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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Novo Normal: o que muda na medicina, na economia e no direito com a pandemia?

 Veja a opinião de especialistas diversos – médicos, empresários, servidores essenciais e advogados – sobre o que mudará após a pandemia

 

O tal “Novo Normal” chegou? Se chegou, o que trouxe de realmente “novo”? O que a pandemia nos ensinou (e está ensinando) que devemos manter – em relação aos hábitos de higiene, mas também em relacionamento, em comportamento?... Perguntamos para diferentes segmentos e colhemos diferentes respostas. Conversamos com advogados, médicos, empresários e servidores públicos essenciais, entre outros. 

O que procuramos saber deles: Afinal, o “novo normal” já chegou? O que muda e o que permanece na sua área de atuação? Podemos dizer que estamos vivendo o “novo normal”? Nem todos concordam que o novo normal já começou, mas todos concordam que há mudanças necessárias a se fazer.

Veja as respostas:


Para o pediatra Mario Ferreira Carpi, do Hospital Águas Claras, “considerando que o “novo normal” é um conjunto de ações e comportamentos que permitem nossa adaptação e sobrevivência diante da realidade da pandemia pelo novo coronavírus, eu diria que já estamos vivendo o “novo normal”. Após 4 meses de isolamento social, tivemos a oportunidade de vivenciar e aprender muitas coisas. Percebemos por exemplo que é possível e, muitas vezes até mais produtivo, trabalhar em casa (home office) e que reuniões que exigiriam deslocamentos e gastos podem ser feitas utilizando ferramentas disponíveis em nossos computadores, permitindo discussões em tempo real. É claro que a maioria das pessoas continuarão a ter que se deslocar para seus trabalhos e as crianças, embora possam ter parte de suas atividades didáticas online, terão que voltar para a escola. O convívio social faz parte da natureza humana e é essencial. Mas, ao menos até nos sentirmos seguros novamente, esse convívio obedecerá a novas regras, como o uso de máscaras, novas formas de nos cumprimentarmos e cuidados com a higiene das mãos. Talvez finalmente nossa sociedade tenha aprendido que vírus respiratórios (não apenas o coronavírus) são transmitidos não apenas por tosse ou espirros, mas também pelo contato com mãos e objetos contaminados por essas secreções. Teremos que ser mais contidos e menos expansivos, mantendo um certo distanciamento social para nossa própria segurança. Como tudo que é novo, isso causa certa angústia, mas já estamos incorporando esse novo padrão de normalidade.

Outros aspectos podem ser ressaltados. Percebemos que não temos controle sobre o mundo (excelente oportunidade para nos tornarmos mais humildes), que altruísmo, solidariedade e fé também fazem parte da natureza humana e nos fortalece nas crises e que a família continua sendo a base de tudo”.


Na esfera do direito o advogado Leandro Rufino, do Rufino & Rebuá Advogados, acredita que “a pandemia alterou de maneira profunda o mundo do Direito, como todas as outras áreas, o que não quer dizer que esse será o novo normal.  Sem dúvida, algumas das mudanças trouxeram ganhos. As audiências online, por exemplo, reduziram custos com deslocamento. A produtividade de alguns servidores dos tribunais foi, por determinação dos respectivos órgãos, aumentada o que faz com que haja uma celeridade maior nos processos. Se por um lado isso é positivo e poderíamos torcer para ficar, já há advogados trabalhistas, especialmente, pedindo para que as audiências não sejam online porque não é possível saber quem está acompanhando a testemunha, por exemplo. Se ela está sendo pressionada ou chantageada. Mas acredito que haverá um meio termo possível, para que audiências em cidades diferentes, por exemplo, possam ocorrer de forma virtual, reduzindo o custo da Justiça”.


Na opinião da infectologista do Hospital Águas Claras, Ana Helena Germoglio, “O que era o normal? Vida corrida, sem olhos no olhos, crianças nas escolas e pais trabalhando 12h ao dia, vida em 4G, reuniões de trabalho intermináveis, digitalização das relações interpessoais.... Infelizmente, é impossível prever o comportamento humano pós-pandemia, porque isso dependerá da conscientização individual. Do contrário, teremos outras pandemias tão graves ou piores. As pessoas devem entender que nosso comportamento pode e tem capacidade de interferência na vida das demais pessoas. Viver coletivamente é a única chance de sermos humanos. E, para continuarmos nessa vida durante e pós-pandemia, precisamos pensar coletivamente. Uma coisa é certa, nada será como antes. Uma doença emergente viral veio para alterar completamente nossos hábitos de consumo e comportamento interpessoal, mostrou quão frágil é o ser humano. Coisas simples que nem pensávamos a respeito, ganham agora uma nova dimensão.  Práticas como hábitos de higiene, solidariedade, altruísmo ganharam destaque em nossas vidas em tão pouco tempo. Valorização do contato olho no olho, dos abraços e apertos de mãos, revalorização de ambientes abertos, novos hábitos de consumo virtual. Talvez sim, esse seja o normal”.


