No Brasil, integram a Glopid-R o Instituto Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz e a FAPESP, que sediou o encontro (foto: Felipe Maeda/Agência FAPESP) |
Nona assembleia geral da Global Research Collaboration for Infectious Disease Preparedness – entidade que reúne agências de fomento e órgãos governamentais de diversos países – foi realizada na sede da FAPESP nos dias 24 e 25 de outubro
A Global Research Collaboration
for Infectious Disease Preparedness (Glopid-R) reúne instituições financiadoras
que investem em pesquisas relacionadas com doenças infecciosas novas ou
reemergentes, tendo por objetivo preparar as sociedades e acelerar a resposta a
surtos com potencial pandêmico. Os membros são agências nacionais de
financiamento à ciência, institutos de pesquisa acadêmica e organizações
filantrópicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma das entidades globais
que participam como observadora. No Brasil, integram a Glopid-R o Instituto
Butantan, em São Paulo, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, e
a FAPESP, que sediou, nos dias 24 e 25 de outubro, a nona edição da assembleia geral da
Glopid-R.
A abertura do evento teve a
participação de Charu Kaushic, diretora científica do Instituto de Infecção e
Imunidade dos Institutos Canadenses de Pesquisa em Saúde (CIHR) e presidente da
Glopid-R; de Esper Kallás,
diretor do Instituto Butantan; de Marco Aurélio Krieger, vice-presidente da
Fiocruz; e de Niels Olsen Saraiva Câmara,
assessor científico da FAPESP, representando o diretor científico Marcio de Castro.
Kaushic lembrou que, em 2020,
mais de US$ 5 bilhões foram investidos no financiamento de pesquisas voltadas
ao combate da pandemia de COVID-19. No total, foram mais de 15 mil auxílios.
Mas esse enorme aporte de recursos ficou quase todo no chamado Norte Global,
beneficiando primariamente os países mais desenvolvidos. Em 2021, já no segundo
ano da crise sanitária, houve uma inflexão, agregando o Sul Global. “Foi nesse
contexto que surgiu nosso primeiro hub regional, visando
melhorar a eficácia das respostas nos países de baixa e média rendas da Ásia e
do Pacífico”, afirmou.
A Glopid-R dispõe atualmente de
duas articulações regionais: uma na Ásia e outra na África. Esses hubs atendem
à necessidade de conectar as agências de fomento com instituições
governamentais e da sociedade, visando a prontidão e a eficácia da resposta
diante de novos surtos com potencial epidêmico ou pandêmico. Um dos grandes
saldos da nona assembleia geral foi a forte recomendação para a constituição de
um hub latino-americano. “Mais do que isso: iniciamos a
discussão para constituirmos esse hub em parceria com o
Instituto Adolfo Lutz. A ideia é aglutinar outras organizações regionais e
nacionais”, disse Reinaldo Salomão, professor da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e um dos principais organizadores
do evento, no qual representou a FAPESP.
Pela primeira vez, uma
assembleia geral da Glopid-R incluiu sessões abertas ao público, possibilitando
o intercâmbio dos integrantes da colaboração com dirigentes de instituições
regionais, pesquisadores e estudantes de pós-graduação.
A primeira sessão aberta tratou
do tema “Beyond COVID: How to address future endemic and emerging infectious
disease outbreaks?” (Para além da COVID: Como abordar futuros surtos de doenças
infecciosas endêmicas e emergentes?) e foi conduzida por Kaushic e Mariângela
Simão, ex-diretora-geral adjunta da OMS para Acesso a Medicamentos e Produtos
Farmacêuticos e diretora-presidente do Instituto Todos pela Saúde (ITpS). E
teve a participação de Patricia Garcia, da Universidad Peruana Cayetano
Heredia; de Michael Makanga, da The European and Developing Countries Clinical
Trials Partnership; de Ester Sabino, da Universidade de São Paulo (USP); Ana
Maria Henao-Restrepo, da Organização Mundial da Saúde; Esper Kallás, do
Instituto Butantan; e Manoel Barral Netto, da Fiocruz/Bahia.
Garcia enfatizou que, durante a
pandemia de COVID-19, apenas 5,5% dos fundos de pesquisa foram direcionados
para os países de baixa ou média rendas. “Isso ocorreu não apenas na África e
parte da Ásia, mas também na América Latina, com exceção do Brasil”, disse. E
apontou a necessidade de “pesquisas de impacto específicas que informem a
política local, a estratégia e o acesso à inovação em futuras pandemias”.
Destacando a alta
vulnerabilidade dos países africanos, Makanga afirmou que a Assembleia Mundial
da Saúde (AMS), órgão decisório da Organização Mundial da Saúde (OMS), deveria
adotar uma “estratégia global de dez anos para reforçar a capacidade de
pesquisa e desenvolvimento e a capacidade de produção, também de vacinas, em
todas as regiões do globo, inclusive as de baixa renda”.
