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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Combinação de febre e hipotermia pode ajudar a combater a sepse


Pesquisadores afirmam que o organismo humano transita entre duas estratégias de combate a infecções – resistência ao patógeno por meio da febre e tolerância temporária promovida por hipotermia – e ambas devem ser consideradas ao tratar casos graves (imagem: Freepik)



O sistema imunológico humano dispõe de duas estratégias pré-programadas para lidar com infecções. Uma é a febre, mecanismo de resistência cujo objetivo é eliminar o patógeno pelo aumento da temperatura corporal. A outra vai na direção oposta: promover o resfriamento controlado do corpo para permitir a convivência temporária com o invasor, preservando órgãos e sistemas. Os mecanismos se alternam de acordo com a força do ataque e o estado geral de saúde do paciente.

Este conceito inovador foi apresentado recentemente por dois pesquisadores na revista Trends in Endocrinology and Metabolism, da Cell Press. No artigo, propõe-se também combinar essas duas estratégias naturais de defesa para estudar e tratar a sepse – inflamação sistêmica geralmente desencadeada por uma infecção localizada que saiu de controle e principal causa de morte nas unidades de terapia intensiva (UTIs) brasileiras.

O trabalho, apoiado pela FAPESP, é assinado por Alexandre Steiner, do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), e Andrej Romanovsky, do Laboratório de Termorregulação e Inflamação Sistêmica (FeverLab) do St. Joseph’s Hospital and Medical Center, de Phoenix (Estados Unidos).

“Estamos propondo um modelo em que não se observa apenas o sistema imune na estratégia de host defense [defesa do hospedeiro], mas também aspectos da fisiologia humana. Está claro que temos duas estratégias de defesa e que precisamos olhar os sistemas imune e fisiológico de forma integrada ao analisar os processos de infecção”, disse Steiner à Agência FAPESP.


Evolução de conceitos

Nos anos 1970, pesquisas da área da fisiologia desenvolveram a Teoria da Febre, que apontava a elevação da temperatura corporal como um fator essencial da estratégia de defesa do hospedeiro. “Passamos a enxergar a febre não mais como parte da doença, mas como componente da defesa”, explicou Steiner.

Já nas duas últimas décadas, estudos com ratos apontaram que, quando a infecção se tornava mais grave, os hospedeiros desenvolviam hipotermia em vez de febre. “Observamos esse mesmo tipo de ocorrência em pacientes com sepse internados em UTIs, por exemplo”, disse.

Inicialmente, a hipotermia era vista como um processo de desregulação: o organismo estaria morrendo e, com os sistemas falhando, já não conseguia manter a temperatura corporal. Apenas na década de 1990 os cientistas conseguiram analisar o perfil metabólico e termorregulatório durante quadros de hipotermia para levantar a hipótese de que o fenômeno não era causado por desregulação e sim um comportamento proposital do organismo, um mecanismo controlado de defesa.

No início dos anos 2000, Steiner fez experimentos com ratos para estudar a preferência térmica, ou seja, para entender se o organismo dos animais procurava de forma ativa o frio ou o calor e em quais circunstâncias o fazia, tentando, então, entender melhor a hipotermia. “Nessa pesquisa percebemos que, em quadros menos graves, os animais estudados procuravam um ambiente quente e desenvolviam febre. Porém, com o agravamento do quadro inflamatório, passavam a procurar um ambiente mais frio, onde seria mais fácil desenvolver hipotermia”, contou.

A procura por um ambiente frio indica que o animal está em processo de desenvolvimento ativo de hipotermia. Segundo Steiner, tal fenômeno envolve centros do sistema nervoso central que coordenam uma inibição metabólica que, em ambiente mais frio, leva a uma redução regulada da temperatura corporal.
A febre, por outro lado, exige um gasto considerável de energia para manter a temperatura alta. Além disso, pode exacerbar o estresse oxidativo – desequilíbrio entre a geração de compostos oxidantes e a atuação de sistemas de defesa antioxidante –, que atrapalha a homeostase dos tecidos.

“Levantou-se a hipótese de que a hipotermia ocorre quando os custos metabólicos da febre excedem os benefícios: o desafio imune é muito forte ou há debilidade física. A resposta hipotérmica regulada daria suporte para um quadro de tolerância imunológica, no qual o organismo passa a conviver com o patógeno 'desligando' sistemas não vitais e defendendo aqueles sem os quais não consegue sobreviver”, explicou.

