Estima-se que 15 milhões de bebês nascem antes do tempo todos os anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os avanços da medicina neonatal permitiram um
aumento da taxa de sobrevivência dos prematuros, que pode chegar aos 80%. Mas,
os desafios da prematuridade são muitos e continuam depois da alta hospitalar.
De acordo com a fisioterapeuta Walkíria Brunetti, profissional com
mais de 30 anos de atendimento à prematuros, é preciso estar
atento às morbidades que resultam do nascimento prematuro, como os problemas na
integração sensorial.
“O processamento sensorial, ou seja, das sensações, é a capacidade do cérebro
em receber e interpretar os nossos sentidos. Embora os mais conhecidos sejam o
tato, olfato, paladar, audição e visão, temos mais dois sentidos”.
“O sistema proprioceptivo está ligado à capacidade que o corpo tem de avaliar
em que posição se encontra para manter o equilíbrio parado, em movimento ou
para realizar esforços. Por fim, temos o sistema vestibular, cujas funções são
detectar o movimento e a posição da cabeça, controlar a posição do corpo e o
movimento dos olhos, além de facilitar a orientação espacial”, explica
Walkíria.
Cérebro imaturo
“A parte sensorial começa a se desenvolver aos quatro meses de gestação. É
nessa fase que o bebê começa a desenvolver todas as suas estruturas encefálicas
responsáveis pelas conexões com o sistema sensorial. Porém, o bebê que nasce
antes do tempo tem um cérebro imaturo. Isso significa que o órgão não está
pronto para realizar o processamento sensorial”, diz a especialista.
Ambiente estressante
Além da imaturidade do cérebro, problemas na integração sensorial em prematuros
estão ligados à hipóxia (falta de oxigênio), lesões cerebrais e os fatores
ambientais relacionados ao à UTI neonatal.
Atualmente, os grandes centros de referência em medicina neonatal contam com
recursos que amenizam as questões da integração sensorial. Entretanto, os bebês
prematuros apresentam marcadores de estresse elevados, como aumento da
frequência cardíaca e diminuição da saturação de oxigênio.
“O estresse nos prematuros está ligado a longa estadia na UTI, à
superestimulação sensorial, com luzes brilhantes, ruídos, manuseio, além dos
procedimentos de cuidados, como punção venosas e procedimentos mais invasivos”,
diz Walkíria.
Desorganização das sensações
De acordo com Walkíria, quando o bebê chega em casa, há uma desorganização das
sensações pelos motivos citados.
“Um bebê prematuro com problemas sensoriais pode sentir-se agredido com o ato
de ser embalado no colo. Uma canção de ninar pode soar como um trovão e uma
simples lâmpada pode parecer um holofote de um estádio de futebol. Ou seja, as
sensações que para nós são normais, podem incomodar muito esses bebês”.
Por isso, é fortemente indicado que os pais façam um acompanhamento com
uma equipe multidisciplinar. Nesse time, estão os fisioterapeutas e terapeutas
ocupacionais, voltados para a neurologia.
“A recomendação para melhorar o processamento sensorial é a terapia de
integração sensorial. A finalidade é que a criança possa se organizar e
interpretar os estímulos e dar uma resposta mais adaptativa e apropriada”,
ressalta Walkíria.
Tratamento precoce
É importante lembrar que o tratamento precoce é essencial e deve ser feito nos
primeiros dois anos de idade, para aproveitar a neuroplasticidade, mais intensa
na primeira infância.
“Graças a essa capacidade do cérebro, a terapia de integração sensorial cria
novas conexões entre os neurônios que irão contribuir para aprimorar as respostas
aos estímulos sensoriais, levando a uma melhora importante do quadro”, finaliza
Walkiria.
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