Mais do que uma data, o Dia dos Pais é marcado por memórias diversas quase sempre ligadas à infância. Seja por momentos vividos ou palavras ditas: o desenvolvimento infantil é diretamente impactado pelas condições impostas pelo ambiente e seus genitores ainda nos primeiros anos de vida.
Mas
antes de entender o impacto da paternidade no desenvolvimento cognitivo dos
filhos, precisamos entender o peso das emoções na formação intelectual do ser
humano.
A
emoção no desenvolvimento cognitivo
A
neurocientista do SUPERA – Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci, explica que
uma emoção é um conjunto de respostas químicas e neurais que surgem quando o
cérebro recebe um estímulo externo, seja ele bom ou ruim. Quando o ambiente
doméstico é “seguro”, se mantêm ativos os mecanismos inibitórios que
controlam as respostas de luta-fuga. Nessa situação, as vias neurais ativadas
preparam os músculos da face e da cabeça, o coração, a circulação, os pulmões e
todos os mecanismos fisiológicos para o contato social. Neste contexto, os
processos mentais de atenção, raciocínio e concentração estão livres para
funcionar”, lembrou.
Já
se o ambiente é de alguma forma ameaçador, uma área cerebral chamada amígdala
vai iniciar um processo excitatório sobre outras regiões, produzindo respostas
de luta ou fuga. “Tais respostas podem envolver aumento da frequência cardíaca
e da pressão arterial; ou podem envolver uma “paralisação”, com diminuição dos
batimentos e queda da pressão arterial, dentre outros muitos efeitos no
corpo. Uma pessoa nesse momento foca apenas no comportamento de reação,
não se motivará a aprender e terá dificuldade para socializar”, detalhou.
Na
maior parte das vezes, os pais estão tentando dar aos seus filhos o que não
tiveram a oportunidade de ter ou o que consideram o melhor dentro das condições
que tem no momento.
Embora
a intenção dos genitores quase sempre seja positiva, nem sempre a emoção é
levada em consideração no processo de assimilação da criança e seu processo de
desenvolvimento.
A
neurocientista do SUPERA explica ainda que a neurociência já mostrou que os
processos cognitivos e emocionais estão profundamente ligados. O neurocientista
António Damásio argumenta que a emoção é parte integrante do processo de
raciocínio e o auxilia em vez de atrapalhá-lo, como se costumava pensar antes.
Por
que a emoção é importante para o cérebro dos filhos?
A
especialista explica também que a emoção afeta o processo de retenção das
informações e a memória é altamente dependente do significado que atribuímos às
coisas e acontecimentos.
A
atenção é fundamental para aprender, sendo que a atenção é potencializada pela
motivação - e a motivação é emocional!
“Assim,
sabemos que as áreas cerebrais envolvidas no controle motivacional, na cognição
e na memória fazem conexões com diversos circuitos nervosos dos sistemas
emocionais, tudo funciona junto”, detalhou.
Como
questões emocionais afetam o entendimento do mundo?
Você
já entendeu que o campo afetivo inclui as emoções, sentimentos e paixões, que
juntos mostram como o ambiente nos afeta, ou seja, os acontecimentos à nossa
volta estimulam as reações do corpo e a atividade mental, influenciando a
capacidade de aprender por meio da motivação.
Assim
como não aprendemos a beber água sem sede, não aprendemos sem motivação e isso
também toca os estímulos emocionais que recebemos ao longo da vida.
A
motivação é o impulso para a ação em direção a alguma coisa. Nós aprendemos a
direcioná-la para aquilo que queremos alcançar, e só vamos querer alcançar
aquilo que nos dê prazer.
“Aqui
entram em ação os sistemas de recompensa do cérebro. Quando uma criança é
afetada positivamente por algo, ele se interessa e se abre não apenas para
entender o mundo como também para receber melhor as informações, o que também
inclui o aprendizado como nós conhecemos”, detalhou.
Como
melhorar isso?
A
ciência e psicologia já sabem que o processo de melhoria do que entendemos como
paternidade, em todos os seus níveis, está em constante evolução.
No
entanto, um ambiente seguro para tentar e errar e a abertura ao diálogo
facilitam este processo.
“Não
há uma receita para o acolhimento perfeito e os pais enfrentam diariamente
inúmeros desafios, mas a maior preocupação deve ser criar um clima de segurança
afetiva, só assim as emoções vão abrir caminho para o aspecto intelectual”,
lembrou a especialista.
Como
melhorar a relação paterna em prol do desenvolvimento cognitivo?
Sabendo
que os sentimentos positivos ou negativos interferem nos processos mentais mais
complexos, como a tomada de decisão e o controle dos comportamentos, o foco
deve ser na aceitação das diferenças e limitações de cada um.
Estratégias
e ferramentas para interação entre pais e filhos são bem-vindas para fortalecer
o afeto e a inspiração. “A disciplina é necessária e muito importante no
processo de criação dos pais, mas é importante lembrar que rotinas que dão
margem para o clima de ameaça, opressão, vexame ou de desvalorização do esforço
pessoal fazem o sistema límbico, situado no meio do cérebro, bloquear o funcionamento
das funções cognitivas de integração que permitem a resolução de problemas”,
concluiu.
Neste
Dia dos Pais, aproveite para rever as relações familiares. Confira algumas
dicas que podem ajudar:
· Busque
melhorar as conexões emocionais com transparência e amor, levando em conta as
referências que fazem sentido para a geração dos seus filhos;
· Provoque
avaliações colaborativas, favorecendo mais a discussão e construção de
conceitos do que as respostas certas, como por exemplo, fazendo perguntas às
crianças, ouvindo as respostas e explorando seu jeito de pensar;
· Inclua a possibilidade de cometer erros e aprender com eles,
use estratégias que valorizem o erro como forma de aprendizado.
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