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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Alívio imediato, risco duradouro: os mitos que cercam o uso de colírios

 Foto: Imagem de stefamerpik no Freepik
Soluções aparentes podem ocultar doenças sérias; especialista alerta para erros cotidianos que colocam a visão em perigo


À primeira vista, um frasco pequeno pode parecer uma solução rápida para aliviar incômodos. Muitas pessoas, ao notar o olho vermelho, ardência ou coceira, recorrem imediatamente ao que está no armário do banheiro ou ao que foi indicado por alguém próximo. A sensação de alívio imediato costuma reforçar a ideia de que “não há problema”. Mas, quando se trata da saúde ocular, a aparência de simplicidade esconde armadilhas capazes de comprometer de forma séria a visão. 

Para a Dra. Elba Ferrão, oftalmologista do IOBH – Instituto de Olhos de Belo Horizonte, a automedicação com colírios é um hábito perigoso e ainda muito comum. “O maior risco de usar colírios sem prescrição é a ausência do diagnóstico correto. Cada doença exige um tratamento específico e, quando o produto não é adequado, pode haver piora do quadro e efeitos adversos”, explica. 

Entre as substâncias que merecem atenção redobrada, os corticoides se destacam. Embora possam trazer alívio rápido, são também os mais danosos quando usados sem acompanhamento médico. “O corticoide pode elevar a pressão intraocular e esmagar o nervo óptico, provocando perda de campo visual. Sem medir a pressão do olho, como faria o oftalmologista, essa alteração passa despercebida e evolui silenciosamente”, afirma a especialista. Além desse impacto, o uso prolongado favorece o desenvolvimento precoce de catarata, tanto em colírios quanto por via oral. 

Outro ponto crítico é que determinados sinais não devem ser “camuflados” pelo uso inadequado de medicamentos. A hiperemia — o famoso olho vermelho — é um indicativo importante e auxilia no diagnóstico. “A intensidade da vermelhidão orienta a conduta médica conforme a evolução da alteração. Quando a pessoa tenta resolver sozinha, mascara informações essenciais para um tratamento seguro”, reforça a médica. 

Antibióticos oculares também aparecem entre os produtos usados de forma precipitada. A Dra. Elba explica que seu uso sem necessidade compromete a flora natural da conjuntiva e do filme lacrimal, que são fundamentais para a defesa do olho. “Aplicar antibiótico sem haver secreção purulenta não só é desnecessário como contribui para resistência bacteriana. Na próxima infecção, a mesma cepa pode não responder à medicação”, alerta. 

A especialista aponta ainda mitos enraizados no imaginário popular. Um dos mais frequentes é acreditar que o colírio que sobrou de outra pessoa serve para qualquer situação semelhante. “Cada paciente precisa de avaliação individual. O que funciona para alguém pode ser totalmente inadequado para uma segunda pessoa”, observa. Outro equívoco recorrente é associar todo olho vermelho à conjuntivite contagiosa, quando muitos quadros, como a conjuntivite alérgica, não oferecem risco de transmissão. 

Em alguns cenários, a procura imediata pelo oftalmologista é indispensável. “Dor ocular, queda súbita da visão e secreção purulenta são emergências. Nesses casos, obter o diagnóstico rápido é crucial para evitar danos permanentes”, destaca a médica. O uso incorreto de colírios pode inclusive agravar doenças preexistentes: “Um exemplo clássico é aplicar corticoide sem saber que o paciente tem glaucoma. A pressão aumenta e o quadro se complica”. 

Por fim, cuidados básicos com armazenamento e validade também fazem diferença. Compartilhar frascos é totalmente contraindicado. “A ponta do frasco pode tocar a conjuntiva, facilitando a contaminação. Além disso, é essencial respeitar o prazo após a abertura: muitos produtos duram até 30 dias; outros, sem conservantes, têm validade menor; já medicamentos como a latanoprosta exigem refrigeração antes do uso e se mantêm estáveis por até 60 dias fora da geladeira”, orienta. A recomendação final é simples: “Verifique sempre as instruções na embalagem”. 

Com sintomas aparentemente banais e soluções que parecem inofensivas, a saúde ocular acaba sendo colocada em risco por falta de orientação. “Diante de qualquer alteração, a consulta com um especialista continua sendo o caminho mais seguro para preservar a visão”, finaliza a Dra. Elba Ferrão, oftalmologista do IOBH – Instituto de Olhos de Belo Horizonte.

 

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