, acesso a
programas de educação continuada, atualização científica, controle de qualidade
e acreditação de serviços. A entidade visa ser reconhecida como uma associação
de elevado padrão ético e profissional, com representatividade efetiva junto à
sociedade civil, ao governo e a comunidade – assistencial e acadêmica –
consolidando-se como referência no exercício da Patologia no Brasil.
Sobre a SBCO - Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia
Oncológica (SBCO) é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade
jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais
envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é
também promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos,
que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos
pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira. É
presidida pelo cirurgião oncológico Alexandre Ferreira Oliveira (2019-2021).