De janeiro a agosto de 2020, volume de procedimentos foi 36% menor do que no mesmo período do ano passado. Conselho Brasileiro de Oftalmologia promove em 21 de novembro maratona de ações online para conscientizar população sobre a importância das medidas de prevenção
A Covid-19 pode deixar
mais um triste legado para o País. Por conta da pandemia, a queda na produção
de exames para diagnóstico da retinopatia diabética - complicação que ocorre
quando o excesso de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos dentro da
retina - pode atrasar o início de processos terapêuticos. Com isso, o número de
cegos no Brasil pode aumentar no futuro. Essa possibilidade foi constatada pelo
Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que analisou o volume de exames
realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para avaliar a presença dessa
complicação.
A média nacional de
produtividade dos exames para diagnóstico de retinopatia no SUS apresentou uma
queda de 36% entre janeiro e agosto de 2020 ano em relação ao mesmo período do
ano passado. De acordo com os números informados pelas Secretarias de Saúde
Estaduais e Municipais, um total de 3,3 milhões de exames, divididos em quatro
diferentes modalidades, foram realizados até agosto deste ano. Mulheres e pessoas
com idades de 44 a 80 anos são os que mais deixaram de fazer suas avaliações
oftalmológicas na comparação entre períodos.
A divulgação dos
números acontece na véspera da realização do Projeto 24 horas pelo diabetes,
durante o qual o CBO oferecerá à população a oportunidade de participar de
sessões de teleorientação com médicos, de forma gratuita. Para contar com o
serviço, disponível apenas em 21 de novembro, de 9h às 17h, é preciso se
inscrever no site https://www.24hpelodiabetes.com.br , onde há outros
detalhes sobre a iniciativa.
Pandemia - Os dados foram
apurados pelo CBO a partir de informações disponíveis do Sistema de Informações
Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS). No entendimento do presidente da entidade, José
Beniz Neto, a redução no volume de exames de diagnóstico tem relação direta com
o afastamento dos pacientes de consultórios e ambulatórios médicos por conta
das recomendações de isolamento social decorrentes da Covid-19.
"Esse é mais um triste legado deixado por essa pandemia. Num primeiro momento, os serviços de saúde suspenderam a realização dos procedimentos como medida de segurança. Depois, a população, por medo de contaminação pelo vírus, passou a evitar as consultas, mesmo com a retomada dos atendimentos. Os gestores não têm responsabilidade por esse cenário, mas recai sobre eles o desenvolvimento de estratégias para resolver o problema", avalia José Beniz Neto.
Complicação - A retinopatia
diabética depende de sua detecção precoce para reduzir as chances de
comprometimento parcial ou total da visão. Ela acomete pacientes com diabetes
dos tipos 1 e 2. De cada três pessoas com diabetes, uma tem algum grau de
retinopatia. Do total dos casos, 20% podem desenvolver a forma mais grave, que
leva à cegueira.
Em 2019, entre janeiro
e agosto, o volume de procedimentos chegou a 5,1 milhões. Houve queda sensível
nos quatro tipos de exames disponíveis no SUS - biomicroscopia de fundo de
olho, mapeamento de retina, retinografia colorida binocular e retinografia
fluorescente binocular. No entanto, os percentuais de perda na produção
variaram de 15,2% a 37,9%.
"As consequências desse problema serão percebidas em médio e longo prazos. O paciente - ao retardar o seu diagnóstico e início de tratamento - perde a chance de efetivamente reduzir os efeitos de uma doença degenerativa que, no limite, pode implicar na perda total da visão. Temos que pensar em estratégias para reduzir essa lacuna", alerta o vice-presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino.
Desempenho - Se o ritmo dos
atendimentos não for alterado, pelas projeções, o País chegaria a dezembro
tendo realizado 4,9 milhões de exames para detectar a retinopatia diabética.
Esse seria o pior desempenho desde 2014. Do ponto de vista de distribuição
geográfica, apesar da redução no volume produzido ter sido detectada 26 das 27
unidades da federação, as performances foram diferentes.
Dentre as regiões, a
que teve o pior desempenho foi a Nordeste, que até agosto desse ano realizou
41% a menor do que em 2019. Na sequência, aparecem o Sudeste, com uma redução
de 33%; o Centro-Oeste (-32%); o Sul (-30%); e o Norte, com uma baixa de 17% na
sua produção desses exames.
O Acre foi o estado
onde, proporcionalmente, o desempenho foi o mais baixo. A queda na produção foi
de 72%. A lista das dez unidades com maiores quedas percentuais inclui ainda
Roraima e Piauí (-68%), Amapá (-67%), Amazonas (-66%), Paraíba (-63%), Mato
Grosso do Sul (-61%), Mato Grosso (-57%), Mato Maranhão (-53%) e Ceará (-50%).
Impacto - Por sua vez, o
impacto foi menor, proporcionalmente, no Pará, com menos 6% na produção de
exames para retinopatia entre janeiro e agosto desse ano em comparação com o
mesmo período de 2019. Com perdas menos acentuadas, também aparecem o Tocantins
(-11%), Distrito Federal (-17%), Paraná (-24%) e Goiás (-25%). Somente em
Alagoas registrou aumento no volume de exames no período: 43% a mais.
Nos três estados onde
houve maior produção de exames para diagnóstico de retinopatia diabética em
2019, as perdas também foram significativas. Em São Paulo, houve uma retração
de 29% na produção de exames. Ano passado, durante os oito primeiros meses, o
estado havia realizado 1 milhão de procedimentos desse tipo. No mesmo período,
em 2020, esse número não passou de 715 mil.
No Rio Grande do Sul,
segundo lugar no ranking de produtividade de 2019, a queda proporcional também
ficou em 30%. Em Pernambuco, terceira posição, o índice ficou em 34%. Logo
após, dentre os quais realizaram exames ano passado, surgem a Bahia, com menos
44% na sua produção desse ano em relação a 2019; Minas Gerais (-33%); e Rio de
Janeiro (-44%).
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