“Eu tenho dor de cabeça,
porque...” Quem nunca ouviu alguém dizer uma frase dessas para justificar esse
tormento à saúde? Pode ser o vinho, a leitura excessiva, o estresse no trabalho
e até a chegada da menstruação, no caso das mulheres. Muitos são os motivos que
as pessoas encontram para explicar suas dores, afastando-se da ajuda médica e
arriscando o próprio bem-estar.
Um exemplo é a enxaqueca,
diferenciada entre os demais tipos de cefaleia por ser unilateral (isto é,
atinge apenas um lado da cabeça), pulsátil, de forte intensidade e
durabilidade, além de piorar com o movimento e com a presença de luz e barulho.
Dessa forma, a enxaqueca
torna-se limitante no aspecto social. Segundo dr. Marcelo Ciciarelli, membro
titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), “o paciente tende a
procurar repouso em um lugar mais calmo, silencioso e com menos luz. O ambiente
de trabalho, na maioria das vezes, não é assim. Os ambientes de lazer, de
estudos, também não. Então, a doença acaba tirando a pessoa do convívio social,
acadêmico e profissional”.
No caso dos
pacientes com enxaqueca crônica, a dificuldade é maior. Caracterizada pela
presença de dor de cabeça em mais de 15 dias por mês, o impacto torna-se quase
diário, impossibilitando o indivíduo de muitas atividades.
A falta de conhecimento
e a recusa em procurar auxílio médico prejudicam ainda mais a situação. A
enxaqueca não deve ser confundida com as dores de cabeças típicas de outras
doenças. Ela é uma doença primária, de causa hereditária,
marcada pela
frequência constante. De acordo com estudos recentes, as únicas patologias
aliadas a ela são problemas tão preocupantes quanto, como depressão e ansiedade.
“A enxaqueca afeta todos
os domínios da vida. Casos clínicos mostram desde a ausência das crianças na
escola até a baixa frequência dos adultos no trabalho. Quando conseguem
comparecer, a produtividade não é a mesma. Isso mostra o impacto da doença na
qualidade de vida”, destaca dr. Ciciarelli.
A maior prevalência se
dá, contudo, entre os 20 e 40 anos, na idade mais produtiva. O estresse do dia
a dia, os hábitos alimentares nem sempre saudáveis e o consumo de bebidas
alcóolicas, por exemplo, ajudam no desencadeamento do quadro em pacientes já
predispostos. No caso das mulheres, as chances são ainda maiores, visto que a
contínua oscilação de estrogênio no organismo ao longo da vida interfere na
dor.
Tendo em vista esse
cenário, o dr. Ciciarelli incentiva a busca de um especialista e se opõe a
automedicação. “Os fatores considerados como causa da dor agem, na verdade,
como intensificadores do mal-estar. A população, portanto, não deve tentar
explicar a dor ou resolvê-la por conta própria, mas buscar auxílio de um
profissional adequado”.
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