O diretor de Marketing e Vendas da Família do Sítio, Ricardo Barbosa,  não acredita que chegamos ainda ao chamado “novo normal”:  “O novo normal deve acontecer assim que tivermos uma vacina para o vírus, porque a partir desse momento veremos o que essas mudanças que estão acontecendo hoje vão provocar no comportamento da sociedade. Hoje tem pessoas aqui na empresa que estão trabalhando de casa, tem pessoas que estão trabalhando em horário reduzido. Isso está acontecendo não por conta de uma opção da empresa, mas por uma falta de opção trazida pela pandemia. O novo normal vai acontecer depois desse período de pandemia quando nós tivermos a opção de escolher, por exemplo, continuar a trabalhar dessa maneira. Acho que ainda é um momento de transição, de reflexão, onde a gente precisa enxergar agora o que deve ser priorizado. Ainda mais falando sobre empresas, que temos a questão de tempo versus produtividade, se são coisas que têm uma relação direta ou não. A gente fala muito que está vivendo no mundo moderno, mas a maioria das empresas sofreu muito. Que mundo moderno é esse que a gente não está preparado para trabalhar à distância? Na verdade, nós estamos vivendo um momento de transição. Na minha visão não estamos ainda vivendo o novo normal. Iremos viver ainda o novo normal, que com certeza trará mudanças, sejam comportamentais, sejam de postura, de visão de coletivo, de visão do individual. O novo normal vai trazer para a gente a importância da reflexão, de refletir sobre a vida, sobre a nossa atitude e nossos comportamentos.

Eu prevejo mudanças muito positivas. Acho que todo mundo passou a entender melhor o seu papel dentro da organização e o seu papel profissional como indivíduo. Estamos vivendo em uma dicotomia de tempo, em que ao mesmo tempo nos falta tempo e temos tempo demais. Isso fez com que a gente percebesse atalhos, no sentido positivo. O que a gente pode otimizar, que conversas a gente pode ter de maneira mais rápida, sem precisar procrastinar muitas coisas. Acho que a procrastinação aqui na nossa cultura vai ser bem diminuída. Nesse sentido eu vejo uma evolução muito grande de comportamento. Acho que as pessoas começaram a perceber também mais umas às outras, perceber suas dificuldades, porque cada um acabou vivendo momentos exclusivos, problemas únicos. De maneira coletiva as pessoas passaram a se enxergar como um grupo, e não somente como indivíduos trabalhando em uma mesma empresa”.


O infectologista do Hospital Brasília, André Bon, acredita que já estamos vivendo o novo normal. “Algumas mudanças de hábito não vão voltar atrás. A lavagem frequente das mãos, a higienização com álcool, não deve mudar. Me pergunto se o uso de máscaras vai perdurar, mas certamente o reforço de higienização vai persistir, inclusive relacionado aos alimentos e aos produtos que chegam dentro de casa. Em relação aos cuidados de saúde, talvez seja importante fazer um reforço das medidas que estão sendo tomadas agora. Para quem adotou o novo normal, eu não recomendaria que as pessoas voltem a frequentar bares e restaurantes. Continua a recomendação de distanciamento social, que as pessoas se mantenham ainda dentro de casa. Mas, para o futuro, eu diria que a etiqueta respiratória (na hora de tossir e espirrar, usar a face interna do cotovelo) e as medidas de higienização continuarão a ser muito importantes quando estivermos em espaços coletivos. Talvez sejam as medidas mais importantes daqui pra frente nestas situações.”


O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, José Carlos Magalhães Pinto, também acredita que o novo normal ainda está por vir: “Apesar de grande parte de o comércio estar funcionando, ainda não podemos dizer que vivemos o “novo normal”. Temos novos cuidados, novas condutas, novos canais de venda. Mas o consumidor ainda não se comporta dentro de uma “normalidade”, mesmo que seja diferente do que vivíamos antes da pandemia.

Se pudéssemos já definir um “novo normal”, me arriscaria a dizer que há uma tendência a mudanças no perfil de consumo. As empresas estão apostando no home office como uma medida de médio e longo prazo ou, em muitos casos, definitiva. Isso mudará o consumo de roupas, sapatos e acessórios de maneira relevante. O consumidor está apostando muito mais nos produtos essenciais. Ainda há a questão da higiene, que fez ressurgir no mercado produtos de limpeza como álcool 70, água sanitária, sabão líquido e outros. Também apostaria em uma mudança de perfil de consumo, mais consciente, com valorização dos produtos locais. Tanto as CDLs de todo o Brasil como a CNDL tem incentivado o consumo nas pequenas e médias empresas locais.

