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quinta-feira, 18 de julho de 2019

Pinóquio


Todos, provavelmente, conhecem a história de Pinóquio, boneco de madeira que ganhou vida após um desejo de seu criador. Todos, provavelmente, sabem que quando Pinóquio mentia, seu nariz de madeira crescia. 
 — Seu nariz vai crescer – dizem as mães aos filhos que mentem.
Mentira vem do latim mentiri, que significa enganar, dizer falsidades. Indica uma falha, um defeito. É fruto de uma vontade empenhada em ludibriar. 
Mentir, em geral, é feio, indica falha de caráter, inclinação para o mal. No entanto, não conheço uma só pessoa que não tenha mentido pelo menos uma vez em sua vida.
Para se viver em sociedade, várias vezes precisamos mentir. "Uma mentirinha de nada", é o que dizemos. Mentimos para não magoar os outros. Mentimos para preservar nosso orgulho. Mentimos para conseguirmos o que queremos sem precisar usar a força ou outros meios não recomendáveis.
— Você gostou do meu novo corte de cabelo?
— Claro, está lindo!
Mentira. Você odiou, mas não pode dizer isso sem magoar sua vizinha.
— Querido, eu engordei?
— Claro que não, amor. Está magrinha como sempre.
Mentira. Mas qual é o marido que diria a verdade nesta situação?
— Qual o motivo para você ter saído da empresa anterior?
— Eu queria novos desafios. Na empresa antiga eu não tinha mais chances de crescer.
Mentira. Você foi mandado embora, mas se quiser conseguir o emprego novo, não pode contar a verdade.
Não estou, nem por um momento, defendendo a mentira. De modo algum. Só estou dizendo que todo mundo mente e que, às vezes, para viver em sociedade, é necessário mentir.

Mentiras e mentiras
Existem as mentiras inofensivas, para não magoar alguém, e existem as mentiras nocivas, com o intuito de realmente enganar, se aproveitar do outro, ludibriar com malícia.
Há aquelas pessoas que querem tanto agradar que mentem o tempo todo, mas não enganam ninguém. 
— Você está parecendo 10 anos mais jovem com esse cabelo.
Você sabe que seu cabelo está horrível e estava planejando cortá-lo na semana seguinte. 
— Você emagreceu? Está linda.
Você sabe que engordou e suas roupas não lhe servem mais.
Essas pessoas necessitam de atenção redobrada, pois não estão mentindo para te proteger e, sim, para ganhar alguma coisa de você, seja simpatia, seja amor, seja algum bem material. Cuidado. 
Outras mentiras são perigosas e pessoas assim deveriam ser abolidas do nosso convívio. Alguns indivíduos se tornam mestres em mentir. Mentem com tanta facilidade que já não conseguem mais distinguir uma verdade de uma mentira.
A palavra mens está na raiz da mentira. Mens significa "mente", "inteligência", "discernimento", o que nos leva a concluir que o mentiroso precisa ter uma boa cabeça e, principalmente, uma boa memória. Não pode entrar em contradição e deve ser bastante criativo para ser convincente.

Mentir para os outros ou para si mesmo?
Algumas vezes não temos a intenção de mentir para enganar. Algumas vezes, mentimos para nós mesmos. Se o outro acreditar em nossa mentira, talvez acabemos nos convencendo de que aquilo é real.
— João me ama muito. Ele é louco por mim. Faz tudo por mim. 
Você acompanha o relacionamento de perto e sabe que aquilo não é verdade. Mas por que razão sua amiga mentiria desse jeito?
A questão é: ela não está realmente mentindo. Ela quer a todo custo acreditar naquilo.
— Sou o melhor funcionário da empresa. Todos me admiram e é só uma questão de tempo até que eu seja promovido.
Você já ouviu diversas reclamações a respeito de seu colega e ele já recebeu diversas advertências. Então por que está mentindo desse jeito?
A mentira é a única forma que ele encontrou para preservar o seu orgulho e não sucumbir à auto piedade e à depressão. 
Às vezes, de tanto mentirmos, passamos a acreditar em nossas próprias mentiras. Às vezes, nossa vontade de acreditar naquilo é tão grande que nem percebemos que estamos mentindo. Mentimos inconscientemente.
E quando isso acontece, não adianta ninguém tentar abrir nossos olhos. 
Mentimos porque queremos, precisamos, acreditamos.

