Mesmo com mortalidade
abaixo da média mundial, o câncer de mama no Brasil ainda tem alta incidência;
Solução passa por persistir na prevenção e estímulo à realização do exame de
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Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) trazem uma
boa notícia: os índices de mortalidade por câncer de mama continuam caindo no
Brasil. Apesar de o levantamento divulgado indicar que foram diagnosticados 60
mil novos casos em 2019, mantendo a média dos últimos anos – um volume alto, de
acordo com especialistas -, a taxa de morte pela doença vem caindo continuamente no país.
Outro estudo recente,
também divulgado pela entidade, aponta que o Brasil está situado no segundo nível
mais baixo de mortes causadas pelo câncer de mama,
com uma taxa de 13 por 100 mil habitantes, ficando ao
lado de países desenvolvidos, como EUA, Canadá e Austrália, e melhor até mesmo
do que alguns deles, como a França e o Reino Unido. A incidência, porém,
persiste alta em comparação aos índices
globais: são 62,9 casos por 100 mil mulheres, valor que representa, em
contrapartida, a segunda faixa mais elevada entre as
cinco existentes relativas à incidência de câncer de mama entre todas as
nações.
Em partes, o fato de a
taxa de incidência ser considerada alta e a de
mortalidade ser relativamente baixa mostra que as campanhas de conscientização
sobre a condição e incentivo à realização de exames preventivos para o diagnóstico
precoce, em especial da mamografia, têm mostrado resultado. O exame de raio-X
na qual a mama é comprimida permite que sejam identificados tumores menores que
1 cm e lesões em início, sendo determinante para o diagnóstico do câncer de
mama logo no início.
“O primeiro e principal
passo para vencermos a doença é o conhecimento. Temos que maximizar a exposição
das informações para que cada vez mais mulheres e população em geral estejam
conscientes da necessidade de realização da mamografia a partir dos 40 anos,
considerando que a incidência da doença começa a aumentar consideravelmente a
partir desta idade. O auge de detecções acontece dos 50 aos 60 anos, tidas como
as faixas etárias de risco”, afirma o oncologista Bruno Ferrari, fundador e
Presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas.
Dr. Bruno lembra que mulheres com histórico de câncer na família, ou seja, cujas
mães, avós ou irmãs tiveram câncer de mama, devem iniciar o rastreio por
mamografia mais cedo, aos 35 anos. “Cerca de 10% dos casos de câncer de mama
estão associados a fatores genéticos hereditários, ou seja, transmitidos de
pais para filhos. Nessas situações, o controle preventivo deve ser iniciado
antes mesmo dos 40 anos por conta do risco aumentado”.
Realidade brasileira
Apesar de o empenho das
sociedades médicas e do poder público em informar a população feminina sobre a
necessidade de realização da mamografia, o quadro geral no Brasil está longe de
ser homogêneo. A última Pesquisa Nacional de Saúde sobre o tema, de 2013,
mostra que entre as brasileiras de 50 a 69 anos com instrução superior passam
de 80% o percentual das que fizeram mamografia em um período de dois anos.
Entre as mulheres sem instrução ou com nível fundamental incompleto, esse
percentual cai para cerca de 50%, e chega a menos de 30% na Região Norte.
Essas desigualdades
resultam em uma soma de quase 4 milhões de mulheres - 18,4% da população
feminina entre 50 e 69 anos - que nunca realizou o exame. Comparativamente, o
maior índice entre as grandes regiões fica novamente com o Norte (37,8%),
contra 11,9% do Sudeste, que tem a menor taxa.
Outro levantamento,
feito pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), revela que o número de
mamografias feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), considerando o ano de
2017, foi o menor registrado em um período de cinco anos entre mulheres na
faixa etária alvo. Os dados apontam que, entre os 11,5 milhões de exames na
rede pública esperados, apenas 2,7 milhões foram realizados, o que representa
23% do total.
Para o Dr. Bruno, a distribuição dos equipamentos para
realização do exame é certamente um ponto a ser avaliado pelos governos
municipais, estaduais e federal, visando ampliar o acesso a toda a sociedade de
forma igualitária. Outro desafio está em vencer o receio em relação à
mamografia, em grande parte derivado de boatos que desencorajam e causam pânico
às pacientes.
“Apesar de simples e
rápido, há muitas mulheres que afirmam temer a dor causada pela máquina no
momento da captação das imagens. A tecnologia vem evoluindo ano a ano, o que
garante mais conforto no momento do exame. Além disso, o exame não causa
qualquer tipo de prejuízo à saúde, pelo contrário, ele é um aliado. Para que a
detecção precoce do câncer de mama aconteça, é essencial que estes tabus sejam vencidos”,
pontua.
Autoexame
é válido, mas não pode ser fim em si mesmo
Em partes, essa
diferença nos percentuais de realização da mamografia também estão ligadas à
crença de que o autoexame das mamas (AEM) é suficiente para a detecção de
possíveis nódulos.
“Todas as mulheres a
partir dos 18 anos devem fazer o autoexame mensalmente, no primeiro dia após a
menstruação. Ele é uma importante ferramenta para as mulheres conhecerem seu
próprio corpo, o que é fundamental para que detectem alterações nas mamas, caso
ocorram”, afirma o oncologista, apontando que esse é o momento em que o seio
está com menos influência dos hormônios do ciclo, o que facilita o toque.
A qualquer alteração que
ela sentir, sejam nódulos, mas também mudanças como alguma retração ou líquidos
saindo do mamilo, por exemplo, é necessário ir ao mastologista imediatamente.
“Todavia, esse
conhecimento do próprio corpo, apesar de imprescindível, não detecta, em geral,
nódulos muito pequenos ou em estágio inicial, quando ainda não são palpáveis. Por
isso, o autoexame das mamas nunca deve substituir a mamografia, que deve ser
realizada anualmente por todas as mulheres acima dos 40 anos”, alerta o Dr. Bruno.
Uma revisão acadêmica de
ações públicas de controle sobre a doença, intitulada
Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil, reforça a fala do especialista. A análise indica
que o autoexame das mamas pode provocar efeitos negativos como aumento do
número de biópsias de lesões benignas e uma falsa segurança, pois, ao
examinar-se, a mulher pode se sentir segura do resultado, excluindo a busca por
outros métodos mais confiáveis.
Não à toa, o exame do
toque não é considerado como método diagnóstico precoce, embora faça parte
integral da discussão sobre o problema na sociedade, uma vez que permite que as
mulheres estejam alertas e conscientes sobre a importância da detecção precoce
do câncer de mama.
“A mulher, seja ela de
15 ou 80 anos, precisa se conhecer, ir sempre que possível ao ginecologista,
fazer o autoexame e, principalmente, fazer a mamografia anualmente após os 40
anos. As chances de cura chegam a 90% quando o tumor é descoberto no início,
sendo o tratamento menos invasivo, o que melhora, em muito, a qualidade de vida
e a retomada dessa mulher a sua vida normal”, finaliza Bruno Ferrari.
GRUPO ONCOCLÍNICAS
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