Em um cenário em que o consumidor está se tornado
cada vez mais criterioso e atento à qualidade dos produtos que consome, a
preocupação com a segurança alimentar nunca foi tão grande. O consumo
consciente de proteína de origem animal está em pleno crescimento. Estima-se
que de 2018 a 2023, o consumo mundial de proteína animal, seja de carne suína,
de frango ou bovina, aumente em 19,2 milhões de toneladas.
O Brasil possui posição de destaque no mercado
mundial de proteínas animais, tendo sido, em 2018, o primeiro país em
exportação de carne bovina e de frango e o quarto em carne suína.
Para manter essas posições de destaque em
exportação e atender à crescente demanda por alimentos seguros e de qualidade,
a saúde animal na cadeia produtiva de proteína é de extrema importância. Além
disso, o crescimento da demanda por carnes provoca mudanças significativas nos
modelos de produção, com a criação de lotes de forma intensificada. E quanto
mais intensificado e produtivo o rebanho, maiores são os riscos associados à
sanidade animal, fato neste que deve ser uma preocupação do produtor e de todo
o restante da cadeia.
Mas não só o fato de o consumidor estar cada dia
mais consciente deve gerar mudanças na cadeia de produção de carnes. As
pressões externas e epidemias mundiais também aumentaram significativamente o
número de exigências relacionadas à saúde animal.
Entre as várias razões do Brasil ter posição
privilegiada em relação ao agronegócio como um todo e, particularmente, às
carnes, se encontra a sanidade animal. Este é um grande ponto responsável por
diferenciar a proteína animal brasileira frente ao cenário internacional desde
a década de 80. E para manter essa diferenciação e o posicionamento no mercado
internacional, o Brasil tem desenvolvido uma série de ações preventivas a fim
de preservar a sanidade animal.
Resultado destas ações preventivas podem ser
vistos frente às epidemias mundiais. Enquanto a Ásia, por exemplo, se encontra
numa fase endêmica de gripe aviária, nosso país não registra casos da
doença. O surto da doença em 2017 levou a um incremento considerável nas
exportações de frango para as regiões afetadas, principalmente a Ásia, Europa e
Oriente Médio. Outro exemplo é o da peste suína africana, erradicada do país em
1970, e que em 2018 preocupou a China e outros países asiáticos e europeus devido
a um surto. Os abates devidos a contaminação pela peste superaram a marca de 4
milhões, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura). O país também desenvolveu um método de análise da ração animal
para prevenir a chamada doença da vaca louca (Encefalopatia espongiforme
bovina) e hoje, segundo a OIE (Organização Mundial de Saúde Anima), o risco da
doença no Brasil é insignificante.
O crescimento no consumo de carnes, a
intensificação da produção e as epidemias mundiais são os três pilares
responsáveis pelo crescimento do mercado de produtos de saúde animal no Brasil.
A extensa produção brasileira motivou as principais indústrias de saúde animal
a se instalarem no país. Essas empresas investem extensamente em pesquisas,
adotam tecnologias de ponta e oferecem produtos cada vez mais eficazes no
mercado. O faturamento das indústrias de produtos para saúde animal representou
R$ 5,8 bilhões em 2018. Os ruminantes dominaram esse mercado, com faturamento
de R$ 2,9 bilhões, correspondente a 55% do total.
Contudo, para atender a esse mercado cada vez
mais exigente e em franca expansão da proteína de origem animal e atingir os
padrões de sanidade animal desejados, há um grande desafio: o da distribuição
para garantir o atendimento total do produtor em caráter preventivo e/ou
curativo.
A adequada capilaridade na entrega exige que
diferentes players atuem na cadeia. A escala de compra é fator
determinante. Três principais modelos de canais de distribuição podem ser
mapeados. O primeiro é o chamado Key Account, pelo qual os produtos
advindos de pedidos em largas escalas são distribuídos diretamente pela
indústria farmacêutica ao produtor final podendo, ou não, passar por
cooperativas ou por distribuidores na categoria long-tail.
O segundo é modelo distribuidor, pelo qual os
produtos saem da indústria, ganham capilaridade pelo território brasileiro por
meio de distribuidores e são vendidos ao produtor final, via pedidos em
pequenas escalas nas revendas. E há ainda o atacado/verticalizado em que os
produtos que saem da indústria são vendidos para o produtor final por meio de
um único operador, que atua como ambos distribuidor e revenda.
A relevância do modelo do canal de distribuição é
diferente dependendo do tipo de animal de produção. Para bovinos, devido à
extensa pulverização produção distribuída em todo o território nacional,
prevalece o modelo distribuidor, seguido do modelo atacado. Já as aves e
suínos, cuja produção concentra-se majoritariamente em cooperativas no sul do
Brasil, o modelo prevalente é o key account.
Pensando nessa busca pela segurança alimentar,
nos relevantes índices de exportação, faz-se necessário que o produtor
brasileiro entenda e reflita sobre a necessidade da distribuição e busque os
métodos que vão lhe garantir a saúde animal em toda a cadeia.
Robinson
Cannaval Jr – Sócio fundador e diretor do Grupo Innovatech,
Diretor executivo da Innovatech Consultoria, Formado em Engenharia Florestal
pela ESALQ/USP, com especialização em Gestão estratégica de Negócios pela Unicamp
e MBAs em Finanças e Valuation pela FGV.
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