Com foco na preparação para
novos surtos prestes a acontecer, Sabino mencionou iniciativas positivas, como
a Rede Colaborativa de Sequenciamento Genético no Brasil (Rede SEQV Br),
afirmando que existe já uma capacidade de pesquisa instalada na maioria dos
Estados brasileiros. E ressaltou que “o sequenciamento do genoma em tempo real
deve ser integrado a dados epidemiológicos, clínicos e sorológicos para uma
compreensão abrangente dos patógenos virais”.
Henao-Restrepo, que participou
do evento por videoconferência, falou sobre construir resiliência contra surtos
e pandemias. Descreveu as atividades principais do plano de pesquisa e
desenvolvimento da OMS. E abordou as negociações intergovernamentais, mediadas
pela entidade, com vista a um acordo global para prevenção de pandemias.
Em complemento às apresentações
da primeira sessão, Kallás fez uma exposição panorâmica das atividades
realizadas pelo Instituto Butantan. E Manoel Barral Netto descreveu o Sistema
de Alerta Precoce de Surtos com Potencial de Pandemia (Alert-Early System of
Outbreaks with Pandemic Potential – Aesop), desenvolvido pela Fiocruz/Bahia.
A segunda sessão aberta ao
público tratou do lançamento do roteiro dos financiadores da Glopid-R para a
coordenação de ensaios clínicos (Launch of GloPID-R Funders Living Roadmap for
Clinical Trial Coordination). A sessão foi coordenada por John Amuasi, da
African Coalition for Epidemic Research, Response and Training (Alerrt),
e Alexandre Biasi, do
Hcor.
Alice Norton, da Glopid-R,
descreveu o processo de criação do roadmap, cujos objetivos são:
“apoiar redes e plataformas de ensaios clínicos preparadas para epidemias;
facilitar uma resposta de ensaios clínicos ágil e efetiva; promover um ambiente
de pesquisa equitativo”. E Isabel Foster, também da Glopid-R, falou de sua
implementação.
Vasee Moorthy, da OMS,
apresentou a Resolução 75.8, da Assembleia Mundial da Saúde, que visa “reforçar
os ensaios clínicos para fornecer evidências de alta qualidade sobre
intervenções de saúde e melhorar a qualidade e coordenação da investigação”. E
detalhou as orientações da organização para melhores práticas em ensaios
clínicos.
Katherine Littler, também da
OMS, tratou da priorização ética das pesquisas, baseada em quatro princípios:
“promover valores sociais, atuar eficientemente, respeitar restrições éticas,
seguir processos justos”. Palestras breves sobre a implementação de ensaios
clínicos em diferentes regiões foram feitas por Biasi, do Brasil, Amuasi, de
Gana, e Srinivas Murthy, do Canadá.
Reinaldo Salomão, Elisabeth
Higgs (Institutos Nacionais de Saúde, Estados Unidos), Evelyn Depoortere
(Comissão Europeia) e Yazdan Yazdanpanah (Agência Nacional de Pesquisas
sobre Aids e Hepatites Virais, França) compuseram a última mesa, trazendo o
posicionamento de financiadores-membros da Glopid-R.
A Glopid-R foi criada em
fevereiro de 2013 em Bruxelas, Bélgica, por recomendação de chefes de
organizações internacionais de pesquisa. A pandemia de COVID-19 foi um grande
teste para a colaboração, que respondeu positivamente com a criação dos
primeiros hubs regionais para maior inclusão do Sul Global.
Com base em um sistema rotativo de gestão, o mandato da atual diretoria,
presidida por Charu Kaushic, encerrou-se agora, e a entidade entrou em um
período de transição para a composição do novo corpo diretivo, que deve ser
escolhido até janeiro de 2024.
Reinaldo Salomão assim avalia o
saldo da nona assembleia geral: “Ela fez um balanço do aprendizado da pandemia
de COVID-19 e dos desafios para o enfrentamento de novas emergências sanitárias.
Realizá-la na FAPESP trouxe a oportunidade de expor o tema a nossos
pesquisadores nas sessões abertas ao público, de mostrar as diferentes forças e
potencialidades de nossos pesquisadores e instituições e, maior desafio,
apontou para a clara necessidade de construir, a partir dessa experiência, uma
rede de articulação regional, o hub regional. Estou convencido de
que cooperar e aprender uns com os outros é a melhor forma de preparação para
uma resposta adequada e eficiente a futuras emergências em doenças
infecciosas”.
As sessões abertas da nona
assembleia geral da Glopid-R podem ser assistidas em: www.youtube.com/watch?v=GKnNg3n4Udk.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/financiadores-de-pesquisa-em-saude-definem-diretrizes-para-o-enfrentamento-de-novas-pandemias/50125
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