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sábado, 28 de março de 2020

Dicas importantes para quem quer cultivar orquídeas


Retirar orquídeas da natureza é crime inafiançável


As orquídeas pertencem a uma família de plantas muito rica e evoluída. Crescem praticamente em todos os continentes, em climas equatoriais e tropicais úmidos, especialmente na América, Índia, África e Austrália, desde o nível do mar até elevadas altitudes. Existem plantas rupestres, terrestres, aquáticas, epífitas e saprófitas. Há também um grande número de gêneros e de espécies e uma infinidade de híbridos, muitas vezes entre dois ou três gêneros diferentes. 

As orquídeas florescem em diferentes épocas do ano e cada espécie têm o seu período de floração, mas alguns gêneros chegam a florir mais de uma vez ao ano.  A flor de orquídea tem três sépalas: uma dorsal e duas laterais, que envolvem a flor em botão. Possuem três pétalas, sendo que uma delas, o labelo, a maior e mais chamativa com colorido diferenciado, e no seu interior encontram os órgãos reprodutores. O labelo, além da função de proteção, serve também para atrair insetos e pássaros responsáveis pela polinização. 

As flores, individuais ou em inflorescências, têm formas diferentes com colorações variadíssimas e magníficas, o que as fazem muito lindas e admiradas. 

Aquisição de plantas

O cultivo de orquídeas tem se popularizado muito ultimamente. Para começar a cultivar orquídeas podemos comprar ou ganhar plantas. Depois queremos ter uma coleção de plantas ou simplesmente cultivar vasos em casa. Floriculturas e especialmente exposições tem colocado à disposição do público variadíssimo, rico e numeroso conjunto de plantas de espécies e de híbridos. Devemos adquirir plantas de boa procedência e com identificação correta. As plantas de orquidários comerciais idôneos possuem genética conhecida, confiável e elevada qualidade fitossanitária e nutricional, bem superior às plantas retiradas da natureza. Encontramos plantas bem desenvolvidas com florações robustas e flores belas e grandes e muito coloridas.

Mas é preciso ter cuidado para não se encantar apenas pelo esplendor da inflorescência, número e beleza das flores sem observar a parte vegetativa e as raízes das plantas. Isso porque, as orquídeas colocadas à venda estão no auge do esplendor da parte aérea, ou seja, da parte visível, dos pseudobulbos, folhas e flores. Mas, aqui está o problema! Aqui está a “grande sacada”, o substrato que eficientemente permitiu o bom desenvolvimento das raízes, reteve água, reteve e cedeu nutrientes, agora está em pleno processo de apodrecimento, pelo que a maioria das raízes ou já morreu ou estão morrendo.  Assim, estas plantas pouco tempo depois secarão e serão descartadas para a alegria de quem vende. Já para o amante de orquídeas, o jeito será adquirir outra planta. 

Por isso, temos que aprender com os colecionadores de orquídeas. Eles querem ter plantas de espécies que se adaptam bem às suas condições de cultivo. Plantas especiais pela beleza das flores albas, semi-albas e coeruleas, amarelas e avermelhadas e por que querem continuar cultivando e produzindo essas mudas, para ter ano após ano floradas belas e raras. Como sabe que as raízes, na maioria das vezes estão na última, corre para seu orquidário e elimina tudo o substrato replantando-as em novo substrato, correndo o risco de quebrar e perder a flor. Entretanto, a planta foi comprada não por essa flor, mas pelas próximas floradas.

Por isso, se você quer comprar uma planta pensando em tê-la por muito tempo com você ou com quem você presenteou, procure observar algumas características importantes antes de levar para a casa uma orquídea pela qual você já se encantou. As plantas devem ser de boa procedência e estar corretamente identificadas. Cada espécie é diferente das outras e é importante que você as conheça pelos nomes. Observe se as plantas estão bem enraizadas, sem manchas e com coloração adequada.
 
Fatores de produção

Como todo vegetal, para bom desenvolvimento e crescimento, as orquídeas requerem luminosidade (temperatura), água (irrigação e umidade) e nutrientes (em quantidades balanceadas e equilibradas). 