Nos experimentos realizados entre 2008 e 2012, Steiner detectou menor mortandade em animais que recorriam à estratégia da hipotermia frente a infecções bacterianas graves do que naqueles em que a hipotermia era bloqueada por intervenções laboratoriais. “Com isso, constatamos que na fisiologia animal a hipotermia tinha um papel benéfico”, disse.

Há cerca de uma década, também começou a mudar o paradigma da área de imunologia de que o sistema imune tem como objetivo principal matar o patógeno. Pesquisadores da área descobriram que alguns animais desenvolvem outra estratégia: ativam o mecanismo de defesa que permite a convivência temporária com o invasor.


Conhecimento combinado

No artigo publicado na Trends in Endocrinology and Metabolism, Steiner e Romanovsky defendem que o sistema de defesa do organismo humano seja abordado a partir da perspectiva das dicotomias febre/hipotermia – mecanismos estudados pela fisiologia – e resistência/ tolerância – pesquisados pela imunologia. Ou seja, sugerem que se combine os dois campos do conhecimento e se olhe para além do sistema imune ao lidar com infecções.

“Trata-se de um sistema dinâmico, em que o organismo transita entre uma e outra estratégia. Os sistemas imune e fisiológico não adotam apenas uma linha de defesa e se mantêm nela, principalmente em quadros graves como a sepse”, disse Steiner.

Além dos estudos em ratos, Steiner e sua equipe acompanharam um grupo de 50 pacientes sépticos tratados no Hospital Universitário (HU) da USP. “Procuramos um subgrupo de pacientes que tinha apresentado hipotermia semelhante à associada ao mecanismo da tolerância, cujas características são ser transitória e autolimitante. Para nossa surpresa, 97% dos 50 pacientes estudados se encaixaram nesse perfil”, contou. Segundo o pesquisador, nesses casos, a temperatura corporal cai de 2º C a 2,5 º C no máximo.

O quadro desses pacientes transitou naturalmente entre os estados de resistência com febre e de hipotermia, possivelmente associada a tolerância. As variações ocorriam como resposta do organismo, sem indução por uso de medicamentos ou promoção de técnica de resfriamento e aquecimento dos pacientes.

Segundo o pesquisador, a maior evidência de que o processo não é uma simples desregulação do corpo é que, dos 25 casos em que houve óbito, a maioria apresentou febre nas 12 horas que antecederam a morte. “Se a hipotermia fosse resultado de disfunção, de falência de órgãos, seria nessas 12 horas pré-morte que observaríamos mais hipotermia”, avaliou.

Os estudos realizados por Steiner receberam apoio da FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa – Jovens Pesquisadores; um Auxílio à Pesquisa – Regular; e um Auxílio à Pesquisa Temático.


Próximos passos

A implicação mais imediata dos resultados obtidos até o momento está em promover uma reavaliação da forma de lidar com a sepse. “Hoje em dia, as infecções graves são vistas de forma unidimensional: o sistema imune está lá para matar o patógeno e, se não o faz ou o faz exacerbadamente, causa problemas ao paciente. Com base nos novos achados, podemos pensar em possíveis terapias e em uma linha de tratamento mais personalizada, em que se analisa se o paciente poderá se beneficiar mais de uma estratégia de febre/resistência ou de hipotermia/tolerância”, afirmou.

Atualmente, o grupo de Steiner busca testar a aplicação da teoria geral proposta no artigo em situações específicas, como infecções por fungos, vírus e bactérias. Outra linha de pesquisa é avaliar a influência da obesidade nas estratégias de defesa contra infecções.




O artigo Energy Trade-offs in Host Defense: Immunology Meets Physiology pode ser lido em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1043276019301791.

 
Janaína Simões

Agência FAPESP
http://agencia.fapesp.br/combinacao-de-febre-e-hipotermia-pode-ajudar-a-combater-a-sepse/32430/


Novo estudo descarta benefícios de zinco e ácido fólico para fertilidade masculina


Um estudo sobre fertilidade masculina publicado na edição de janeiro do JAMA, o jornal da Associação Médica Americana, não encontrou benefícios relacionados à suplementação de zinco e ácido fólico para a fertilidade masculina. Os achados contrariam algumas suspeitas anteriores de que a ingestão regular destes suplementos poderia ser uma maneira eficaz, de baixo custo e não invasiva de tratar a infertilidade masculina.

Os primeiros estudos, realizados há mais de dez anos, foram bastante divulgados e ainda hoje são citados em reportagens sobre o assunto. Desde então, muitos homens passaram a fazer uso destes suplementos, mesmo sem orientação médica, revela o Dr. Marcelo Lorenzi, médico urologista do Centro Integrado de Urologia (CIU).

