Há
um alerta por parte das autoridades de saúde e meio ambiente do mundo inteiro
de que a pandemia da COVID-19 não será a última e que, a sociedade deve se
preparar para as próximas doenças infecciosas emergentes que estão por aparecer
nos próximos anos.
Mas,
nesse momento, surge o seguinte questionamento: por que boa parte das doenças
pandêmicas dos últimos anos tiveram sua origem na Ásia?
Há
muitas especulações quanto a isso, entretanto, os pesquisadores acreditam que
esse seja um problema multifatorial.
A
região asiática tem algumas peculiaridades que favorecem fortemente o
surgimento de novas doenças. A primeira delas é a explosão populacional e a
migração dessa população da zona rural para os grandes centros urbanos e, essa
rápida urbanização proporciona uma interação física muito maior entre as
pessoas favorecendo o contágio e disseminação de microrganismos como, por
exemplo, o Coronavírus.
Ainda,
quando a urbanização é feita de maneira não planejada, ocorre a destruição de
áreas verdes e, consequentemente, a destruição dos habitats de animais
silvestres favorecendo a aproximação desses animais (alguns deles podendo ser
hospedeiros de vírus desconhecidos) com os animais domésticos e os seres
humanos, o que também pode favorecer a dispersão das doenças zoonóticas –
doenças transmitidas por animais aos seres humanos.
Vale
ressaltar que regiões tropicais, como é o caso do leste asiático, por terem
grande biodiversidade também carregam o ônus de terem (em maior grau) a
presença de microrganismos totalmente desconhecidos para o ser humano e, o fato
de nunca termos tido contato com eles, implica em não termos imunidade
desenvolvida para combatê-los.
Durante
a explosão do Coronavírus na cidade de Wuhan, na China, foi levantada outra
questão muito importante dentro do contexto das zoonoses: o tráfico e consumo
de animais silvestres que, diga-se de passagem, não é privilégio somente dessa
região do planeta. No caso asiático, atrelado ao consumo de iguarias está a
questão da medicina tradicional chinesa (MTC) que utiliza partes de diversos
animais visando a produção de remédios para a cura de diferentes doenças.
Aqui,
não pretendo fazer juízo de valores éticos ou culturais, mas apenas apresentar
fatos. Um estudo da Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong
mostrou que a primeira linha de tratamento de boa parte da população asiática é
por meio da MTC que oferece tratamentos mais baratos para inúmeras doenças. No
entanto, quando essas terapias não surtem efeitos para determinadas infecções
mais graves e com alto potencial de disseminação, a população procura a
medicina ocidental. Esse precioso tempo dispensado dificulta os tratamentos
medicamentosos e favorece a proliferação dos vírus, por exemplo.
Seguindo
essa linha de raciocínio, nessa região o comércio de compra e venda de animais
domésticos vivos para consumo (suínos, e aves, principalmente) é muito grande
contribuindo ainda mais a interação entre humanos-animais e, por consequência,
a infecção por diferentes patógenos.
Muitos
países asiáticos ainda têm um problema muito importante em relação à higiene de
locais públicos e também em relação censura de informações o que certamente
dificulta as autoridades de saúde a buscarem formas seguras de interromper o
ciclo dessas doenças.
Apesar
de tudo isso, vale ressaltar que o fato da rápida dispersão dessas enfermidades
está relacionado muito mais aos processos de globalização que favorecem o
deslocamento de pessoas, animais e objetos infectados para diferentes partes do
mundo em curto espaço de tempo, do que propriamente à alguma região específica
do planeta. Isso implica dizer que a situação apresentada não é privilégio de
chineses ou asiáticos, mas do modo de vida em que a população do planeta se
encontra.
Rodrigo Silva - biólogo, doutor em Ciências e coordenador
do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro Universitário
Internacional Uninter.
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