Estamos no fim do ano e logo teremos diversas
confraternizações de trabalho, família e amigos. Quando se passa muito tempo
longe de alguém, é comum querer saber a vida dele, como está e o que tem feito.
Mas algumas perguntas podem ser íntimas demais e completamente inconvenientes.
Para um grupo específico de pessoas, existem
perguntas que podem machucar de forma inimaginável: os casais que ainda não
conseguiram ter filhos. “Muitos deles já estão em processo de tratamento para
infertilidade, mas não se sentem confortáveis para contar sobre isso, por
enquanto”, comenta a especialista em Reprodução Assistida, Cláudia Navarro.
Cláudia lembra que, quando um casal tentante chega
a uma festa, ele não deseja falar sobre o momento angustiante que está vivendo.
Frases como “quando vem o bebê?”, “já está na hora de arrumar um filho, hein?”,
“vocês já se casaram há muito tempo, por que ainda não têm filhos?”, podem ser
duras demais. “É bem provável que eles já pensem no assunto todos os dias”,
sugere a especialista.
Já quando o casal resolve responder que está, sim,
tentando uma gravidez, é comum ouvir que “é só relaxar e esquecer que você
engravida rapidinho”. Ou então: “aproveite para praticar (acompanhada de
risos)”; “eu conheço uma pessoa que utilizou um método infalível”; “qual dos
dois tem problema?”; “vocês tentando e eu não querendo de jeito nenhum, odeio
crianças”.
A especialista alerta: “Entenda, isso é cruel.”
Segundo Cláudia, todos os meses são extremamente
duros para o casal que está tentando ter um filho, mas encontra dificuldades.
Cada menstruação que desce, cada teste de gravidez negativo e cada exame que
aponta infertilidade, são indicados como pequenas derrotas por muitos casais.
“A sensação de impotência diante da infertilidade é uma realidade para boa parte dessas pessoas. Ouvir certos comentários
e perguntas só alimenta essa sensação”, diz Cláudia.
Saber que seu sistema reprodutivo é incapaz de
conceber naturalmente pode ser um baque forte demais para homens e mulheres.
“Nós, especialistas em Reprodução Assistida, sabemos que existem inúmeras
alternativas. É nosso papel apresentá-las da forma mais humana e mais delicada
possível”, pondera a médica. “Além disso, o tratamento sempre será individualizado,
respeitando a singularidade de cada caso”, lembra.
Do tratamento hormonal à Fertilização In Vitro, existem inúmeros processos, simples ou
complicados. Mas todos acendem chamas de esperança em cada casal que sonha em
ter filhos. “Ouvir comentários inconvenientes é como tomar banhos de água fria
e apagar, aos poucos, a esperança num resultado positivo”, analisa Cláudia
Navarro.
Portanto, se o casal ainda não falou sobre o
assunto abertamente é porque, provavelmente, ainda não se sente bem em
compartilhar daquele momento. “A única coisa a se fazer é deixar a curiosidade
de lado”, finaliza.
Cláudia Navarro - especialista em reprodução
assistida. Graduada em Medicina pela UFMG em 1988, titulou-se mestre e doutora
em Medicina (obstetrícia e ginecologia) também pela UFMG. Atualmente, atua na
área de reprodução humana, trabalhando principalmente os seguintes temas:
infertilidade, reprodução assistida, endocrinologia ginecológica, doação e
congelamento de gametas.
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