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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Seu corpo reflete sua mente



Divulgação
Nosso corpo é um emaranhado de células inteligentes, que responde aos estímulos da nossa mente, consciente e inconsciente, e cuja saúde está totalmente conectada às nossas emoções. A especialista em Saúde Integrativa, Frésia Sa, questiona: o que o seu corpo está refletindo neste momento, é saudável?


 “Pode ser que você ainda não saiba, mas nossa mente pode adoecer ou curar nosso corpo, e só depende de como direcionamos nossas emoções e reagimos ao que nos acontece”. A frase é da fisioterapeuta Frésia Sa, especializada em saúde integrativa e sócia da Biointegral Saúde, em São Paulo. “Quando fingimos que está tudo bem, mas vamos acumulando desapontamentos e tristezas, as chances de ter problemas de saúde são muito altas”, explica ela, que complementa: “por outro lado, quando desenvolvemos uma postura calma e grata diante da vida, fortalecemos nosso sistema imunológico”.

Segundo Frésia, nosso corpo é um emaranhado de células inteligentes, que responde aos estímulos da nossa mente, consciente e inconsciente. “Se não podemos controlar o que nos acontece, podemos, ao menos, ter controle sobre como vamos reagir ao que nos acontece. Esse poder de reação está intimamente ligado ao quanto nos conhecemos, ao quanto estamos conscientes diante da vida e ao quanto escolhemos a saúde ao invés da doença”, reforça a fisioterapeuta.

“Conhecemos pessoas que vivem à base de medicamentos, encontrando saídas rápidas e aparentemente eficazes para, praticamente, tudo que lhes acontece. Sou a favor do uso de medicamentos em momentos muito agudos da doença, mas contra a substituição, por eles, de uma investigação apurada das causas do que nos acontece e da mudança de hábitos e de mentalidade na busca da saúde integral” revela Frésia.


Seu corpo reflete sua mente

Vamos pensar da seguinte forma: se você toma medicamentos, elimina os sintomas daquilo que está incomodando. Quando cessa o medicamento, logo a dor retorna. Esse é um quadro comum de reincidência no caso de dores crônicas, especialmente aquelas para as quais a ciência ainda não tem explicação. De onde vem a fibromialgia, por exemplo? Ou uma psoríase? São respostas que ainda estão sendo buscadas pela ciência.

Mas voltemos ao quadro: com os remédios, os sintomas são tratados. Mas a dor retorna. E aí, como fazer? Frésia fala sobre uma possibilidade real de tratamento: “quando buscamos as causas primárias de dores e doenças, quando entendemos que somos mais do que aquele quadro sintomático atual, é possível encontrar novos meios de lidar e de tratar as dores. Muitas vezes, a doença é o corpo tentando lidar com nossas emoções mais profundas. Encontrá-las e iniciar um processo de limpeza é uma proposta viável e que, muitas vezes, é totalmente eficaz”.





Biointegral Saúde



A alma é livre ou o desejo precisa ser suprimido?


Na obra ‘A Alma Imoral’, do rabino Nilton Bonder, uma passagem nos ajuda a entender a necessidade da alma em satisfazer os desejos do corpo e busca, em sua essência, a liberdade, concretizando sua perversão. Para tal, Bonder nos provoca com uma proposta muito justa, romper com as tradições.  Ele diz: ‘A proposta da imutabilidade é mais do que indecorosa: ela violenta um indivíduo. Ela propõe que continuemos a fazer o que foi feito no passado’.

Uma imoralidade da alma que revela o quão é transgressora e precisa ser para alcançar sua verdade e reconhecer-se. Enquanto não desvia do caminho designado, a alma vive enclausurada. Sufocada por mordaças sociais, traduzidas por regras, padrões, moldes estéticos, binaridades, repetições e caricaturas de si mesmo.

A luxúria é o pecado da transgressão sexual. A luxúria, como explica Leandro Karnal, professor e historiador, possui elos com o corpo e também com o pensamento. Enquanto podemos nos afastar da inveja depois de um processo de reflexão com a luxúria, por mais que você assuma uma posição reflexiva como ‘O pensador’, de Rodin, afastará o desejo sexual. Karnal nos lembra que podemos até reprimir e sublimar, mas o desejo não pode ser suprimido.


