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quinta-feira, 18 de julho de 2019

Influenciadores digitais e o novo conceito de amizade virtual unilateral


Pesquisa da Diário de Campo revela que 84% das pessoas seguem a vida de influenciadores digitais e 44% os consideram verdadeiros amigos


A pesquisa #Hashtag Seguidores, realizada de março a maio de 2019, pelo Instituto de Estudos de Comportamento e Consumo Diário de Campo, com 1.260 pessoas de todo o Brasil, revelou que o hábito de seguir blogueiros (as) / influenciadores / celebridades é expressivo no Brasil:

  • 84,3% dizem gostar de seguir e acompanhar com frequência blogueiros(as) / influenciadores / celebridades;
  • 12,2% seguem, mas não veem perfis dos influenciadores com muita frequência;
  • apenas 3,5% não seguem/não gostam de seguir influenciadores.

E essa grande influência se explica pela alta sensação de proximidade dos seguidores em relação a influenciadores:

  • 62% se consideram próximos aos blogueiros(as) / influenciadores digitais / celebridades;

  • 40% dizem se considerar bem próximos dos influenciadores como são dos amigos ou até mais próximos do que os amigos da “vida real”;

  • 44% dizem que influenciadores poderiam ser chamados de seus amigos;

  • Isso é mais forte entre os homens, 52% deles chamam influenciadores de amigos. Ou seja, um em cada dois homens acredita que um digital influencer é verdadeiramente um amigo.

Para a médica Bruna Gomes “um mundo sem influenciadoras seria triste. Já me acostumei a acompanhar algumas delas. Sei muito da vida delas. Elas são como minhas amigas.”

“Quando vejo o @italomarsili, parece que ele está falando comigo. É um cara crítico, sincero, sem filtros. Já conheço tanto que se eu cruzar com ele na rua vou querer parar para falar com ele como se fosse um amigo... Porque ele é mesmo. O cara se abre nos stories dele. Se abre mais do que vários amigos que tenho.”, diz Pedro Magalhães, de 56 anos.

Renata Del Caro, sócia da Diário de Campo Pesquisa, defende que relacionamentos, mesmo os de amizade, exigem trabalho. Nos dias atuais, a tecnologia se vende como uma solução simples, rápida e indolor. Ela aplaca o medo da intimidade e possibilita a conexão com controle: assisto a stories na hora em que quero, sigo apenas o que e quem quero, faço tudo o que mais conveniente para mim. No fim, temos a ilusão de estarmos em companhia, mas sem as demandas de um relacionamento offline.

“Vimos no campo da pesquisa que amigos virtuais permeiam até mesmo as conversas offline e presenciais entre amigos.”, complementa Julianna Queiróz, também sócia da Diário de Campo Pesquisa.

Segundo Raquel Nazareh, de 22 anos, “Numa roda de amigos, tem uma hora que está todo mundo olhando o celular, principalmente o WhatsApp e o Instagram. Fica aquele silêncio. Mas se alguém vê algum look legal, alguma coisa interessante, fala para os outros, e aí a gente engata em outra conversa ou não... ou continuamos olhando os celulares.”


PRINCIPAIS INTERESSES

O estudo comprova que esse hábito de seguir influenciadores digitais está relacionado a benefícios que os mesmos trazem para suas vidas. Desde algo intangível - como bem-estar, leveza, prazer - , como aspectos tangíveis - como dicas de compras e lugares para ir.

·       52% dos entrevistados dizem que seguem influenciadores porque dão ótimas dicas de compras, beleza, receitas, viagens etc;
·       45% afirmam seguir porque são engraçados.

“Questões de gênero, feminismo, política têm menos espaço em uma rede social de maior apelo visual. Quando se quer falar de política e outros temas mais densos, as pessoas preferem redes que dão espaço para texto. Isso porque um texto permite se pensar mais e reescrever, obtendo um resultado mais próximo ao desejado. Já o vídeo exige boa articulação, expressão, palavras na ponta da língua, raciocínio rápido. Um vídeo que pareça ensaiado perde a credibilidade“, analisa Julianna Queiróz.

As pessoas estão buscando o humor acima de qualquer outro assunto específico (55,2% das pessoas seguem pessoas que usam o humor em suas postagens). O humor funciona como um lugar de fuga dos problemas enfrentados tanto na vida pessoal, como política e social. O humor como uma possibilidade de respiro, um momento de poder desligar do dia a dia retratado pelos entrevistados como “pesado”.

Assim, o interesse é maior por influenciadores que falam principalmente sobre:

1. Humor (55%)
2. Comidas / receitas (49%)
3. Moda (48%)
4. Cabelo / Pele / Maquiagem (48%)
5. Música (48%)
6. Viagem (47%)
7. A vida deles mesmos (questões pessoais, o que fazem do dia a dia) (46%)

Falar sobre a vida deles mesmos, tende a capturar ainda mais a atenção dos seguidores. Assuntos banais ou sérios com uma conotação pessoal criam conexão. 57% dos entrevistados dizem se interessar por influenciadores que falam se suas vidas.

Bruna Gomes segue mais de 20 influenciadores, mas cinco desses são especiais e ela tenta não perder um único story. “Eu comecei a seguir por interesse em algum assunto específico, como arquitetura, dieta... Mas acabei ficando próxima vendo elas falando e mostrando a vida delas. Acompanho o que fazem no dia a dia, aonde vão, a vida amorosa... Ouço elas várias vezes durante o dia. Aproveito atividades da minha rotina, como quando estou lavando louça ou escovando os dentes para ver os stories.”, diz Bruna.

