Em alusão ao Dia Nacional de Combate à
Sífilis e à Sífilis Congênita, celebrado no terceiro sábado do mês de outubro,
a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida faz um alerta para os efeitos da
doença, que podem afetar a saúde sexual e reprodutiva feminina.
O último Boletim Epidemiológico de Sífilis,
publicado pelo Ministério da Saúde (MS), aponta o aumento no número de casos da
doença no Brasil em todos os cenários da infecção. O levantamento também revela
que 90% das pacientes que têm sífilis adquiriram a doença por meio da relação
desprotegida. Considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST), a
sífilis é provocada pela bactéria Treponema pallidum, transmitida
principalmente por via sexual.
De acordo com a ginecologista e obstetra
creditada pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) Mylena Naves
de Castro Rocha, o descuido das pessoas com as formas de prevenção é considerado
o principal motivo para o aumento do problema nos últimos anos. “Entre os
fatores que podem ter impactado nessas estatísticas, eu destaco o fato de a
nova geração ter parado de se preocupar com a doença, aliado ao fato de o sexo
desprotegido ter se tornado mais frequente em casais em idade reprodutiva, além
da falta de disponibilidade de penicilina benzatina (Benzetacil) em hospitais,
principalmente no SUS”, aponta a médica, que também é especialista em
reprodução assistida pela Universidade Paris XI Clamart-France.
Segundo Mylena, em mulheres que não estão
gestantes, a sífilis pode apresentar vários sintomas clínicos em curto, médio e
longo prazo e a falta de tratamento na fase inicial pode evoluir para a forma
mais grave da doença, a sífilis terciária - inclusive com lesões neurológicas.
“Por esse motivo, minha recomendação é de que, assim que a doença for
diagnosticada, a paciente inicie o tratamento antes de qualquer tentativa de
gravidez, para que isso impossibilite diagnósticos tardios e complicações ao
binômio mãe-feto”, ressalta.
Perigos para o bebê – Contraída mediante sexo oral, anal ou
vaginal sem o uso da camisinha, a sífilis, assim como as demais ISTs, pode ser
passada de mãe para filho durante gestação ou parto. Dessa forma, quando a
mulher grávida adquire a bactéria responsável pela doença, o bebê adquire a
chamada sífilis congênita, cuja incidência também tem aumentado nos últimos
anos, segundo o Ministério da Saúde.
Em comparação ao ano de 2016, observou-se
aumento de 28,5% na taxa de detecção em gestantes, 16,4% na incidência de
sífilis congênita e 31,8% na incidência de sífilis adquirida. “A ocorrência de
sífilis durante a gravidez pode provocar graves efeitos para o feto – tais como
abortos, óbitos fetais e neonatais –, além de provocar o nascimento de bebês
com sequelas diversas, as quais poderão se manifestar até os 2 anos de vida”,
explica.
A médica também ressalta que alguns fetos que
têm contato com essa bactéria dentro da barriga da mãe e sobrevivem podem
desenvolver malformações cerebrais (a exemplo de microcefalia), alterações
ósseas, cegueira e lábio leporino.
Diagnóstico – Estima-se que mais de 70% das crianças
infectadas são assintomáticas ao nascimento, sendo de fundamental importância o
rastreamento na gestante. “O acompanhamento ecográfico e as consultas
periódicas no obstetra durante a gravidez são essenciais para o acompanhamento
da gestação, trazendo menores consequências materno-fetais”, afirma a ginecologista.
A especialista lembra que a transmissão da
doença será maior quanto mais avançada for a gestação, já que a permeabilidade
da barreira placentária aumenta com a idade gestacional. “Caso a infecção se dê
no fim da gravidez e não seja tratada, o bebê estará mais propenso a nascer com
icterícia ou mesmo com hepatite”, reforça Mylena.
Além da possível gravidez não planejada, a
falta de prevenção aumenta o risco de propagação das ISTs, responsáveis por 25%
das causas de infertilidade, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS). No caso específico da sífilis, a ginecologista explica que a doença não
tem relação direta com esse quadro, porém outras ISTs podem trazer
consequências maiores para a fertilidade como a obstrução de trompas – através
da infecção por clamídia – e alteração seminal – infecção por gonorreia.
Já em relação aos prejuízos que a infecção
por sífilis pode trazer para os tratamentos de reprodução assistida, a médica
ressalta que a preocupação existe e deve ser investigada frente ao diagnóstico
em mulheres em idade reprodutiva, principalmente pelo risco de termos outras
ISTs associadas à doença. “É preciso realizar exames para rastrear as ISTs,
incluindo a sífilis, antes de dar início aos tratamentos, evitando maiores
complicações na futura gestação”, diz. “As sorologias são fundamentais e
obrigatórias para o controle de qualidade do laboratório, onde a segurança para
o armazenamento de gametas e embriões é prioridade”, completa a especialista.
Tratamento e prevenção – O tratamento da sífilis deve ser realizado
com penicilina, já que não existe evidência de que nenhuma outra droga consiga
tratar adequadamente o feto intraútero. “As doses de penicilina recomendadas
são definidas a partir do diagnóstico de infecção recente ou tardia”, finaliza.
A médica também reforça algumas recomendações
importantes que devem ser seguidas pelas pacientes:
● É fundamental que todos os exames sorológicos
estejam bem para que os casais estejam aptos a iniciar as tentativas de
engravidar.
● Mesmo sem desejo de gestar imediato, as
mulheres devem cuidar da sua saúde reprodutiva.
● A educação sexual é primordial para evitar complicações futuras para essas
mulheres.
● Uso
de preservativos em relações sexuais por mulheres sem parceiro fixo será sempre
uma boa medida de prevenção e cuidado com o corpo.
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