Com relação à retomada da economia, ficamos à mercê de medidas que demoraram muito a ocorrer – como a liberação de crédito para pequenas e médias empresas. Se há um “novo normal” para as pequenas empresas, é a triste realidade de que muitas não conseguirão reabrir suas portas. Por outro lado, não podemos negar o perfil empreendedor do brasileiro, que está se reinventando nos mais diferentes setores. Basta ver o sucesso dos Drive-In´s, que já estão conquistando o público dos shows.

Enfim, o “novo normal” exigirá a reconstrução de muitas empresas, a reinvenção de outras e muitas quebras de paradigma. Na Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal, seguiremos acreditando que tudo isso vai passar e que vamos superar os desafios”.


Para a pediatra Sandi Sato, da Maternidade Brasília, “a gente precisa começar a se preparar para o novo normal, entender o que é uma responsabilidade compartilhada e o que é viver em sociedade garantindo o bem-estar do próximo. Isso deveria ser o normal sempre, não apenas pós-pandemia. Já com relação à volta às aulas, vai exigir algumas práticas com cuidados relacionados à transmissão de Covid.  Crianças transmitem doenças com facilidade, então ainda é preciso manter as atuais recomendações e reforçar os cuidados de higiene. Não há novas recomendações, ainda é preciso evitar as saídas desnecessárias e manter o distanciamento social”.


Parte do grupo de trabalhadores considerados “essenciais”, o diretor de política profissional do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários, Antonio Andrade, vê com algum ceticismo o novo normal.  “Com certeza muitas mudanças que foram forçadas por conta da pandemia vão se manter no futuro. E de uma forma positiva, porque a situação atual nos fez rever diversas práticas da carreira, descobrir o que pode ser feito de maneira mais efetiva. Esperamos sair dessa pandemia mais fortes, mais unidos, e isso será extremamente importante para o momento de recuperação. A retomada do crescimento econômico dependerá principalmente do agronegócio e as atividades de fiscalização são essenciais para mantermos a produção, a qualidade dos alimentos e o sucesso das nossas exportações. No entanto, as atividades de campo ainda oferecem risco para os Affas, apesar de todas as medidas de segurança. Vemos agora uma queda no número de casos de Covid em algumas cidades do país, e em outras temos a estabilização. Porém, a contaminação ainda está ocorrendo e, apesar de todos os cuidados de prevenção e equipamentos utilizados, o risco que um Affa em campo se contamine sempre existe. Nós, efetivamente, estamos trabalhando de maneira diferente. Estamos usando mais meios eletrônicos, videoconferências. Conseguimos nos adaptar à realidade com muita desenvoltura. Sem dúvida tiramos muitos aprendizados dessa pandemia”.


O infectologista do Hospital Brasília, André Bon, acredita que já estamos vivendo o novo normal. “Algumas mudanças de hábito não vão voltar atrás. A lavagem frequente das mãos e a higienização com álcool, por exemplo, não devem mudar. Me pergunto se o uso de máscaras vai perdurar, mas certamente o reforço de higienização vai persistir, inclusive relacionado aos alimentos e aos produtos que chegam dentro de casa. Em relação aos cuidados de saúde, talvez seja importante fazer um reforço das medidas que estão sendo tomadas agora. Para quem adotou o novo normal, eu não recomendaria que as pessoas voltem a frequentar bares e restaurantes. Continua a recomendação de distanciamento social, que as pessoas se mantenham ainda dentro de casa. Mas, para o futuro, eu diria que a etiqueta respiratória (na hora de tossir e espirrar, usar a face interna do cotovelo) e as medidas de higienização continuarão a ser muito importantes quando estivermos em espaços coletivos. Talvez sejam as medidas mais importantes daqui pra frente nestas situações.”


Henrique Alencar é empresário (tem uma loja na W3 Sul e outras lojas alugadas) e diretor da CDL-DF. Ele não acredita que estamos vivendo o novo normal. “Todo dia, é um cenário diferente. As pessoas ainda estão com medo, o crescimento da Covid ainda assusta. No meu ramo, de material de construção, a pandemia tem sido favorável. As pessoas estão em casa, aproveitam para fazer pequenas reformas. Mas eu sei que não está assim em todos os setores. Para as lavanderias ou para salões de beleza, por exemplo, está em baixa.  Enquanto isso, as lojas de bicicleta, por exemplo, estão bombando. Todo mundo que não está podendo ir à academia, está aproveitando para pedalar. Não é possível ainda falar em retomada da economia, ainda tem mudança para acontecer, tem decreto novo todo dia. Estamos funcionando em horário reduzido, tentando evitar aglomerações nos transportes urbanos. Ainda é cedo para falar em novo normal. Os nossos negócios exigem presença física. O consumidor não está comprando por impulso. Ele sai de casa com uma meta e compra só aquele produto. Alguns produtos que são vendidos por impulso estão relacionados à pandemia: álcool gel, tapete sanitizante, produtos de higiene. Mas, para alguns setores, a retomada ainda vai demorar muito”.

 

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