Já para Adriana Rosas, de 45 anos, saber da vida do influenciador, só faz sentido quando essa pessoa tem um estilo de vida relativamente parecido com o dela. “De algumas influenciadoras me interessa a vida pessoal, de outras não. Tem muitas que têm uma vida muito destoante da minha, não são pessoas normais. Já a  @abocarosabeauty e a @evelyn falam quando estão menstruadas, quando vão ao banco, limpam a casa, cuidam do cachorro. Aí é legal, porque você consegue ver o que você consegue aproveitar para o seu dia a dia.”, conta Adriana. Ela faz parte das 47% das pessoas que dizem se sentirem bem em ver pessoas que pensam como ela, mesmo sem conhecer pessoalmente.


APIRACIONAL / FUNÇÃO TERAPÊUTICA

A pesquisa da Diário de Campo também revelou que redes sociais como o Instagram fomentam o aspiracional, ou seja, o sonhar com aquilo que não se tem: 67% das pessoas dizem que gostam de ver dicas de lugares, passeios e produtos que sabem que não podem pagar, mas que inspiram e fazem sonhar.

”Se por um lado esse hábito de estar em contato com o inalcançável pode manter as pessoas em um constante lugar de falta, de escassez, elevando os níveis de ansiedade, por outro, paradoxalmente, também tem uma função terapêutica”, explica Renata Del Caro.

Além disso, os influenciadores, por exemplo, têm um papel muito importante na construção da autoconfiança.

  • 56% das pessoas dizem que os influenciadores as ajudam a ter mais autoestima e se aceitarem como são;
  • 51% dizem que os influenciadores as ajudam a encarar a vida de forma mais positiva;
  • 44% das pessoas dizem que os influenciadores as ajudam a se relacionarem melhor com amigos, familiares e parceiros.

“Muitos influenciadores incluem em suas postagens frases motivadoras, de auto-superação, auto-aceitação, dando estímulos necessários em momentos de carência e, até mesmo, aplacando e preenchendo o lugar de falta que o própria rede social fomenta com suas imagens, corpos e vidas perfeitas. Já, inclusive, nos deparamos com depoimentos de casos de depressão que foram amenizados por estímulos de influenciadores.”, diz Julianna Queiróz.

Para Jaqueline da Silva, de 38 anos, seguir pessoas que ela considera de sucesso, a ajuda a ter ideias de como melhorar sua própria vida. “A gente fica querendo acompanhar o que uma pessoa bonita faz para ficar daquele jeito. Quero ver a carreira dela para saber o que ela fez para chegar a esse patamar”, conta Jaqueline.

A influenciadora digital Kika, do perfil no Instagram @DicadaKika, diz perceber que “hoje em dia está faltando mais esse contato mais próximo entre as pessoas. Vejo as pessoas mais carentes. Então, se a pessoa te vê ali falando no story, ela acha que você está conversando só com ela. Quando eu faço um story, eu penso que eu estou falando para aquela pessoa que está me vendo.”

É assim com Liliane Pereira, de 39 anos, uma das participantes da pesquisa Hashtag Seguidores: “Ver a Kika, do @DicadaKika, toda manhã me faz ter vontade de sair de casa, de viver! Ela ainda me apresenta lugares que antes eram só em sonho pra mim. Um dia ela até me incentivou ir no Copacabana Palace. Vendo ela lá e então sabendo como tudo é lá, acreditei que eu também podia ir.”

Seguindo a lista de benefícios, influenciadores digitais são responsáveis por aumentar o repertório da conversa de 46% de quem os acompanha. Ou seja, o que os influenciadores dizem é replicado em conversas fora da rede. Por meio deles, as pessoas também têm a oportunidade de viver realidades que dificilmente teriam a oportunidade de experimentar de outra forma. Não raramente, ouvimos que ao “consumir” influenciadores, as pessoas se destacam entre seus pares, elas se tornam “influenciadoras” de seus universos, ou seja, se tornam mais importantes e admiradas.

E, ainda, 44% das pessoas dizem que os influenciadores as ajudam a se relacionarem melhor com amigos, familiares, parceiros.

A seguidora Bruna Gomes, de 26 anos, atesta: “já aprendi muito com elas. Elas me fazem pensar sobre mim, me ajudam a refletir sobre vários assuntos. Até na minha relação com o meu namorado elas já influenciaram. Elas ampliam o meu olhar para o mundo. Já mudei a minha forma de pensar por causa delas.”


ESCAPISMO

A pesquisa da Diário de Campo também apontou que redes sociais voltadas a fotos e vídeos espontâneos – como o Instagram – são escolhidos para momentos de escape do dia a dia, das questões pessoais, momento para espairecer. “O Instagram amplifica os espaços vazios dentro da rotina. Curtos momentos de pausa entre uma atividade e outra são expandidos.”, explica Renata Del Caro.

·       53% porque ajuda a passar o tempo;
·       50% seguem porque os influenciadores são engraçados;
·       45% seguem porque gostam de ver estilos de vida diferentes dos deles;
·       41% seguem porque se sentem bem em ver pessoas que pensam como eles.


METODOLOGIA

A etapa quantitativa da pesquisa #Hashtag Seguidores foi realizada por meio de questionários online com 1.260 pessoas, de 14 a 55 anos, de todas as regiões do Brasil. A etapa qualitativa foi composta de 30 entrevistas em profundidade presenciais e online. A pesquisa se deu entre março e maio de 2019.




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