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| Com pontos de corte mais altos, a prevalência de sarcopenia provável quadruplicou (de 10,6% para 40,1%), a sarcopenia diagnosticada aumentou de 1,4% para 5% e a grave mais que dobrou, de 3,9% para 8,8% (imagem: Freepik) |
Com base em dados de 7.065 brasileiros com mais de 50 anos, pesquisadores da UFSCar defendem mudanças na nota de corte do teste usado para avaliar a força muscular, de forma a identificar a doença mais precocemente
Pesquisadores da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar) analisaram dados de mais de 7 mil brasileiros e
concluíram que usar critérios mais rigorosos para mensurar a fraqueza dos
músculos pode melhorar a triagem da sarcopenia, doença associada à velhice e
caracterizada pela perda progressiva de massa e função muscular. Além de
facilitar o diagnóstico precoce, a abordagem com pontos de corte mais altos
ajuda a identificar previamente o risco de morte associado aos estados de
sarcopenia.
Essa condição está ligada à
perda de funcionalidade da pessoa idosa, maior risco de quedas e mortalidade.
De acordo com o consenso atualizado do European Working Group on
Sarcopenia in Older People (EWGSOP2), existem três estágios dintintos:
provável sarcopenia, caracterizada apenas por baixa força muscular; sarcopenia
propriamente dita, quando há baixa força e massa muscular; e sarcopenia grave,
quando além de perda de massa e força muscular também há baixo desempenho
físico.
O trabalho, que utilizou dados
do Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), comparou
a prevalência e os fatores associados à sarcopenia utilizando o padrão
recomendado pelo EWGSOP2 para definir baixa força muscular (força da mão menor
que 27kg para homens e 16kg para mulheres) com pontos de corte mais altos
(menos de 36kg para homens e menos de 23kg para mulheres), que já haviam sido
associados à mortalidade em pesquisas anteriores.
“Medir a força da mão é uma
forma simples, prática e barata de rastrear a sarcopenia. E, ao usar critérios
mais rigorosos, conseguimos identificar a doença mais cedo, o que aumenta as
chances de reversão com musculação e alimentação adequada. Na gerontologia, é
essencial agir antes que os problemas se agravem. Dessa forma, quanto antes a
sarcopenia for detectada, maiores são as chances de evitar quedas, perda de
funcionalidade e até a morte”, explica Tiago da Silva Alexandre, professor da UFSCar e autor do
estudo financiado pela FAPESP.
No trabalho, a adoção dos
pontos de corte mais altos adicionou mais de 2 mil pessoas na triagem de
"provável sarcopenia". “Quando usamos pontos de corte mais altos, a
prevalência desse estágio inicial quadruplicou, passando de 10,6% para 40,1%. A
sarcopenia propriamente dita aumentou de 1,4% para 5%. Já a sarcopenia grave
mais que dobrou, de 3,9% para 8,8%”, conta Sara Souza Lima, bolsista da FAPESP que realizou o estudo
como objeto de sua dissertação de mestrado.
Os pesquisadores afirmam que
existem inúmeras sugestões de pontos de corte para detectar a sarcopenia e que,
atualmente, no Brasil tem se adotado como diagnóstico os critérios
internacionais do EWGSOP2. “No entanto, já vínhamos percebendo que o ponto de
corte padrão começou a gerar uma certa dificuldade de diagnóstico. Em outro
estudo realizado pelo nosso grupo de pesquisa, verificamos que o ponto de corte
menor, de 36 kg para homens e de 23 kg para mulheres, era o único que
identificava risco de morte para todos os estados de sarcopenia”, explica (leia
mais em: agencia.fapesp.br/39770)
Desnutrição
e sarcopenia
Outra descoberta importante do
estudo está relacionada à desnutrição. Ao utilizar os pontos de corte mais
altos, a associação entre desnutrição e sarcopenia grave tornou-se ainda mais
forte. Na amostra, 41,5% dos participantes estavam em risco nutricional e 10%
já estavam desnutridos.
“A nutrição desempenha um papel
fundamental na manutenção da saúde muscular, especialmente na população idosa.
Quando usamos critérios mais sensíveis, conseguimos ver com mais clareza o
impacto da desnutrição na sarcopenia”, explica Alexandre.
Os pesquisadores chamam a
atenção para o fato de que, como os mesmos indivíduos foram avaliados com os
dois critérios de triagem, os fatores clássicos associados à sarcopenia – como
idade avançada, baixa renda e sedentarismo – continuaram os mesmos. “A
diferença é que os limites mais altos permitiram identificar o risco da
sarcopenia mais cedo. Isso nos leva à importância de que os critérios
diagnósticos sejam baseados em desfechos clínicos relevantes, como a
mortalidade, e não apenas em estatísticas, como foi o caso do EWGSOP2”, conclui
Alexandre.
O artigo How does the
cut-off point for grip strength affect the prevalence of sarcopenia and
associated factors? Findings from the ELSI-Brazil Study pode ser lido
em: https://doi.org/10.1590/0102-311XEN155624.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/criterio-mais-rigoroso-para-diagnostico-da-sarcopenia-melhora-prevencao/56667

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