De acordo com a psicanalista Tássia Borges, “saber de si pode fazer com que a pessoa consiga compreender que está numa relação tóxica para sair dela
Nas comédias românticas e nos contos de fadas, o “príncipe” e a “princesa” beiram a perfeição: são repletos de virtudes, amam incondicionalmente, aparecem sempre que é necessário e vivem em prol da pessoa amada, adivinhando até seus pensamentos e desejos. É por isto que, mesmo na “vida real”, há quem sonhe e busque este par perfeito!
No entanto, sabemos que, na realidade, não é
assim que as coisas acontecem. “O outro, assim como nós, nunca será uma metade
que nos completa. Cada um terá suas faltas, desejos e impossibilidades que, em
nada, impedem que o amor aconteça”, explica a psicanalista Tássia Borges. “O
problema é quando um deixa de existir: pode ser indício de que aquela relação é
tóxica”.
Numa relação tóxica, seja de forma explícita ou
subliminar, um quer ter poder sobre o outro. Como estratégias, usa a dúvida,
mina a autoestima e o pensamento crítico daquele que acredita que ama. “Há uma
psicanalista chamada Joan Riviere que disse que amor pelo poder é uma forma
disfarçada de ódio, pois o outro não importa”, cita Tássia. “Quem age assim,
acredita que a obediência a si é demonstração de amor, ou seja, é assim que
esta pessoa se sente amada”.
Sinais – Um dos
sinais clássicos de uma relação tóxica é fazer uso da dúvida. “É aquela pessoa
que vai sempre afirmar que o outro entendeu errado o que ele disse, que não diz
nada de forma clara de maneira proposital para alimentar a confusão e chega a
até a chamar o parceiro ou a parceira de loucos”, detalha a psicanalista. “O
alvo desta forma de desestabilização pode ir perdendo a noção de si,
tornando-se ainda mais vulnerável”.
Também de forma sutil ou escancarada, outra
estratégia é afetar a autoestima. São comuns falas como “ainda bem que você tem
a mim”, “quem vai lhe querer assim” e até mesmo comentários relativos à
aparência, idade ou aspectos profissionais e financeiros.
“Neste jogo de poder, há ainda a vitimização, o
uso de doenças ou dos filhos como argumentos para manter o aprisionamento e até
o dinheiro”, completa a especialista.
Por que é difícil reconhecer ou sair de uma
relação tóxica - O perigo de uma relação tóxica é quando os sinais acima
citados acontecem de uma forma sutil. “Ela pode ser facilmente confundida com
cuidado. O manipulador, aquele que exerce um poder sobre o outro, nem sempre é
rude, impositivo, grosseiro ou violento. Pode estar “escondido” sob uma pessoa
socialmente aceita e até admirada”, alerta Tássia.
E mesmo quem reconhece que está numa relação
tóxica, especialmente as mulheres, pode ter dificuldades de sair dela por
inúmeras razões. Segundo a psicanalista, as mais comuns são o medo da solidão,
pensamentos como “ruim com ele, pior sem ele”, não querer sair de uma falsa
zona de conforto e dificuldade de abrir mão de um status social ou financeiro
apesar da infelicidade.
Para sair de uma relação tóxica, é preciso
conscientizar-se sobre o que é, de fato, o amor para si. “Todos nós queremos
ser amados. Mas amor é também liberdade. Neste sentido, vale refletir: eu me sinto
livre? Posso falar e fazer o que eu quero sem que o parceiro ou a parceira
precise aprovar e determinar o certo e o errado? Ou sofrerei retaliação?”,
adverte a psicanalista.
“Essencial também é a pessoa saber de si, ou
seja, quem é, conhecer sua história, o que gosta e o que não gosta, seu limite
emocional e, principalmente, responsabilizar-se pela própria vida”, reforça
Tássia. “Só assim será possível sair do lugar de objeto e assumir o papel de
sujeito em toda e qualquer situação ou relacionamento”.
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