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sexta-feira, 20 de maio de 2022

Estudo indica que técnica inovadora contra câncer de medula reduz efeitos colaterais e chance de recidiva pós-transplante

Einstein é pioneiro na aplicação da irradiação medular total, método que eleva de 20% a mais de 50% as chances de sucesso do transplante de medula em pacientes idosos, fragilizados e com doença em atividade

 

Um estudo publicado por pesquisadores do Einstein demonstrou os benefícios do uso da irradiação medular total como preparação de pacientes ao transplante de medula óssea, entre eles a redução em até 50% das chances de recidiva naqueles com mais de 60 anos, com doença de mal prognóstico ou ativa e fragilizados por doenças associadas. Publicado pela revista científica da Sociedade Americana de Transplante de Medula Óssea e Terapia Celular (ASTCT, sigla em inglês), o estudo clínico foi conduzido junto com pesquisadores dos Hospitais Universitários de Cleveland, em Ohio, e especialistas de outras quatro instituições de Seattle (Washington), Atlanta (Geórgia) e Columbus (Ohio).

“O principal problema que enfrentamos quando tratamos pacientes com leucemia após o transplante de medula é a recidiva, ou seja, a permanência de células tumorais que podem voltar a crescer e se espalhar no organismo mesmo completando as etapas do tratamento com radioterapia, quimioterapia e cirurgia. Os resultados mostram que aqueles que teriam uma chance de 0% a 20% de sucesso no transplante obtiveram cerca de 50% com a irradiação medular total”, explica Dr. Nelson Hamerschlak, coordenador do Programa de Hematologia e Transplantes de Medula Óssea do Hospital Israelita Albert Einstein.

Considerada menos agressiva em comparação ao método de irradiação de corpo inteiro, a técnica chamada irradiação medular total (Total Marrow Irradiation) ou TMI na sigla em inglês, consiste na aplicação de altas doses de radiação diretamente na medula, penetrando poucos milímetros na pele e atingindo completamente a parte afetada, sem se espalhar a outros órgãos internos, evitando assim diversos efeitos colaterais. Chamada de etapa de condicionamento, a técnica prepara o organismo para a cirurgia que substituirá a medula doente por uma saudável.

Dos 26 pacientes incluídos no protocolo de estudo clínico – dos quais a maior parte foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda –, 19 foram detectados com a doença residual ativa ou mensurável antes do transplante, sendo o grupo crítico ao risco de recidiva. Em um ano após o tratamento com a técnica que combina irradiação medular com o transplante de medula, a sobrevida livre de doença foi de 55% e a sobrevida global foi de 65%.

Na aplicação do método, os pesquisadores começam pela identificação e quantificação de células que sinalizam o câncer em estágio imaturo e com potencial de metástase, conhecidas como blastos. “Para realizar o transplante é preferível que o paciente não tenha nenhuma dessas células, ou seja, a doença residual negativa. Neste estudo chegamos a incluir pacientes detectados com 30% a 40% de células doentes”, afirma Dr. Nelson.

Na sequência, a equipe realiza um planejamento específico e individualizado para cada paciente e o médico indica para o aparelho de radioterapia quais regiões do corpo precisam receber a radiação e em qual dose. A radioterapia é associada a quimioterapia de baixas doses. Após as sessões de radioterapia o paciente passa pelo transplante que substituirá a medula doente por uma saudável e segue em acompanhamento clínico periódico.

 “Esta técnica é considerada um avanço no tratamento de câncer de medula, especialmente em pacientes fragilizados pela idade ou condição de saúde, sendo poucos os centros pelo mundo que estão aptos a aplicarem o método. A partir dos resultados desse estudo o que pretendemos fazer no futuro é comparar as técnicas de irradiação em um estudo clínico de fase dois”, ressalta Dra. Ana Carolina Rezende médica Rádio Oncologista do Serviço de Radioterapia do Hospital Israelita Albert Einstein.

O protocolo, desenvolvido por especialistas dos Hospitais Universitários de Cleveland junto com o Einstein, é considerado uma evolução da irradiação de corpo total (do inglês Total Body Irradiation) ou TBI, técnica que consiste na aplicação de radiação no corpo inteiro para doenças do sangue como leucemias, linfomas e outros tipos de tumores. Embora os resultados demonstrem os benefícios da TMI em relação à baixa toxicidade, por exemplo, a técnica não exclui a aplicação da TBI, uma vez que existam casos em que o câncer não esteja localizado apenas na medula óssea e seja necessário utilizar a irradiação no corpo todo. A irradiação do corpo todo também é fundamental no tratamento de jovens com Leucemia Linfocítica Aguda

“Esse importante resultado se deve à qualidade e dedicação de um time multidisciplinar, composto por profissionais da radiologia, oncologia e hematologia. A realização de estudos como esse e a aplicação de novas técnicas reflete positivamente na assistência e segurança oferecida aos pacientes do nosso centro”, destaca Dr. Sérgio Araújo, diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia Einstein Família Dayan – Daycoval.

Parte do estudo foi apoiada pelo grupo Amigos da Oncologia e Hematologia Einstein (AMIGOH) e o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON), do Ministério da Saúde.


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