Dispositivos
eletrônicos têm atraído principalmente adolescentes e traz diversos riscos à
saúde. Fumo é o principal responsável pelo surgimento de tumor pulmonar, tipo
que mais mata em todo o mundo.
A Lei 17.960,
sancionada pelo governador Camilo Santana, proíbe o uso de vape, e-cigarro,
e-cig, e-cigarette ou "qualquer outro dispositivo eletrônico para
fumar", tanto em ambientes públicos como privados, nos 184 municípios do
Ceará.
A medida foi
acrescentada à Lei nº 14.436, de 25 de agosto de 2009, no qual já era barrado o
uso do cigarro tradicional, cigarrilhas, charutos, cachimbos e outros produtos
"derivados ou não do tabaco" nos ambientes coletivos e privados.
Porém, vale lembrar
que o fumo é liberado em "locais abertos ao ar livre" e áreas
exclusivas em ambientes coletivos, desde que a região seja delimitada através
de barreira física e tenha alternativas para a exaustão do ar.
Atualmente, cerca de
10% da população brasileira acima de 18 anos é tabagista, segundo o Instituto
Nacional de Câncer (IBGE). O número representa um avanço em relação há 20 anos,
quando esse percentual era o dobro, mas o vício ainda atinge mais de 20 milhões
de brasileiros. E conforme as políticas públicas de prevenção avançam, novos
desafios também se apresentam. O cigarro eletrônico é um dos principais deles.
Segundo o Ibope
Inteligência, o número de pessoas que usam cigarro eletrônico no Brasil, em
apenas um ano, dobrou, saltando de 0,3% da população para 0,6%. São cerca de
600 mil usuários brasileiros da tecnologia que, dizem os especialistas, é capaz
de causar tanto dano físico e psicológico quanto o cigarro tradicional.
"Como não há
regulação em relação ao cigarro eletrônico no país, não sabemos o que as
pessoas estão aspirando. Outro importante ponto é que esse tipo de vício tem
atraído principalmente os adolescentes, pelo formato, pela novidade e pela
falta de informação também sobre o impacto nocivo deles. Os produtores investem
em um design moderno, com cara de aparelho eletrônico, para atrair essa geração
que, até então, já tinha quase que abandonado o cigarro", explica Clarissa
Mathias, oncologista do Grupo Oncoclínicas.
A pandemia da Covid-19
vem deixando os especialistas em estado de alerta. Ansiedade, solidão provocada
pelo isolamento social e o medo da doença têm levado os tabagistas a
descontarem os sentimentos de incerteza no cigarro. Segundo pesquisa da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os tabagistas aumentaram o número de cigarros
consumidos diariamente em até 40%. E isso também pode estar acontecendo com os
consumidores de cigarro eletrônico, acreditam especialistas.
"Não temos como
saber quais serão as consequências do consumo desse tipo de cigarro a médio e
longo prazos. Teremos que esperar talvez 20 anos para medir isso, o que pode
ter consequências para toda uma geração, já muito afetada por um evento de
grande proporção, que foi a pandemia, que deixou muita gente mais ansiosa e
mais angustiada e que pode buscar esse hábito como válvula de escape",
ressalta Clarissa.
O dispositivo vaporiza
um líquido que contém uma grande quantidade de nicotina e, embora não existam
ainda estudos definitivos que indiquem o impacto no desenvolvimento de
cânceres, os dispositivos eletrônicos possuem sim elementos que podem ser
altamente prejudiciais, mesmo não contendo tabaco em sua composição. O
crescimento desse consumo pode representar um retrocesso para o Brasil, que é
reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um exemplo no combate
ao tabagismo.
"A nicotina pode
ser consumida com combustão e produção de fumaça - caso de cigarros, charuto,
narguilé - ou sem combustão e produção de fumaça, como acontece em situações de
uso de rapé e cigarros eletrônicos sem tabaco ou com tabaco modificado para ser
aquecido. Por isso devemos estar atentos ao estímulo da conscientização dos
riscos de todo e qualquer tipo de fumo", comenta o oncologista Carlos Gil
Ferreira, líder de tumores torácicos do Grupo Oncoclínicas e Presidente do
Instituto Oncoclínicas.
Tabagismo ainda é a
principal causa de câncer
O tabagismo continua
sendo o maior responsável pelo câncer de pulmão em todo o mundo. Aliás, não
apenas deste tipo de tumor: em 2017, conforme dados do INCA, 73.500 pessoas
foram diagnosticadas com algum tipo de câncer provocado pelo tabagismo no país
e 428 pessoas morrem diariamente no país por conta dele. A entidade aponta
ainda que mais de 156 mil mortes poderiam ser evitadas anualmente se o tabaco
fosse evitado.
Em 79% dos casos de
câncer de pulmão, por exemplo, os pacientes eram fumantes, ou ex-fumantes.
Apenas 21% nunca tiveram contato com o tabaco. "Todo ano, cerca de dois
milhões de pessoas são diagnosticadas com câncer de pulmão ao redor do globo. E
quem fuma tem de 20 a 30 vezes mais chances de desenvolver esse tipo de tumor.
Isso porque as substâncias químicas presentes no cigarro danificam e provocam
mutações no DNA das células pulmonares, fazendo com que deixem de ser saudáveis
e se transformem em células malignas",
diz Carlos Gil Ferreira.
O hábito de fumar
também contribui para o aumento no risco de ocorrência de ao menos outros 12
tipos de câncer: bexiga, pâncreas, fígado, do colo do útero, esôfago, rim e
ureter, laringe (cordas vocais), na cavidade oral (boca), faringe (pescoço),
estômago e cólon, leucemia mielóide aguda. Adicionalmente, o tabagismo é um dos
hábitos relacionados a formas mais graves de infecção pelo novo coronavírus.
Novos hábitos
"Parar de fumar
não é um ato isolado na vida. A sensação de perda é muito grande, e o fumante
deve encarar a cessação como uma oportunidade de fazer um balanço e modificar
seus hábitos e estilo de vida. Para vencer a dependência psíquica, a
dependência física e os condicionamentos é preciso ter muita força de vontade e
contar com o apoio de profissionais de saúde, amigos e familiares. A partir
desta mobilização, temos o objetivo de incentivar esse movimento em prol da
saúde e da vida", finaliza Clarissa Mathias.
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