Junho Laranja reforça conscientização
sobre principal tipo de tumor hematológico, que a cada ano corresponde a 10 mil
novos casos; Saiba mais sobre os sintomas, diagnóstico e tipos de tratamentos
No calendário da saúde, Junho recebe a cor laranja como símbolo para marcar um
período importante na conscientização sobre uma doença hematológica que,
segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), corresponde ao diagnóstico de
mais de 10 mil brasileiros por ano: a leucemia. Esse tipo de câncer, que afeta
o sangue, faz com que os glóbulos brancos (leucócitos) percam a função de
defesa do organismo e passem a se reproduzir desordenadamente.
Diferentemente de outros tipos de tumores malignos, as leucemias podem afetar
pessoas de diferentes faixas etárias, inclusive sendo comum entre crianças.
Atualmente, a doença lidera a lista de cânceres pediátricos, sendo o
diagnóstico mais comum em 28% dos casos registrados na infância.
"A chamada leucemia linfoide aguda (LLA) é o tipo mais comum em crianças e
jovens. Já entre os adultos, especialmente acima dos 50 anos, temos mais
convencionalmente a incidência de leucemia linfoide crônica (LLC), a leucemia
mieloide crônica (LMC) e a leucemia mieloide aguda (LMA)", explica o
onco-hematologista Jacques Tabacof, do Grupo Oncoclínicas.
Com causas inespecíficas, que não permitem uma orientação mais voltada a
métodos possíveis de prevenção e com sintomas iniciais que em raras vezes podem
ser indicativos mais claros que ajudem na detecção precoce, surgem diversas
dúvidas sobre a doença. Diante das inúmeras questões que surgem sobre as
leucemias, o Dr. Jacques Tabacof esclarece as principais informações sobre a
condição:
Há alguma faixa etária em que a doença é mais comum?
A idade de acometimento varia de acordo com o subtipo de leucemia, que em
linhas gerais, se divide em mielóide e linfóide, de acordo com a célula
afetada. Em ambas as categorias, ela pode ser qualificada com sendo aguda ou
crônica, considerando a velocidade de divisão dessas células e portanto, a
agilidade com a qual a doença se desenvolve.
As Leucemias Agudas podem ocorrer em todas as faixas etárias sendo que a LLA
(Leucemia Linfóide Aguda) tem maior incidência na infância e juventude.
Estima-se que a condição corresponda a 33 de cada 100 diagnósticos em pacientes
de 0 aos 18 anos, segundo dados do INCA. Já a LMA (Leucemia Mielóide Aguda) é o
tipo mais comum de Leucemia em adultos,correspondendo a 80% dos casos neste
grupo. A ocorrência de LMA aumenta com a faixa etária (incidência maior acima
de 65 anos).
Existem formas de prevenção para a doença?
A maioria das pessoas que são diagnosticadas Leucemia Mielóide Aguda (LMA) ou a
Leucemia Linfóide Aguda (LLA) não têm fatores de risco conhecidos e por isso,
não é possível determinar formas de prevenção.
Evitar produtos cancerígenos conhecidos, como o benzeno, podem diminuir o risco
de desenvolver a LMA ou a LLA. No entanto, a exposição a produtos químicos
ocupacionais ou ambientais representa apenas uma pequena fração dos casos de
leucemia. Por isso a vigilância ativa a sinais de que algo não vai bem com a
saúde é sempre o melhor conselho. Quando detectada precocemente, as chances de
sucesso do tratamento são altas e garantem mais qualidade de vida aos
pacientes.
Como é feito o diagnóstico? Existe alguma forma de rastreio preventivo
contínuo para identificação da doença?
Como mencionado, a vigilância ativa da saúde no geral é muito importante para
detectar sinais ou sintomas diferentes do comum.
A leucemia, no entanto, causa alteração nas células sanguíneas que podem ser
observadas por meio do hemograma. O resultado do exame de sangue de uma pessoa
com a doença apresentará diminuição dos glóbulos vermelhos e plaquetas, e
aumento ou diminuição dos glóbulos brancos. Por isso, é importante que o exame
de sangue seja realizado periodicamente como parte da rotina, já que
dificilmente leucemias crônicas apresentam alterações evidentes à saúde.
