85% dos casos são
precedidos de ulceração nos pés; situação eleva custos na saúde
Um dos
principais riscos trazidos pela Diabetes – doença que afeta 16 milhões de
pessoas no país – é o da amputação dos membros inferiores. Dados do Ministério
da Saúde apontam que, de janeiro a julho de 2019, foram realizadas 9.019 cirurgias de
amputações de membros no Sistema Único de Saúde (SUS), em decorrência da
diabetes, o que representa média de
1.288 casos mensais. O mês de novembro reforça a conscientização sobre os
problemas associados à enfermidade (o Dia Mundial da Diabetes é celebrado hoje,
dia 14).
São Paulo foi o estado que mais realizou amputações, com 2.362
cirurgias no período. Em seguida, vem o estado de Minas Gerais, com 1.171
cirurgias e o Rio de Janeiro, com 743.“Estima-se que nos países em desenvolvimento,
25% dos pacientes com diabetes desenvolverão pelo menos uma úlcera do pé
durante a vida, lesão que precede a amputação em 85% dos casos”, explica o presidente da ABTPé (Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do
Tornozelo e Pé), Dr. Marco Tulio Costa. Os custos na saúde, envolvendo o
problema, são cinco vezes maiores em indivíduos com diabetes e úlceras no pé,
quando comparados com a ausência de úlceras. Essas despesas estão
principalmente relacionadas às hospitalizações, mas também ao tratamento e
acompanhamento de pacientes ambulatoriais.
A neuropatia diabética, que
consiste na perda da função dos nervos do pé, principalmente da sensibilidade
dolorosa e tátil, é um dos problemas mais sérios da doença, pois dificulta a
percepção do paciente em notar lesões ou contusões. Sem essa sensibilidade
protetora, áreas de pressão podem evoluir rapidamente, formando bolhas e
feridas e, ainda, possibilitando a entrada de microorganismos que causam
infecções no pé. No quadro de infecção grave, o paciente apresenta mal-estar
geral, febre alta e dificuldade de controlar os níveis de açúcar no sangue. “A
febre pode ou não estar associada”, salienta o Dr. Marco Tulio. Pode ainda
haver o aparecimento de abcesso, secreção purulenta, mau cheiro, inchaço e vermelhidão.
“Em casos graves, é necessária a cirurgia para
limpeza e desbridamento das lesões mais profundas, ou até mesmo a amputação de parte
ou de todo o pé para sanar a infecção”, ressalta o especialista.
As fraturas no pé e
tornozelo no paciente diabético com perda da sensibilidade também merecem
atenção especial. Elas são chamadas de artropatia de Charcot. O tratamento não costuma ser igual as fraturas
ocorridas no paciente não diabético. “O
paciente com diabetes também perde a sensibilidade para fraturas, deslocamentos
ou microtraumas ocorridos nos ossos do pé e tornozelo. O tratamento, dependendo
da gravidade, pode ser imobilização por gesso, órtese ou, ainda, cirurgia”,
fala o Dr. Marco Tulio.
Cuidados com o pé diabético
A ABTPé lista alguns dos
cuidados que o paciente com diabetes precisa ter com os pés:
- Examinar os pés
diariamente a procura de lesões, áreas avermelhadas, unhas encravadas ou
feridas abertas.
- Visualizar a planta dos
pés e o espaço entre os dedos.
- Manter os pés limpos e
secos.
- Não usar bolsas de água
quente nos pés.
- Utilizar creme hidratante
na região do calcanhar, planta e dorso do pé.
- Cortar as unhas retas,
sem arredondar os cantos, para evitar cortes na pele e que elas encravem na
lateral do dedo. Se já houver dificuldade na visão, pedir ajuda para cuidar e
aparar as unhas.
- Utilize calçados
confortáveis, acolchoados e sem costura interna. Dê preferência para calçados
feitos especialmente para pacientes diabéticos.
- Procure usar sempre meias
brancas de algodão, que facilitam a transpiração e deixam mais evidente
qualquer sinal de secreção ou sangramento que possa ocorrer.
Problema crescente
O número de amputações em
decorrência da diabetes aumentou 11,4% no país, na comparação entre 2017 e 2018
(de 12.426 cirurgias subiu para 13.846).
De acordo com o Ministério
da Saúde, o crescimento do diabetes é uma tendência mundial, devido ao processo
de envelhecimento da população, sendo diretamente ligado as mudanças dos
hábitos alimentares e à prática de atividade física. Em 2018, 7,7% da população
adulta brasileira foi diagnosticada com diabetes, o que representou aumento de
40% em relação ao ano de 2006 (5,5%). As mulheres apresentam maior percentual
de diagnóstico (8,1%), do que em homens (7,1%). Em ambos os sexos, quanto mais
jovem, menor o percentual de diagnóstico.
Em 2016, a diabetes foi a
quarta maior causa de morte no Brasil. Já em 2017, a doença passou a ser a
quinta maior causa de óbitos.
Associação Brasileira de Medicina e
Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé)
Nenhum comentário:
Postar um comentário