De acordo com o autor principal do estudo, Dr. Enrique Schisterman, do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano Eunice Kennedy Shriver da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, embora estudos anteriores mostrassem benefícios, ainda eram necessárias novas avaliações em busca de evidências definitivas de que a medida seria eficaz.

Assim, foram avaliados 2370 casais de quatro cidades dos Estados Unidos em tratamento de infertilidade.

Os homens foram divididos em dois grupos. No primeiro deles, os participantes receberam um suplemento diário de 5 mg de ácido fólico e 30 mg de zinco. No outro, foi oferecido placebo. Após seis meses, não houve grande diferença entre o número de nascidos vivos, nem na avaliação do esperma dos homens de ambos os grupos.

Por outro lado, os resultados revelaram que os suplementos podem ter efeitos colaterais negativos. Os homens do grupo que tomou os suplementos, houve uma taxa ligeiramente maior de fragmentação do DNA espermático, que pode contribuir para a infertilidade, além de relatos de sintomas como náuseas e vômitos.

Diante destes resultados, o co-autor do estudo, Dr. James M. Hotaling, desaconselha o uso de suplementação de ácido fólico e zinco por parceiros masculinos em tratamento para infertilidade, pois não há evidências de melhora nos resultados de nascidos vivos ou da função do sêmen.

Assim, o dr. Marcelo Lorenzi orienta que os pacientes não façam uso de suplementos de ácidos fólico e zinco sem orientação médica. 

"Suplementos alimentares, assim como qualquer medicamento, podem também prejudicar a saúde quanto tomados indevidamente. A orientação profissional antes de fazer uso de qualquer substância é muito importante para não colocar a saúde em risco", alerta o especialista. 



Dor de cabeça na TPM: como ela pode influenciar nas tarefas do dia a dia?


Todo mês é a mesma coisa: além da cólica, das dores nos seios e nas costas, irritabilidade, ansiedade e inchaço, a forte dor de cabeça. A Tensão Pré-Menstrual, mais conhecida como TPM, faz com que cerca de 80% das brasileiras, de acordo com dados do Ministério da Saúde, convivam com pelo menos um desses sintomas todos os meses. Entre os que mais afetam o dia a dia estão a cólica e a dor de cabeça. Essa última que se torna ainda pior quando a mulher tem propensão a enxaqueca.
Os números são altos: 31 milhões de brasileiros entre 25 e 45 anos convivem com enxaqueca crônica, como estima a Organização Mundial da Saúde (OMS). No mundo, a enxaqueca atinge 1 bilhão de pessoas, de acordo com dados da Fundação de Pesquisa sobre Enxaqueca (Migrane Research Foundation), sendo a terceira enfermidade mais prevalecente do planeta.
A pesquisa da fundação mostra que as mulheres sofrem mais de enxaqueca do que os homens na vida adulta, fato que é corroborado por pesquisas anteriores. Um estudo publicado em 2014 no Current Opinion in Neurology, por exemplo, observou que "como o estrogênio pode estender seu impacto em uma variedade de sistemas, seu papel na dor de cabeça é provavelmente multifatorial, incluindo modificações celulares e genéticas diretas no sistema nervoso central (SNC) – potencialmente como resultado de seu efeito no humor e na percepção da dor".
O problema está diretamente relacionado à queda da produção dos hormônios femininos estrogênio e progesterona, que ocorre no período menstrual. “O cérebro de quem tem enxaqueca é muito sensível a certos estímulos externos e internos. As crises agudas de enxaqueca são três vezes mais comuns nas mulheres, quando comparadas aos homens, por conta da fisiologia feminina. Conhecer seu corpo e como ele é afetado pela enxaqueca pode ajudar a conviver melhor com ela”, afirma Dra. Francine Mendonça*, médica neurologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Problemas no dia a dia
Uma pesquisa feita pela farmacêutica Novartis em parceria com a Aliança Europeia para Enxaqueca e Cefaleia aponta que 45% das pessoas apresentam redução de produtividade após o início das crises de enxaqueca, e 17% chegam a faltar no trabalho durante os picos de dor. O levantamento, que contou com a participação de 11 mil pessoas com enxaqueca em 31 países, incluindo o Brasil, revelou ainda que 82% delas sentem prejuízos na vida social e que mais da metade (56%) simplesmente desistiu de atividades diárias e hobbies.



Dra. Francine Mendonça - Formada na Universidade Federal de Alagoas, fez Residência Médica em Neurologia no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE), onde mais tarde especializou-se em Transtornos do Movimento. Atua principalmente no tratamento de AVCs, convulsões, insônia, dores de cabeça e demências.


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