Luminosidade 

Para uma boa floração as orquídeas precisam de luz, mas a maioria não tolera sol direto, com exceção de alguns gêneros como Epidendrum, Cyrtopodium, Arundina, Cymbidium, Dendrobium, Oncidium, Catasetum e Renanthera. A maioria das plantas prefere estar a meia-sombra, embaixo da copa das árvores, sob proteção de sombrite, ou na varanda, onde não recebam sol diretamente. Mesmo dentro do orquidário podemos organizar as plantas para que cada espécie receba a incidência adequada de luz. É fundamental estudar cada espécie. Entre todos os gêneros, a luminosidade ideal pode variar de 30 a 80 %. Em caso de orquidários, usualmente, a cobertura é feita com tela “sombrite”. A escolha dessa cobertura varia também de acordo com a região onde estão as plantas. Pela diferença de tonalidade das folhas é possível perceber se existe excesso ou falta de luz. Folhas com tons claros e amarelados indicam excesso de luminosidade, se estiverem com um bonito tom de verde, a luminosidade está adequada, mas se o verde for muito intenso está faltando luz. 


Irrigação

Vai depender, em grande parte, da forma como se estão cultivando as plantas, do ambiente onde ficam (umidade e temperatura), da espécie, do tipo e tamanho de vaso e, especialmente, do substrato utilizado. Podem ser usados diversos tipos de recipientes, como vasos de barro ou de plástico, cachepots de madeira e pedaços de cascas de arvores ou até mesmo arvores vivas. 

O substrato deve ser poroso e facilitar o crescimento das raízes. Os substratos podem ser orgânicos, esfagnum, casca de pinus, fibra de coco, macadâmia, puros ou em combinações. Alguns preferem cultivar as plantas em pedaços de casca de peroba, de troncos de café, sansão do campo e barbatimão.
 Quando não decompostos estes materiais tem boa porosidade, boa capacidade de retenção de água e são fonte de nutrientes. Para liberar e ceder nutrientes, para que possam ser absorbidos pelas raízes, é necessário a decomposição e mineralização destes materiais, Na decomposição e mineralização vão se compactando, apodrecendo, liberando substancias toxicas, que causam a morte das raízes, pelo que, muitas vezes observamos raízes saindo dos vasos, fugindo dos substratos. O apodrecimento de substratos orgânicos pode levar ao aparecimento de pragas como lesmas e caracóis, aumentando o surgimento de doenças e da retenção de água. Por isto, o substrato deve ser trocado periodicamente, a cada dois ou três anos em recipientes maiores de acordo com o tamanho da planta. Lembrar que é proibido usar xaxim, sejam vasos, placas ou pedaços.

Atualmente, preferimos substratos de cultivo formados por materiais inertes como seixos rodados pequenos ou brita zero, sinasita (bolinhas de argila expandida), também tamanho pequeno, isopor em pedaços e a grande sacada à “grande sacada”, carvão vegetal em pedaços, todos em tamanhos de 0,5 a   1,5 cm. Estamos utilizando mistura de partes iguais de carvão, sinasita, brita e isopor. Este substrato apresenta durabilidade muito alta e pode ser reutilizado várias vezes.

Ao mesmo tempo em que devemos suprir a demanda de água, também devemos evitar seu excesso, pois, o encharcamento do substrato dificulta o arejamento. Também não devemos ter pratos embaixo dos vasos, pois a água deve escorrer libremente.

Na irrigação devemos molhar o substrato até que comece a escorrer a água. Todas as raízes das orquídeas devem ser molhadas. São elas que absorvem eficientemente a água e os nutrientes, pois a maioria das orquídeas apresenta um tecido esbranquiçado e esponjoso (velame) revestindo suas raízes. O velame é um tecido responsável pela rápida absorção de água e nutrientes. Funciona como uma espécie de esponja, pois apresenta espaços e canais microscópicos em seu interior, onde usualmente se alojam as micorrizas. 

É importante não molhar as flores e evitar deixar as plantas com água nas folhas para evitar o aparecimento de doenças. A melhor hora para molhar as orquídeas é meio da tarde e com mangueira. Mas, atenção. O excesso de água lixivia nutrientes, provoca falta de oxigênio nas raízes e acelera a decomposição de substratos de materiais orgânicos. 