Entretanto, como outras doenças não malignas também podem ter esse quadro, é
necessário pedir exames complementares para fechar o diagnóstico, como a coleta
de medula óssea para exames específicos (mielograma, biópsia, imunofenotipagem
e cariótipo). Outros estudos complementares também podem ser sugeridos, de
acordo com a subclassificação a ser estabelecida e análise de risco, para que
seja assim definido o tratamento a ser adotado.
Houve algum avanço nas condutas de tratamento nessas duas décadas?
Alternativas de terapias cada vez mais personalizadas e individualizadas fazem
com que o câncer se aproxime cada vez mais de se tornar uma doença considerada
crônica, com benefícios efetivos à qualidade de vida do paciente. No caso dos
tumores hematológicos, a terapia celular chamada de CAR-T Cell também vem
conquistando grande espaço, um avanço que se mostra animador quando nos
referimos a leucemias e linfomas, em especial.
Essa nova opção de tratamento usa células do próprio pacientes geneticamente
modificadas em laboratório para combater o câncer. A estratégia consiste em
habilitar células de defesa do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de
reconhecer o tumor e atacá-lo de forma contínua e específica.
O CAR-T cell é uma combinação de várias tecnologias, envolvendo a terapia
gênica, imunoterapia e terapia celular. Nos Estados Unidos e na Europa já
existem produtos comercialmente disponíveis para leucemia linfóide aguda e
também para casos de linfoma não Hodgkin. O Brasil ainda estuda uma autorização
que regulamenta o uso desse tipo de medicação.
Além dela, algumas alternativas que já faziam parte do nosso arsenal na luta
contra as leucemias, caso da terapia-alvo molecular - medicamentos orais que
atacam apenas as células doentes - e a Imunoterapia, que provoca uma reação do
sistema imunológico para que ele reconheça as células doentes e as ataque, têm
trazido resultados importantes para alguns tipos de leucemia.
E que tipos de alternativas terapêuticas são indicadas no combate à doença?
Para cada tipo de leucemia existem abordagens específicas, mas, em linhas
gerais, a quimioterapia, os transplantes de medula óssea e as terapias-alvo são
as alternativas de tratamento mais adotadas. Transfusões de sangue também podem
ser recomendadas e a radioterapia é usada mais raramente nas leucemias, mas
pode ser indicada antes de transplantes. Além delas, a terapia com células
geneticamente modificadas, imunoterapia e anticorpos bi-específicos compõem o
arsenal de opções.
O transplante de medula óssea, por sua vez, pode ser indicado para alguns casos
de leucemias agudas, após a quimioterapia. O paciente pode receber
células-tronco formadoras do sangue de um doador compatível e em alguns casos,
há como usar células retiradas do cordão umbilical de um doador compatível. É
possível ainda, em determinadas situações, realizar um transplante autólogo, em
que são usadas células-tronco do próprio paciente como alternativa de conduta
terapêutica.
Em quais casos a doação de medula se torna a única alternativa para uma
possível cura da leucemia?
A indicação de transplante irá depender do tipo de leucemia e da resposta
inicial do paciente a outros tratamentos, como quimioterapia, transfusões de
sangue como complemento e a terapia-alvo, que utiliza medicamentos específicos
para as células doentes. Porém, pacientes que não respondem satisfatoriamente a
esse esquema terapêutico podem beneficiar-se com o recurso do transplante de
medula óssea. Mas vale lembrar: cada caso deve ser avaliado de forma
individualizada e a decisão sobre a melhor conduta a ser adotada cabe à equipe
médica e multidisciplinar responsável pela linha de cuidado do paciente.
As manchas roxas são efetivamente aspectos comuns em casos de leucemia? E quais
outros sinais podem servir de alerta para a busca de aconselhamento médico
especializado?