Ressignificância

Enquanto a cultura se encarrega de classificar, rotular e ressignificar os corpos, as religiões, sobretudo o Cristianismo, Judaísmo e o Islamismo, doutrinam este corpo. O ascetismo religioso prega a concepção de que os prazeres mundanos devem ser aniquilados em prol da fidelidade e obediência a Deus, logo, a vaidade ao corpo recriminada.

Ao corpo atribui-se o lugar do prazer maléfico, portanto, um corpo pecador. A negligência ao corpo era sinal de redenção e uma tentativa de livrar-se dos prazeres mundanos. Para se ter ideia da severidade e represália à vaidade ao corpo, os mais fervorosos em sinal de subserviência não se lavavam e se torturavam porque a carne era o lugar do pecado e, assim, não seriam assombradas pelos desejos mundanos. Já na Renascença era comum as freiras não lavarem o cabelo por anos. Os piolhos, que ali viviam, eram considerados ‘pérolas divinas’.

A domesticação aos corpos não é exclusividade religiosa e flerta com o controle e domínio social. Se por um lado Karnal nos leva a dialética de que ‘o corpo é matéria aparente; o corpo é o visível individual, e o ideal é invisível e está distante’, Bonder não só reforça como pondera o raciocínio e apresenta outro conflito ao homem e a relação ao corpo, seja o próprio e ou do outro: a nudez. Diz ele: ‘Não existe, na verdade, outro nu além daquele que se percebe nu. E grande é o paradoxo humano no qual não há humano que seja digno sem uma boa noção de si como nu e não há nada mais assustador à dignidade humana do que se perceber nu’.


Interditos

Paradoxalmente, os interditos ao sexo, sejam eles conter, aprisionar, negar, ignorar, sujeitar, abjetar e violentar pressupõem igualmente um movimento contrário, a contravenção, a desobediência e o descumprimento. A vontade e realização ao sexo, mesmo que as doutrinas religiosas, a serviço da moral, se valessem do discurso condenatório e recorressem à desaprovação de Deus, ou seja, a ideia de ‘danação divina’.

Toda nudez será castigada, ironia rodriguiana ao controle dos corpos e da sexualidade, o próprio autor ainda é mais sarcástico quando reflete que ‘só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu’. Se por um lado, arrancar a máscara é arrancar um rosto antes percebido, agora surge um outro rosto. Da mesma forma que arrancar as roupas, acessórios, maquiagem e adereços desnuda um corpo, enaltece-se a um outro corpo. Identitário e transgressor às normas. O ato de arrancar a desobediência necessária.

O sexo era um mal necessário, porque a reprodução da sociedade é a continuidade do rebanho de Deus, assegurada, pela cópula. Mas, ao mesmo tempo, apodrecia a alma das pessoas desde que o prazer fosse consagrado.


Pecado

O corpo, novamente, como reforça Karnal, ‘inclina a matéria ao pecado’, como que o inferno é o corpo e o paraíso, o espírito. Enquanto o espírito ainda possui esperança de ser salvo, o corpo possui ‘vida própria’, insinua-se, seduz, instiga, treme, vibra, contrai, expande.

O corpo é e será alvo das repressões. Um corpo que busca sua expressão e autonomia. Busca uma linguagem própria e se comunicar sem sucumbir às mordaças impostas. Um corpo que cede à pressões, principalmente no que diz respeito às intimidações da Cultura. Nilton Bonder me ajuda a esta reflexão, pois, ‘existe em nós uma tendência de querer agradar a nós, aos outros e à moral de nossa cultura [e] com isso, vamos, gradativamente, nos perdendo de nós mesmos’.

E como a contradição é algo inerente a nossa existência, em tempos de despertar de consciência, ainda nos conformamos ao enquadramento social do corpo. Sacrificamo-nos por dietas, nos poupamos de alimentos para reduzir taxas de gordura, enquanto no passado isso era por amor a Deus. Mantemos a vaidade dos gregos helênicos ao corpo torneado, com a diferença que para eles este corpo estava a serviço da superação de limites, e hoje suplicamos pela aprovação alheia.

Agora imaginem corpos generificados e que querem e precisam despertar? Corpos de mulheres que são desrespeitados e violentados? Corpos transgêneros que buscam a ‘passabilidade’ ou que estão em transição? Todos eles são, comumente, assassinados e eliminados da sociedade. Mas não se engane. Todos os corpos estão em transição. Transgredir e contraverter são processos para despertar.





Breno Rosostolato - psicólogo, educador e terapeuta sexual, terapeuta de casais e professor da Faculdade Santa Marcelina


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