Nutrição:

Para que a fotossínteses e o desenvolvimento das plantas se realize em condições adequadas é necessário um bom equilíbrio entre a fixação de carbono nas folhas e a absorção dos nutrientes pelas raízes.
Uma planta bem nutrida se desenvolve mais rápido e produz flores mais bonitas. Para estar bem nutrida, uma orquídea deve dispor de nutrientes em quantidades e proporções ótimas. Em média e a grosso modo as plantas de orquídea apresenta a seguinte composição: C, H, O, 90 %; N, P, S, K, Ca, Mg, 8 %; Cl, B, Mo, Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, 2 %.
Os elementos essenciais (nutrientes) para desenvolvimento e crescimento vegetal se classificam em macronutrientes (N, P, S e K, Ca, Mg) e micronutrientes (Cl, B, Mo e Fe, Mn, Zn, Cu, Ni). A proporção dos teores de macronutrientes nas plantas de orquídeas é diferente à de outras culturas: K > N > Ca > Mg > P ≈ S
As fontes naturais de nutrientes para plantas de orquídeas são rochas, solos, resíduos vegetais, cascas, poeira e esterco de passarinhos. Na natureza as orquídeas sobrevivem com limitada disponibilidade de nutrientes. É justamente o estresse nutricional que induz a frutificação. A planta sacrifica-se pela sobrevivência da espécie.

Os substratos orgânicos são insuficientes para alta demanda de nutrientes, daí a importância da fertilização. Entre os adubos usados no cultivo de orquídeas podemos indicar a torta de mamona, farinha de osso, viagra, chorume, compostos e bokashi. A frequência e dose de adubo deve respeitar as recomendações dos fornecedores e, ou, fabricantes. Deve-se evitar colocar o fertilizante diretamente em contato com as raízes. Como os adubos orgânicos aceleram a decomposição do substrato devemos evitar espalhar sobre toda a superfície do substrato. O ideal é colocar o adubo sempre num mesmo lugar. Com o tempo os adubos orgânicos tendem a diminuir o arejamento do substrato do vaso. 

Entre os fertilizantes temos fontes que disponibilizam unicamente um nutriente, N, P, K; dois nutrientes, NP, SK, NK, NS; macronutrientes principais, NPK; macronutrientes, NPSKCaMg; micronutrientes e macro e micronutrientes.

Podemos fazer aplicações semanais ou a cada 15 dias dos fertilizantes. Devemos certificar-nos de que o fertilizante foi bem dissolvido e está na concentração certa recomendada. Usualmente dissolver de 3 a 5 g por litro e desta solução aplicar nas raízes de 20 a 50 mL por vaso dependendo da qualidade e quantidade de substrato. 

Evitar aplicação excessiva de fertilizantes, as orquídeas possuem baixa tolerância aos sais. Observar que não está ocorrendo acúmulo de sais nas laterais dos vasos. O pH na solução do substrato deve ficar entre 5 e 6.


Harmonia entre fatores de produção

A harmonia entre fatores deve ser adequada às exigências das espécies. Como o colecionador quer cultivar várias espécies num orquidário, fica difícil harmonizar o ambiente para as diferentes exigências das distintas plantas. Pois a grande disponibilidade de variedades de espécies e de híbridos requer grande variedade de ambientes.

O excesso de água lixivia nutrientes, provoca falta de oxigênio às raízes, acelera a decomposição de substratos de materiais orgânicos. 

A fertilização adequada, nos substratos orgânicos, disponibiliza nutrientes em quantidades e proporções desejáveis, não só, ao bom crescimento das orquídeas, mas também à proliferação de fungos e outros microrganismos que acelerarão a decomposição e o apodrecimento do substrato. 

Nos substratos inorgânicos, que não disponibilizam nutrientes, necessariamente temos que utilizar fertilizantes. Entretanto, devemos ter cuidado com o uso em excesso dos fertilizantes, que pode provocar o acúmulo de sais. Utilizando este substrato as fertilizações são mais frequentes, mas em menor dose (2 a 3 gramas por litro).

A harmonia entre ambiente, recipiente e substrato de cultivo, irrigação suficiente e boa disponibilização de nutrientes, acelerará o desenvolvimento e crescimento das plantas, antecipa as floradas e aumenta a durabilidade das flores. O que mais aspiramos é poder reproduzir nossas plantas e que estas floresçam ano opôs ano.   


Finalmente - Que é o que mais quer um orquidófilo? Mais orquídeas!!!





Nutrientes Para Vida (NPV) 


Víctor Hugo Alvarez V. - Professor Voluntário, DPS, UFV.

Gustavo Nogueira G. P. Rosa - Doutorando em Solos e Nutrição de Plantas, DPS, UFV.

Andréia Aline Fontes - Mestre em Solos e Nutrição de Plantas, DPS, UFV.

Membros da Associação Orquidófila e Orquidóloga de Viçosa - AOOV


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