Mentira ou verdade?
A mentira existe desde que o mundo é mundo. Mas será que sempre sabemos quando um fato é real e quando não é?
Podemos dizer com certeza absoluta que determinada pessoa está mentindo, 100% das vezes?
— Você gostou do meu novo corte de cabelo?
— Claro, está lindo!
Você achou o corte horrível, gostaria de ter dito que não combinou com o rosto dela, mas quem disse que sua opinião é a certa? Quem disse que outras pessoas não acharão aquele corte bonito? Quem disse que ao dizer que está lindo você realmente está mentindo?
— Você emagreceu? Está linda.
Você sabe que engordou e suas roupas não lhe servem mais. Mas quem disse que seu amigo está mentindo? E se, apesar de tudo, ele está te achando realmente linda?
A verdade é subjetiva. A mentira também. Podemos falar a verdade mentindo. Podemos dizer mentiras, falando a verdade. Complicado? Sim, como tudo na vida.
— Você está com um aspecto horrível. O cigarro está acabando com você.
A pessoa não está com aspecto horrível. Você mentiu. Mas ela fuma muito e você sabe que precisa fazê-la entender que fumar faz mal. Você mentiu ou disse a verdade?
— Não vá para a rua. O velho do saco irá te pegar.
Não existem velhos do saco. Você mentiu para seu filho de cinco anos. Mas se ele sair na rua pode, sim, ser sequestrado, atropelado ou pode se machucar seriamente. Você mentiu ou disse a verdade?
— Você é linda, vai arrasar no teste.
Verdade, sua amiga é muito linda, mas várias outras aspirantes a atriz também são. Não basta a beleza. Ela precisa ter personalidade, talento, algo que a diferencie. Mas sem dúvida, ela é linda. Você disse a verdade ou mentiu?

Portanto, nem sempre é tão fácil distinguir quando estamos mentindo ou dizendo a verdade. 

Mentirosos profissionais ou amadores, mentiras inofensivas ou nocivas, proteção ou enganação. Mentira é mentira, não importa como a vemos ou definimos. Mas nem sempre conseguimos identificá-las.

Mais uma mentira

Para finalizar, existe ainda outra classe de mentiras. A mentira divertida que dura apenas alguns minutos. Você conta uma mentira propositalmente, fazendo de tudo para ludibriar o outro, com a cara mais lavada do mundo e após conseguir o seu intento, você grita:

— Primeiro de Abril!

Quem consegue passar sem essa mentira?




Lúcia Moyses - teve sua primeira formação em análise de sistemas pela FATEC (Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo), complementando os seus estudos com curso de pós-graduação na UNICAMP (Universidade de Campinas). Atuou nessa área por mais de 20 anos e foi convidada para ser coautora em uma obra da IBM, em sua sede nos Estados Unidos. Administrou cursos e palestras, inclusive para pessoas com necessidades especiais. A partir desta experiência, a escritora se interessou pela área de humanas. Foi então que decidiu seguir a carreira de Psicóloga, concluindo o bacharelado na FMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas) e, logo depois, se especializando em Neuropsicologia e Reabilitação Cognitiva pelo (INESP) - Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa. Em 2013, lançou seu primeiro livro "Você Me Conhece?" e dois anos depois o livro "E Viveram Felizes Para Sempre", ambos com um enfoque em relacionamentos humanos e psicologia. Três anos após a especialização em Neuropsicologia, Lucia lançou os três primeiros livros: "Por Todo Infinito", "Só por Cima do Meu Cadáver" e "Uma Dose Fatal", da coleção DeZequilíbrios. Composta por dez livros independentes entre si, a coleção explora a mente humana e os relacionamentos pessoais. Cada volume conta um drama diferente, envolvendo um distúrbio psiquiátrico, tendo como elo o entrelaçamento da vida da personagem principal. Em 2018, a psicóloga lançou mais três livros: "A Mulher do Vestido Azul", "Não Me Toque" e "Um Copo de Veneno", totalizando seis livros da coleção.

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