Doença com nome que remete a um momento de tristeza pode ser ocasionada até por episódios de felicidade e grandes emoções, como o início ou a ruptura de um relacionamento afetivo
Com a aproximação do Dia dos Namorados é comum refletirmos nos impactos que as emoções causam na saúde. Tal exemplo relaciona-se à constatação de um estudo recente que mostra que a chamada síndrome do coração partido (cardiomiopatia de Takotsubo) está presente entre 1 a 3 de 100 pacientes atendidos com suspeita de infarto agudo do miocárdio. No Rio de Janeiro, a pesquisa Nacional REMUTA (Registro Multicêntrico de Takotsubo), que avaliou 169 pacientes, no período de 2010 a 2017, encontrou uma idade média de 70 anos, com as mulheres na grande maioria dos casos (90%). O problema de saúde tem um nome que se relaciona a males relativos à emoção, o que não está de todo errado, mas que representa impactos nas condições cardíacas.
Claudio Tinoco Mesquita,
coordenador do serviço de Medicina Nuclear do Hospital Pró-Cardíaco, em
Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, explica mais sobre o problema, que tem
tratamento, mas exige atenção. A síndrome do coração partido, embora não
tão comum, é uma doença, que causa dor no peito, falta de ar e cansaço -
sintomas bem semelhantes aos de um infarto agudo do miocárdio, que poderão
surgir após períodos de estresse emocional. No registro realizado no Rio
de Janeiro foi encontrada uma mortalidade de 10%, o que não é muito distante da
mortalidade do infarto em pessoas com esta faixa etária.
“Situações de
tristeza, luto e até surpresas felizes, como ganhar um prêmio de loteria, por
exemplo, podem acarretar na síndrome do coração partido. Os exames de
diagnóstico desse problema indicam que o órgão tem alterações na sua contração,
a exemplo do que ocorre exatamente o infarto do miocárdio. Em exames de imagens
o órgão apresenta uma redução na sua contratilidade geralmente na sua porção
mais apical”, explica Claudio Tinoco Mesquita. Os estudos
mais atuais mostraram que a o Takotsubo está ligado a alterações na
microcirculação, desencadeadas pela torrente de hormônios do estresse e ansiedade,
que são liberados em situações específicos como durante o luto ou emoção forte,
incluindo emoções positivas como ganhar na loteria.
Tinoco recomenda
que sinais, como esses, não sejam descartados pelas pessoas e que um serviço de
saúde seja procurado, logo que os primeiros sintomas se apresentem. Dados de
estudos prévios, a exemplo de um trabalho da Universidade de Gothenburg, na
Suécia, apontaram que o estresse de duração prolongada também é serve de
gatilho para o desenvolvimento da Síndrome do Coração Partido.
“A situação
deixa o indivíduo vulnerável a quadros de ansiedade aguda, como as que estamos
vivenciando diante do alto volume de tarefas, especialmente nas grandes
cidades. Estratégias que ajudem são fundamentais, como exercícios físicos
regulares, diminuição da leitura continuada de notícias tristes, porém sem
deixar de se informar. Além disso, fazer atividades prazerosas podem ajudar”,
informa o especialista.
“Nosso
objetivo é determinar as características associadas ao maior risco de
desenvolvimento da Síndrome do Coração Partido, como a presença de transtornos
mentais e o grau de resiliência ao estresse, importantes na melhor compreensão
e prevenção desta condição clínica”, pondera Tinoco.
Outros sinais
como tonturas, vômitos, perda de apetite e dor no estômago também podem estar
relacionados à síndrome que, no Brasil, começou a ser investigada pela
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e vem chamando a atenção de
profissionais especializados na área.
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