Vivemos uma época que demanda que as mulheres sejam
multitarefas. Na prática, temos que nos desdobrar para equilibrar todas as
atividades pelas quais somos responsáveis. Óbvio que essa forma de viver tem um
preço alto para as mulheres e exige uma carga energética física e mental
alucinante. Como resultado, enfrentamos o famoso quadro de estresse e, quando
percebemos, estamos tensas: músculos e nervos retesados. Há ampla literatura
sobre o impacto dessa tensão constante na qualidade de vida e na saúde
feminina, mas pouco se fala sobre a relação com a saúde odontológica. O
estresse está associado, claramente, às condições básicas para o
desenvolvimento de disfunção temporomandibular; para o bruxismo; ou para o
“apertamento” dentário.
E quais os sintomas? As dores de cabeça constante;
dores de ouvido; dor e pressão atrás dos olhos; dor ao mastigar ou ao bocejar;
estalos ao abrir e fechar a boca; travamento ou deslocamento da mandíbula;
mudança na forma de mastigar ou flacidez dos músculos da mastigação –
independente da sua idade –, podem indicar uma disfunção temporomandibular ou
bruxismo.
Conhecida como DTM, essa disfunção é causada pelo
mau funcionamento da articulação temporomandibular – a que liga o maxilar ao
crânio, auxiliando o movimento da mandíbula ao se projetar ou retrair; nos
movimentos para os lados, reflete diretamente na parte muscular, dos
ligamentos, dos discos e ossos ligados. O bruxismo, por sua vez, está ligado
aos contatos não funcionais entre os dentes, em movimentos ritmados e
involuntários. Ele pode tanto ser caracterizado como cêntrico – apertamento
dentário – ou excêntrico, o ranger de dentes. Um fato curioso é que pode
ocorrer tanto durante a noite, quanto ao longo do dia.
As forças excessivas aplicadas nos músculos –
masseter, temporal, pterigoideo medial e lateral – podem causar disfunção na
articulação temporomandibular, dores nas fibras dos músculos temporal, região
lateral e posterior do pescoço, alargamento ou espessamento do ligamento
periodontal e facetas de desgaste nos dentes posteriores e anteriores. O que
parece um descritivo muito técnico, na verdade é simples! Significa que
provocamos uma tensão muscular da face que dissemina problemas em toda a
vizinhança, incluindo a diminuição da altura dos dentes que compromete a parte
funcional e estética. Em muitos casos, há exposição de dentina – que é a camada
mais interna do dente, devido ao desgaste do esmalte – o que provoca
sensibilidade, principalmente no contato com alimentos gelados.
A ocorrência é resultado de fatores associados: da
genética, passando pela má oclusão, distúrbios miofuncionais orais, disfunção
da coluna vertebral com a cabeça projetada para frente e fatores psicológicos.
É nesse contexto que devemos ter muita atenção. Devido ao estresse emocional,
problemas respiratórios, sono, utilização de alguns fármacos, Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou problemas neurológicos podemos
ter quadros nos quais a saúde odontológica fica seriamente comprometida. Esses
problemas são causados por elementos multifatoriais e com origem no sistema
nervoso central, daí a resposta do porquê ser o diagnóstico ser tão complexo.
Para auxiliar no tratamento, a parte odontológica
deve ser devidamente avaliada e tratada. Cada paciente possui uma
peculiaridade, portanto, o planejamento deve ser único, seja no ajuste de
oclusão, no aumento da dimensão vertical por meio de peças de cerâmica ou
resina, no recobrimento da dentina exposta. Ou seja, tudo depende de um acurado
diagnóstico. Entretanto, defendo que devemos considerar todos os fatores
intraorais e extraorais, incluindo os que oferecem essa predisposição à tais
alterações odontológicas. O uso de placas oclusais pode ser a opção de um
tratamento-adjunto para o gerenciamento da dor – elas auxiliam no
reposicionamento do côndilo e/ou disco articular; reduzem a atividade
eletromiográfica dos músculos mastigatórios; auxiliam na modificação do
comportamento oral para evitar ou limitar lesão dental potencialmente induzida
pela desordem; e diminuem as alterações na oclusão do paciente.
Um outro recurso que as mulheres apreciam é o uso
da toxina botulínica do tipo A – chamada de neurotoxina, produzida pela
bactéria anaeróbica Clostridium botulinum. Ela tem como
efeito paralisar o músculo a partir da inibição da liberação de acetilcolina na
junção neuromuscular. É reconhecida cientificamente e é convencionalmente
comercializada com finalidade terapêutica.
No meu consultório, recomendo que esse tratamento
seja sempre multidisciplinar, ou seja, um olhar que envolve dentistas,
psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, neurologistas e
otorrinolaringologistas. Saber escutar o próprio corpo é sinal de autoestima e
reflete na qualidade de vida. E, deve caber em qualquer agenda feminina... por
mais atarefada que ela seja!
Dra.
Selma Nishimura - cirurgiã dentista na clínica Care Center Brasil. Graduada em Odontologia pela Faculdade de
Odontologia UNIP (FOUNIP-SP), possui especialização em Implante pela Faculdade
São Leopoldo Mandic SP; capacitação em Toxina Botulínica e Preenchimentos
Faciais; e certificação em Ozonioterapia na área odontológica, pela Associação
Brasileira de Ozonioterapia (ABOZ).
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