Desemprego e fim do auxílio emergencial fazem famílias procurarem por alternativas para colocar as contas em dia
Para os brasileiros, o começo do ano é sempre carregado de muitas contas e dívidas – que geralmente são pendências do ano anterior. IPTU, IPVA, material escolar, seguro do carro, despesas fixas, compras do mês e parcela do apartamento são exemplos que assustam a população. Em um cenário ainda pandêmico, a preocupação que surge é sobre como quitar as dívidas, visto que a economia do país ainda não foi restabelecida.
Nos
dois últimos anos, a possibilidade de empréstimo passou a ser cogitada cada vez
mais pelas pessoas físicas. Segundo o Índice
FinanZero de Empréstimo (IFE), que analisou 6,62 milhões de
usuários da fintech, o número de pedidos de empréstimo teve um aumento de 71%
em dezembro de 2021, quando comparado ao mesmo período de 2020. Neste mesmo
mês, o valor médio de empréstimo solicitado foi de R$6.791, resultando em mais
de 6,6% a mais do que a média registrada em dezembro do ano anterior.
Ainda
de acordo com dados do IFE, com o objetivo de quitar as
dívidas, o perfil médio de quem faz o pedido de empréstimo é composto por 53%
de homens, na faixa de 35 anos e moradores da região Sudeste. Para Cadu Guidi,
sócio-diretor de marketing da FinanZero, além da quitação de dívidas, o pedido
de empréstimo está altamente relacionado ao desemprego. “Sem uma renda fixa, as
famílias se veem endividadas e com a pouca verba que possuem comprometida. O
aumento do custo de itens básicos para sobrevivência também é reflexo desses
pedidos de empréstimo. Em contrapartida, ao longo do ano passado, foi possível
observar o acréscimo de solicitações para abrir o próprio negócio e investir em
viagens”, comenta.
Desemprego e fim do auxílio emergencial estão entre as justificativas para o aumento de pedidos de empréstimo
Com
base na Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor
(Peic), o percentual de famílias brasileiras com dívidas chegou a 74,6% em
outubro de 2021. O número reflete as consequências econômicas da pandemia, o
aumento do desemprego (12,1%, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
e as altas taxas de inflação que atingiram a população brasileira no ano
passado. Após esse aumento, a informalidade também cresceu e o poder de consumo
foi reduzido.
Além
do desemprego, outro fator que também atingiu a população brasileira foi o fim
do auxílio emergencial, um programa desenvolvido pelo Governo Federal
brasileiro que oferecia renda mínima aos mais vulneráveis durante a pandemia de
COVID-19. Com o fim das parcelas, as famílias que já estavam desempregadas, ou
com o salário reduzido, foram impactadas e recorreram a outras possibilidades,
como o empréstimo, já que, com o fim do programa, 22 milhões de pessoas ficaram
sem o benefício, segundo uma pesquisa feita pelo Ministério da Cidadania.
Falta
de educação financeira impacta no endividamento
O
aumento no número de pedidos de empréstimo também está atrelado à falta de
educação financeira que atinge uma grande parcela da população. Por falta de
alternativas e acesso a créditos ou garantias, muitos acabam entrando em um
processo de parcelas que tendencionam o endividamento e a inadimplência.
Um
exemplo de causas de endividamento pode ser observado na utilização de créditos
como cheque especial e cartões de crédito (limites altos). A utilização desses
meios, sem conhecimento sobre educação financeira e possibilidades de juros
melhores, leva a pessoa física a um problema que tende a piorar ao longo do
tempo.
Cadu
Guidi acredita que no Brasil, a falta de conhecimento sobre educação financeira
é um problema que sempre esteve presente. “Em muitos casos, o
endividamento está diretamente associado à falta de planejamento e organização
das finanças. É preciso estudar as possibilidades e fazer uso consciente dos
créditos disponíveis, tendo cautela com linhas que apresentam juros excessivos.
O cheque especial, por exemplo, possui juros cumulativos e aumenta o risco de
inadimplência”, diz.
Para
quitação de dívidas, 44,4% dos brasileiros pretendem solicitar empréstimo no
primeiro trimestre de 2022
Com
a intenção de entender a possibilidade de solicitação de empréstimo por parte
dos brasileiros, o Índice FinanZero de Empréstimos
também realizou uma pesquisa de intenção com 500 internautas, entre os dias 27
de dezembro e 3 de janeiro deste ano. De acordo com o levantamento, 42% dos
entrevistados disseram desejar tomar crédito para os próximos três meses.
O
levantamento também apontou que o principal motivo para a solicitação de
créditos permanece sendo a quitação de dívidas (44,4%), seguido de pedidos para
renovação da casa (26,17%) e negócio próprio (24,77%). Mesmo diante da crise
econômica, outro motivo que também apresentou aumento, foi a intenção de tomada
de crédito para investimentos (22,43%), que atingiu o maior patamar nos últimos
seis meses e supõe, consequentemente, uma alta no número de pequenos e médios
empreendedores.
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