Médicos-veterinários
falam sobre as consequências do abandono e cuidados ao resgatar um animal nesta
situação
As férias de julho chegaram e, com elas, planos de
viagem e atividades com as crianças durante o recesso escolar tornam-se temas
frequentes em muitas casas, para que o período seja aproveitado da melhor
maneira possível. Porém, essa quebra na rotina também tem sido uma das causas
de uma questão preocupante: o aumento do número de animais abandonados, pois
nem sempre os pets estão incluídos no planejamento dos dias de descanso da família.
Embora faltem dados oficiais, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) estima que existam mais de 30 milhões de animais abandonados,
entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Há ainda números de institutos
de São Paulo (SP), que recebem cerca de três mil pedidos de resgate por mês. E
este não é um tema pertinente a apenas um estado ou país.
“Eu vejo como um grande
problema o descaso das famílias que têm um animal dentro de casa, que dizem que
criam um gato ou um cachorro, e aí chega num momento de viagem, simplesmente
soltam o animal”, alerta a médica-veterinária Cristiane Schilbach
Pizzutto, presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do Conselho Regional de
Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).
Atualmente, há alternativas para aqueles que não
podem viajar com os pets e não têm com quem deixar o animal, como os serviços
de pet
sitter – cuidado na própria casa – e hospedagem em hotéis para
animais com responsável técnico.
Consequências do abandono
Pela grande capacidade de adaptação dos animais, em
geral eles buscam alternativas para encontrar comida, locais que sirvam de
abrigo e ficam mais prudentes em um novo ambiente. No entanto, uma situação de
abandono também pode interferir no aspecto psicológico. “Tem muitos
animais que ficam doentes por problemas psicológicos, consequências do
abandono, da falta, da tristeza, quase uma depressão. Então, o abandono é muito
prejudicial para os animais”, afirma Thomas Faria Marzano,
presidente da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP.
Mais um ponto a levar em consideração é que quando
um pet que já foi abandonado é adotado por novos tutores pode haver uma
dificuldade de adaptação. “Ele consegue se adaptar, mas existe realmente uma
memória, uma lembrança do que ele passou no momento de abandono, que pode
dificultar o processo em uma nova casa. E o que agrava demais é quando o animal
é abandonado pela segunda vez. Aí, realmente, fica muito complicado. Ele tem
uma grande dificuldade de se adaptar numa terceira família. É claro que é possível,
mas o trabalho da família, que vai envolver toda esta adaptação, é maior”,
explica Cristiane.
O que leva alguém a abandonar
um pet?
“Geralmente, abandonam os
animais por agressividade, por exemplo, o animal que agrediu alguém da família.
Ou que traz algum tipo de transtorno, como latir demais, ou que frustra as
expectativas dos tutores. Às vezes, a pessoa compra, adota ou cria um animal
tendo uma expectativa sobre aquela espécie, aquela raça, e quando vai ver, tem
um comportamento completamente diferente e a pessoa não quer mais, abandona.
Então, são vários os fatores pelos quais as pessoas ‘devolvem’, não somente um
específico”, conta a profissional.
Outra questão mencionada pela médica-veterinária é
o abandono de animais doentes: “A gente vê muito isso em universidades,
principalmente naquelas que têm curso de Medicina Veterinária. As pessoas levam
o animal ao hospital, pagam o médico-veterinário e descobrem alguma doença que
vai exigir tratamento, às vezes mais oneroso, então preferem descartar o
animal.”
Guarda responsável
“Para quem está decidindo ter
um animalzinho em casa, uma das coisas que tem que saber é que é um ser vivo,
ele é dependente. Ele não vai pegar comida sozinho, não vai tirar o cocô
sozinho, não faz xixi na privada. Ele precisa do ser humano. Então, é muito
importante as pessoas terem consciência disso”, aconselha Marzano.
Para Cristiane, a pessoa que opta por ter a
companhia de um pet precisa pensar muito bem. “É preciso escolher a espécie que atenda às
expectativas daquela família. Muitas vezes, a pessoa adquire um cachorro e dá
mais trabalho do que ela poderia ter. Talvez se ela tivesse adquirido um gato,
seria mais fácil de manejar. Então tem que pensar muito bem. A recomendação que
eu dou é que, antes de adquirir um animal, a pessoa procure um
médico-veterinário para obter orientações a respeito da espécie ou raça de
interesse, o que vai exigir do tutor, em relação a custos, cuidados com a
saúde, em relação a manejo, se terá que levar para passear, quanto vai gastar
mensalmente, e poder fazer uma previsão”.
Tendo estas informações, é necessário avaliar e
amadurecer a decisão.
Cuidados ao levar um animal
para casa
Quando encontram animais abandonados, às vezes até
debilitados, algumas pessoas tomam a atitude de levá-los para casa e adotá-los
– uma boa ação que merece ser destacada, mas que também exige algumas
precauções, para garantir a integridade da saúde destes pets e dos próprios
benfeitores.
“Sempre que se adota um animal
ou pega da rua, de alguma ONG ou abrigo, é muito importante que leve a um
médico-veterinário. Assim, mesmo não conhecendo o histórico, os tutores poderão
saber, mais ou menos, a idade que o animal tem, fazer os exames, para aí sim
poder cuidar bem dele. Muitas vezes, o animal pode estar desidratado, desnutrido,
com alguma doença bacteriana ou até mesmo viral. Por isso, até mesmo antes de
colocar ele para morar junto com outro animal, se já tiver um, ou alguma
criança em casa, o ideal é ter esse cuidado”, orienta
Thomas Marzano.
Sobre o CRMV-SP
O CRMV-SP tem como missão promover a Medicina
Veterinária e a Zootecnia, por meio da orientação, normatização e fiscalização
do exercício profissional em prol da saúde pública, animal e ambiental, zelando
pela ética. É o órgão de fiscalização do exercício profissional dos
médicos-veterinários e zootecnistas do Estado de São Paulo, com mais de 37 mil
profissionais ativos. Além disso, assessora os governos da União, Estados e
Municípios nos assuntos relacionados com as profissões por ele representadas.
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