Você sabia
que o Brasil já possui mais de 500 fintechs, startups que atuam no mercado de
serviços financeiros? Esta informação consta do último radar publicado pela
Fintechlab, site especializado no segmento, apresentando um crescimento
vertiginoso de 33% nos últimos 10 meses.
Altamente
especializadas, as Fintechs atuam em nichos como empréstimos online,
planejamento financeiro pessoal, investimentos, seguros, criptomoedas,
negociação de dívidas em atraso, câmbio e remessas internacionais, bancos
digitais e multisserviços.
Mas, o que justificaria
tamanho crescimento em um mercado altamente concentrado e regulado, cuja
concorrência esperada pelos gigantes seria dada como certa? Por analogia, que
tal abrir uma farmácia em uma área nobre de uma grande capital, dominada pelas
grandes redes? Seria morte na certa!
Um olhar mais atento revela as
cinco principais razões pelas quais as fintechs estão mudando este jogo. São
elas: tecnologia, empreendedorismo, tendências globais, regulamentação e oferta
de serviços. Confira o impacto de cada uma delas:
Tecnologia: de acordo com a Lei de Moore, profetizada pelo
co-fundador da Intel há mais de meio século, o poder de processamento dos
computadores dobraria a cada 18 meses. Tal profecia foi ratificada pelo
conceito de abundância de Peter Diamandis, presidente da Singularity
University. Armazenamento, processamento e tecnologias como inteligência
artificial, robótica, manufatura digital, nanomateriais e biologia sintética
são hoje acessíveis a novos entrantes, facilitando a entrada nos mercados.
Startups são basicamente empresas com forte base tecnológica.
Empreendedorismo: jovens se espelham no Vale do Silício, replicando
por aqui ecossistemas robustos: incubadoras, aceleradoras, fundos e
investidores-anjo, seja em São Paulo, Florianópolis ou Recife. Hoje, criar ou
trabalhar em uma startup é um dos grandes motivadores de millennials em busca
de propósito. Quer uma prova? Pela primeira vez, o maior contratante de
engenheiros da Poli USP não foi um dos grandes bancos tradicionais, e sim o
Nubank. Tal informação reafirma a pesquisa que traz o novo unicórnio financeiro
no ranking das empresas mais desejadas, de acordo com estudo da Cia. de
Talentos.
Tendências
globais: você sabia que na China há
dois serviços que dominam o mercado de pagamentos? O WeChat Pay, espécie de
WhatsApp chinês e o AliPay, do conglomerado Alibaba, os quais operam em apenas
um mês, valores superiores ao volume anual do PayPal. Ambos são considerados
Big Techs, gigantes tecnológicos que utilizam sua plataforma para alavancar
novos mercados. Apple, Facebook, Google e outros gigantes estão de olho neste
mercado. Se do outro lado do mundo deu certo, porque não por aqui?
Regulamentação: tente contar os grandes bancos no Brasil. Caso não
seja do setor, provavelmente uma mão será suficiente. Hoje, mais de 80% dos
ativos estão concentrados em apenas cinco organizações. Esta distorção traz
desafios aos reguladores do sistema, no caso o Banco Central do Brasil, cuja
agenda para os próximos anos traz como objetivos o aumento da concorrência, a
redução nos spreads e a universalização dos serviços. Situação análoga ocorre
na aviação e telefonia celular, só para mencionar dois exemplos.
Oferta de
serviços: o parágrafo anterior tem
relação direta com a atenção dedicada aos clientes. A combinação de baixa
concorrência, poucos produtos substitutos e barreiras de entrada relevantes,
trouxe uma acomodação aos participantes, cuja consequência se traduz nos
rankings de reclamações de órgãos de defesa de consumidores. Em contrapartida,
pesquisas tem demonstrado uma crescente satisfação dos clientes com as
fintechs, cuja oferta de serviços compreende taxas mais amigáveis, atendimento
humanizado, flexibilidade e empatia.
Em síntese, parece que a vida
dos bancos não será fácil daqui para a frente, assim como não foi para diversos
mercados e empresas afetados pela disrupção digital, tais como: táxis, hotéis,
locadoras, editoras e livrarias. Cabe a estes gigantes financeiros continuar o
movimento para diminuir a erosão de suas bases de clientes e mudar seus modelos
de negócios, ao mesmo tempo em que sofrerão pressões por melhores serviços e
menores taxas.
A seu favor, estes gigantes
financeiros contam com forte capitalização, robusta base de clientes, além da
confiança de seus stakeholders com respeito a sua solidez financeira. O
grande fator desafiador estará a cargo de seus gestores na mudança de mindset
necessária para aturarem em um ambiente diferente do atual, onde reinarão a
experiência do cliente e a elevada concorrência. Que venha logo o Open
Banking para ajudar a organizar este novo ecossistema!
Marcos Morita -
Gestor de Inovação na BankRisk - Educação Corporativa em Movimento
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