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| Foto: Imagem de stefamerpik no Freepik |
À primeira vista, um frasco pequeno pode parecer uma
solução rápida para aliviar incômodos. Muitas pessoas, ao notar o olho vermelho,
ardência ou coceira, recorrem imediatamente ao que está no armário do banheiro
ou ao que foi indicado por alguém próximo. A sensação de alívio imediato
costuma reforçar a ideia de que “não há problema”. Mas, quando se trata da
saúde ocular, a aparência de simplicidade esconde armadilhas capazes de
comprometer de forma séria a visão.
Para a Dra. Elba Ferrão, oftalmologista do IOBH – Instituto de
Olhos de Belo Horizonte, a automedicação com colírios é um hábito perigoso e
ainda muito comum. “O maior risco de usar colírios sem prescrição é a ausência
do diagnóstico correto. Cada doença exige um tratamento específico e, quando o
produto não é adequado, pode haver piora do quadro e efeitos adversos”,
explica.
Entre as substâncias que merecem atenção redobrada, os corticoides
se destacam. Embora possam trazer alívio rápido, são também os mais danosos
quando usados sem acompanhamento médico. “O corticoide pode elevar a pressão intraocular
e esmagar o nervo óptico, provocando perda de campo visual. Sem medir a pressão
do olho, como faria o oftalmologista, essa alteração passa despercebida e
evolui silenciosamente”, afirma a especialista. Além desse impacto, o uso
prolongado favorece o desenvolvimento precoce de catarata, tanto em colírios
quanto por via oral.
Outro ponto crítico é que determinados sinais não devem ser
“camuflados” pelo uso inadequado de medicamentos. A hiperemia — o famoso olho
vermelho — é um indicativo importante e auxilia no diagnóstico. “A intensidade
da vermelhidão orienta a conduta médica conforme a evolução da alteração.
Quando a pessoa tenta resolver sozinha, mascara informações essenciais para um
tratamento seguro”, reforça a médica.
Antibióticos oculares também aparecem entre os produtos usados de
forma precipitada. A Dra. Elba explica que seu uso sem necessidade compromete a
flora natural da conjuntiva e do filme lacrimal, que são fundamentais para a
defesa do olho. “Aplicar antibiótico sem haver secreção purulenta não só é
desnecessário como contribui para resistência bacteriana. Na próxima infecção,
a mesma cepa pode não responder à medicação”, alerta.
A especialista aponta ainda mitos enraizados no imaginário
popular. Um dos mais frequentes é acreditar que o colírio que sobrou de outra
pessoa serve para qualquer situação semelhante. “Cada paciente precisa de
avaliação individual. O que funciona para alguém pode ser totalmente inadequado
para uma segunda pessoa”, observa. Outro equívoco recorrente é associar todo
olho vermelho à conjuntivite contagiosa, quando muitos quadros, como a
conjuntivite alérgica, não oferecem risco de transmissão.
Em alguns cenários, a procura imediata pelo oftalmologista é
indispensável. “Dor ocular, queda súbita da visão e secreção purulenta são
emergências. Nesses casos, obter o diagnóstico rápido é crucial para evitar
danos permanentes”, destaca a médica. O uso incorreto de colírios pode
inclusive agravar doenças preexistentes: “Um exemplo clássico é aplicar
corticoide sem saber que o paciente tem glaucoma. A pressão aumenta e o quadro
se complica”.
Por fim, cuidados básicos com armazenamento e validade também
fazem diferença. Compartilhar frascos é totalmente contraindicado. “A ponta do
frasco pode tocar a conjuntiva, facilitando a contaminação. Além disso, é
essencial respeitar o prazo após a abertura: muitos produtos duram até 30 dias;
outros, sem conservantes, têm validade menor; já medicamentos como a
latanoprosta exigem refrigeração antes do uso e se mantêm estáveis por até 60
dias fora da geladeira”, orienta. A recomendação final é simples: “Verifique
sempre as instruções na embalagem”.
Com sintomas aparentemente banais e soluções que parecem
inofensivas, a saúde ocular acaba sendo colocada em risco por falta de orientação.
“Diante de qualquer alteração, a consulta com um especialista continua sendo o
caminho mais seguro para preservar a visão”, finaliza a Dra. Elba Ferrão,
oftalmologista do IOBH – Instituto de Olhos de Belo Horizonte.

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