Cientistas brasileiros estudam o método não
invasivo, tecnicamente semelhante a outras opções de identificação da doença,
que pode reduzir o número de biópsias
Um estudo do Laboratório de Investigação Médica da
Disciplina de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP), em conjunto com o Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da USP,
conseguiu identificar pacientes com câncer de próstata a partir do exame de
amostras de urina. A pesquisa discrimina perfeitamente condições potenciais
para a detecção da doença.
“A urina pode conter elementos que reflitam os
processos bioquímicos relacionados ao desenvolvimento de um tumor”, explica a
Dra. Katia Leite, chefe do Laboratório de Investigação Médica da Urologia da
FMUSP e diretora científica da Genoa/LPCM. O estudo foi realizado em conjunto
com o Prof. Giuseppe Palmisano, do ICB da USP, e avaliou 12 pacientes, metade
com câncer de próstata e metade com hiperplasia benigna. Concluiu que um painel
de 56 glicoproteínas (tipo de proteína ligado a um carboidrato) nas amostras de
urina alcançou uma precisão de 100% no diagnóstico do câncer de próstata
(Oncotarget, 2018, Vol. 9, (No. 69), pp: 33077-33097).
Em trabalho subsequente, analisando o tecido
prostático obtido por biópsia, um painel de 11 proteínas conseguiu discriminar
pacientes com câncer de próstata favorável e desfavorável (Kawahara et al.
Proteomics 2019; doi.org/10.1002/pmic.201900174). Para a Dra. Katia, essa informação é de enorme
relevância, pois conduz a escolha do tratamento, que inicialmente pode ser
baseado na observação.
“A busca por rastreadores de diagnóstico e
prognóstico para substituir testes com baixa confiabilidade ou invasivos é
extremamente importante. Apesar de existirem testes semelhantes disponíveis
comercialmente, esses exames têm alto custo e baixa disponibilidade. O que
procuramos são marcadores específicos, sensíveis a baixo custo para o uso na
população brasileira”, afirma a Dra. Katia Leite.
Atualmente, o câncer de próstata é classificado
pela escala de Gleason ou ISUP (International Society of Urological Pathology),
o indicador prognóstico mais importante para determinar o direcionamento
terapêutico. No entanto, o sistema tem limitações por conta da heterogeneidade
do tumor, amostragem limitada e subjetividade na interpretação da biópsia.
As escalas classificam o câncer em pontuações
variáveis de 6 e 10 (Gleason) ou de 1 a 5 (ISUP), sendo o Gleason 6 ou ISUP 1 o
tumor mais bem diferenciado e, portanto, de prognóstico favorável. “Os tumores
benignos e pequenos podem ser manejados de modo expectante, conduta denominada
“active surveillance” ou vigilância ativa, onde o tratamento curativo pode ser
postergado, evitando assim seus possíveis efeitos colaterais”, diz a
especialista.
A biópsia é a única maneira de se diagnosticar o
câncer de próstata e definir seu potencial de agressividade. Porém, por ser
invasivo, não é isento de morbidades como a infecção e o sangramento. Ainda é o
exame mais importante e continuará sendo para o diagnóstico do câncer da
próstata. “O avanço dos testes não invasivos tem como objetivo a redução do
número de biópsias e a melhor caracterização do potencial de agressividade do
tumor, e pode ter um grande impacto econômico e no bem-estar do homem”, finaliza
a diretora científica da Genoa/LPCM.
Fonte: Genoa/LPCM
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