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quarta-feira, 12 de maio de 2021

Dieta com restrição de carboidratos é boa alternativa para o tratamento do transtorno bipolar

Segundo o psiquiatra, membro da ABLC, Régis Chachamovich, a ciência mostra, com cada vez mais dados, que a dieta cetogênica é capaz de atuar em diversos mecanismos responsáveis por doenças neuropsiquiátricas


Doenças psiquiátricas costumam ser tratadas principalmente com o uso contínuo de medicamentos, que muitas vezes não geram resultados eficientes. O que grande parte da população desconhece, inclusive grande parte da classe médica, é que alimentação tem grande interferência na saúde mental e pode ser usada como ferramenta terapêutica para mitigar os efeitos nocivos de distúrbios psíquicos e mentais.

Segundo o médico psiquiatra, especialista em psiquiatria nutricional e membro da Associação Brasileira Low Carb (ABLC), Regis Chachamovich, muitas evidências científicas e clínicas confirmam que uma alimentação saudável, principalmente baseada em “comida de verdade”, (de origem natural e minimamente processada) pode ser de grande eficácia, por exemplo, para o manejo de quadros de transtorno bipolar, doença que acomete aproximadamente seis milhões de brasileiros.

“Com início costumeiro no final da adolescência ou início da fase adulta, o transtorno bipolar representa um verdadeiro desafio para o portador e seus familiares”, explica Chachamovich.  Isto porque, conforme o psiquiatra, a doença tem caráter crônico e demanda tratamento contínuo por longos períodos, frequentemente por toda a vida.

A bipolaridade se caracteriza por períodos de mania ou hipomania, depressão e normalidade. De acordo com Chachamovich, durante a fase de mania ou hipomania, o paciente costuma apresentar elevação do humor, aceleração da atividade mental, irritabilidade, diminuição da necessidade de sono, aumento da velocidade da fala e alterações de comportamento que frequentemente colocam a pessoa em situações de risco. O que difere a mania da hipomania é a intensidade e a duração do quadro. “Já a fase depressiva é marcada por tristeza intensa, falta de prazer em atividades que normalmente dão prazer, desânimo, choro fácil e frequente, falta de energia, pensamentos com conteúdo negativista”, relata o psiquiatra.

Para tratar os sintomas, utiliza-se tradicionalmente medicamentos como estabilizadores de humor e antipsicóticos. Os resultados, porém, nem sempre são satisfatórios. Segundo o psiquiatra, é visto com frequência na prática clínica, pacientes que seguem tendo crises, mesmo medicados, ou que apresentam melhora parcial, mas com prejuízos significativos na qualidade de vida. “Em alguns casos, por exemplo, as crises são controladas, mas o paciente permanece em um estado depressivo leve duradouro”, explica.

Nestas brechas relacionadas aos tratamentos com uso contínuo de medicamentos é que urge falar de outras possibilidades terapêuticas, como, por exemplo, a abordagem alimentar cetogênica, que preconiza o baixo consumo de carboidratos e prioriza a ingestão de alimentos ricos em proteínas e gorduras. O especialista em psiquiatria nutricional explica que a dieta cetogênica é um estilo de alimentação que promove importantes alterações no metabolismo do corpo como um todo, e especialmente no metabolismo cerebral. “O que a ciência tem mostrado com cada vez mais dados é que estas alterações são altamente benéficas em um número crescente de situações, entre elas os distúrbios mentais”, diz.

Entre os mecanismos amplamente aceitos pela comunidade científica, responsáveis por diversas doenças neuropsiquiátricas, tais como o transtorno bipolar, estão: inflamação crônica em nível do sistema nervoso central; diminuição da produção de energia proveniente da glicose; resistência à insulina em âmbito cerebral; desbalanços de neurotransmissores; e aumento do estresse oxidativo. Conforme Chachamovich, a dieta cetogênica é capaz de atuar em diversos destes mecanismos. “O que confere a estratégia um espectro de ação significativamente mais amplo do que as medicações hoje disponíveis, com chances muito reduzidas de efeitos adversos”, afirma.

De acordo com o especialista em psiquiatra nutricional, há inúmeros relatos de casos clínicos que dão conta de pessoas com transtorno bipolar e transtorno esquizoafetivo (uma forma intermediária entre o transtorno bipolar e a esquizofrenia) que obtiveram melhoras significativas com a implementação da dieta cetogênica. “Quando procuramos o que chamamos de relatos anedóticos (pessoas que relatam seus casos, não publicados em periódicos especializados) também encontramos uma quantidade enorme de pessoas relatando graus importantes de melhora com essa estratégia”, conta.

Não obstante a importância já comprovada da estratégia alimentar com redução de carboidratos no tratamento de doenças psiquiátricas, Chachamovich faz questão de salientar que a terapêutica não concorre com o uso de medicamentos tradicionais. “Estes muitas vezes têm um papel definitivo em diversos casos”, pondera. Conforme o psiquiatra, a melhor abordagem a ser empregada deve ser sempre decidida com o paciente, após uma avalição individual, levando em conta preferência pessoais e contraindicações.

Chachamovich destaca ainda que o uso da dieta cetogênica para o tratamento de distúrbios mentais necessita do acompanhamento de um profissional com conhecimento sobre a doença e sobre o manejo da alimentação. “Apesar de a estratégia alimentar ser bastante segura para a maioria das pessoas, são necessários cuidados importantes em relação à implementação e fase de adaptação, ao controle das medicações em uso, e ao acompanhamento de alguns parâmetros”, conclui.

 


Régis Chachamovich - Psiquiatra e Psicoterapeuta em Florianópolis (SC), com atuação em Psiquiatria Nutricional, e membro da Associação Brasileira Low Carb (ABLC). É especialista em Prática Clínica Low Carb High Fat / Keto, Reversão do Diabetes e Reversão da Obesidade pela The Noakes Foundation (África do Sul), e possui formação em Low Carb / Keto no tratamento de Doenças Mentais.


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