O uso da chupeta é muito antigo. Escavações
realizadas em tumbas de bebês, três mil anos atrás, já apresentavam objetos em
forma de bichos, com um orifício pelo qual eram introduzidos alimentos doces,
como mel. Mais tarde, na Idade Média, seguia o registro de objetos para o bebê
sugar e acalmar.
"Naquela época, bolinhas de tecido eram
amarradas junto às vestes ou ao berço do bebê, também contendo substâncias
adocicadas para tranquilizar os pequenos", explica a fonoaudióloga Malka
Birkman Toledano.
O uso de chupeta é, portanto, uma questão
cultural, que vem sendo transmitida de geração em geração há muito tempo.
"Essa bolinha de tecido foi se
sofisticando, de acordo inclusive com a segurança do uso. Para evitar engasgos,
asfixias e até mesmo a contaminação em função da dificuldade de higienização,
chegamos aos dias atuais com as modernas chupetas ortodônticas, de silicone,
BPA free."
Tão antiga quanto a cultura da chupeta é a
polêmica e as controvérsias envolvendo seu uso. Devemos oferecer a chupeta? E
se oferecer, quando deve ser retirada?
"A primeira questão é analisar o que leva
ao uso da chupeta? O ato de sugar é um reflexo vital dos bebês, diretamente
relacionado à manutenção da sua sobrevivência. Há, também, o prazer ligado a
esta prática, formando a tríade: saciedade da fome, contato com a mãe e ligação afetiva", explica.
Diversas áreas, como a fonoaudiologia, a
pediatria, a odontologia ou a psicologia, possuem diferentes abordagens com
relação à chamada sucção não nutritiva, representada pela chupeta. Há pontos
prós e contras, tanto sobre o uso como sobre o momento da retirada.
"Quando se oferece a chupeta ao invés do
seio materno, a livre demanda é reduzida. Ou seja, o bebê mama menos e, consequentemente,
a mãe produz menos leite, já que o leite é produzido, sobretudo, pela
estimulação. Desta maneira, estudos apontam que o uso da chupeta pode acelerar
o desmame do seio materno."
Há outros agravantes nos casos em que são
acrescentadas substâncias açucaradas na chupeta, especialmente com o objetivo
de fazer o bebê "pegar a chupeta", ou no simples intuito de reduzir
algumas dores e desconfortos inerentes aos primeiros meses. Outra questão
importante é a higienização da chupeta. Descuidos nesta etapa podem trazer
infecções intestinais e outras doenças, como cáries.
"O uso contínuo e continuado da chupeta
pode prejudicar o desenvolvimento da fala, ocasionar danos na arcada dentária e
prejuízos nas funções estomatognáticas, que englobam mastigação, deglutição,
respiração e fala", alerta a fonoaudióloga.
Como pontos favoráveis, está o aumento do
limiar de dor dos recém-nascidos, tanto pela chupeta como por meio do
aleitamento materno, que melhoram a qualidade do sono e favorecem o ganho de
peso.
"Não é à toa que, em inglês, chupeta é pacifier,
que em tradução literal para português, seria 'pacificador'".
A retirada da chupeta
É preciso ter cautela na retirada da chupeta,
pois o gesto de sugar não está ligado exclusivamente à nutrição; há uma memória
emocional envolvida nessa questão.
"A chupeta ocupa, muitas vezes, uma
função intermediadora, de ponte entre a mãe e a criança. Como se, de alguma
maneira, ela substituísse a sua presença. Pensando em todos esses aspectos, a
retirada da chupeta não pode ser uma decisão tomada apenas com base na idade da
criança, deve ser observado o contexto geral", sugere Malka.
A recomendação nas diferentes áreas da saúde é
que, em torno dos três anos, a criança não faça mais uso da chupeta. Até lá,
seu uso deve ser reduzido gradativamente, de forma que a criança não tenha
acesso a ela o tempo todo.
"Quanto mais assegurada estiver a rotina
da criança, mais segurança ela terá no 'desmame' da chupeta. Mas o inverso
também é verdadeiro: mudanças importantes na rotina da criança, como gravidez
materna, separações, viagens, nascimento de irmão, falecimento, desfralde,
dificultam o processo."
Qualquer que seja o método ou a época, a
fonoaudióloga sugere o diálogo com a criança sobre a retirada da chupeta, mesmo
que ela seja pequena.
"Conversar, negociar, fazer combinados
são estratégias que as crianças costumam compreender muito bem."
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