As manchas roxas pelo corpo estão entre os principais sintomas da leucemia e
devem ser investigadas quando surgem sem motivo aparente. Elas são provocadas
pela queda na produção das plaquetas, que são responsáveis pelo processo
inicial da coagulação do sangue.
As leucemias agudas, no entanto, possuem outros sinais que também precisam de
atenção, como palidez, cansaço e sonolência, pequenos pontos vermelhos na pele
e sangramentos mais intensos e prolongados após ferimentos leves.
Febre e infecções constantes resultantes da baixa imunidade também são sintomas
que devem ser levados em consideração, além de dores ósseas e perda de peso.
Irmãos filhos de um mesmo casal são efetivamente os que possuem as maiores
probabilidades de se tornarem doadores?
Quando o doador é uma pessoa da própria família, em geral um irmão ou um dos
pais, há cerca de 25% de chances de encontrar um doador compatível. Havendo um
irmão totalmente compatível (100%) este será a primeira escolha para ser um
doador. Caso contrário, começam as buscas alternativas para a realização do
transplante.
E quando irmãos e familiares próximos não são compatíveis, qual é o processo
para encontrar um doador de medula?
De acordo com o INCA, as informações dos pacientes que necessitam de
transplante sem um irmão compatível são incluídas no Registro Nacional de
Receptores de Medula Óssea (REREME). Já os doadores, são cadastrados no
Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME). Ambos os
registros têm seus dados cruzados em uma busca automática para verificação da
compatibilidade entre pacientes e doadores.
O médico deve cadastrar o paciente no REREME para assim, iniciar a busca por um
doador. A partir disso, o próprio sistema refaz a busca diariamente. Um
resultado preliminar aponta uma lista de possíveis doadores compatíveis. O
médico, junto com a equipe especializada do REDOME, analisa qual dos doadores
tem chance de ser mais o compatível com o paciente. Na sequência, são feitos
contatos com os voluntários e solicitados os exames complementares.
Como fazer para ser um doador de medula óssea?
Os Hemocentros Regionais (Bancos de Sangue Públicos) são encarregados de cadastrarem
os interessados em serem doadores. Os dados são agrupados em um registro único
e nacional (REDOME). É possível ser voluntário para a doação de sangue, doação
de medula ou de ambos, basta que este desejo seja explicitado no momento do
cadastro.
Para aumentar as chances de localização de um doador compatível para um
paciente que necessita do transplante é imprescindível manter o cadastro no
REDOME atualizado, com endereço, telefone e outras informações. O doador deve
lembrar que irá permanecer no registro até completar 60 anos de idade e que a
convocação para realizar a doação pode demorar alguns anos.
Para se candidatar é preciso realizar um cadastro como doador voluntário de
medula óssea em um dos 106 hemocentros localizados em todos os estados do país.
Esses são alguns requisitos:
● Ter entre 18 e 55 anos de idade;
● Estar em bom estado geral de saúde;
● Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do
sistema imunológico.
Houve uma queda importante nos registros de doadores de medula óssea no
Brasil. O que a população em geral deve saber para que a prática se torne mais
comum no país?
Após preencher uma ficha com informações pessoais, são retirados apenas 10 ml
do sangue do candidato a doador a fim de fazer o exame de HLA
(histocompatibilidade), que cruza com os dados de pacientes à espera do
transplante.
A doação de medula óssea só acontece efetivamente quando é localizado um
paciente que apresente compatibilidade - e isso pode demorar meses e até anos
para acontecer devido à dificuldade em encontrar perfis que se encaixem
devidamente. Quando esse cruzamento de dados é positivo, o doador precisa
passar por um procedimento de baixo risco.
Dependendo de alguns fatores, essa doação pode ser realizada pelo sangue
periférico através de um processo chamado de citaférese ou pela coleta da
medula óssea nas cristas dos ossos ilíacos, sob anestesia geral. É um processo
feito em centro cirúrgico que requer internação de 24 horas.
Por fim, é importante que os candidatos sempre mantenham seus dados
atualizados, como telefone, e-mail e endereço, para quando houver
compatibilidade, eles poderem ser contatados.
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