Muito se fala em
transformação digital e sobre seus futuros impactos no dia a dia das empresas e
de seus consumidores. É uma discussão intensa, tanto que às vezes parece que as
pessoas esquecem que já vivemos em uma era digitalmente transformada. Prova
disso é a quantidade de coisas que fazemos ou resolvemos através de aplicativos
no celular. Para paquerar tem app, para comprar comida tem app, para enviar uma
encomenda tem app, para resolver pepino no banco tem app, para não se perder na
cidade e escapar de problemas do trânsito tem app. Acabou o gás e tem jantar no
forno? App.
O mundo, portanto, está
digitalmente transformado, e isso também transformou a forma como as pessoas
pensam, se comportam ou agem frente a qualquer desafio. E, obviamente, não
tinha como esse pensamento digital não mudar o relacionamento das pessoas com o
trabalho e – mais ainda – o olhar das empresas sobre seus colaboradores.
Um fator importante é que,
embora estejamos falando de transformação digital, não falamos somente de
tecnologia, porque ela é um recurso secundário no todo dentro das organizações.
Para uma empresa se transformar digitalmente ela precisa investir nas pessoas
que vão escolher e operar sua tecnologia. As pessoas, sim, são o recurso
primário que a levará as organizações ao futuro. Mas o que as empresas buscam
dos profissionais com os quais pretende contar para superar esse desafio?
Formação em universidades de renome, pós-graduações, MBA, certificações
comprovadas? Não. As empresas digitalmente transformadas e em processo de se
transformarem precisam de pessoas com habilidades que nenhuma universidade
ensina, de indivíduos que tenham características pessoais potencialmente
agregadoras em diversos aspectos, as chamadas soft-skills.
O último relatório de tendências
para o mercado de trabalho publicado pelo IFTF (Institute for the Future),
organização educacional e de pesquisa estratégica independente e sem fins
lucrativos fundada em 1968, especializada em identificar tendências emergentes
e descontinuidades que transformarão a sociedade global e o mercado
internacional, apresenta seis dimensões comportamentais que envolvem
habilidades definidas como prioritárias para o mercado brasileiro. Tratam-se de
habilidades que não dependem de estudos formais, de MBA e muito menos de
habilidades técnicas, com as quais os profissionais ainda se preocupam tanto e
que tendem a se tornar cada vez mais irrelevantes nos processos de recrutamento
conforme as companhias forem se atualizando nesse sentido. São habilidades
essenciais não somente para o trabalho do futuro, mas também para a vida.
São elas:
MARCA PESSOAL
Para se ter ideia do tamanho
da importância da marca pessoal, basta considerar que dados da ONU preveem que
a população mundial chegará a incríveis 8,6 bilhões até 2030. Desta forma,
tornar-se notável será um desafio cada vez maior, incluindo-se aí os esforços
de conseguir uma colocação. Quando se fala em construir uma marca social, é
necessário partir do princípio de que, nas redes sociais, tudo o que você faz
terá de ser feito "em culturas diferentes e em um palco global". Aqui
está, portanto, o ponto de partida do profissional alinhado com o futuro: ter
em mente de que este futuro começa com quem você é e em quem você pretende se
tornar, lembrando sempre que o uso que você faz das suas redes sociais revelam
suas verdades.
FLUÊNCIA DIGITAL
Os avanços da tecnologia e
do seu alcance em diversos segmentos econômicos exige que os profissionais do
futuro tenham a chamada “fluência digital”, que significa a capacidade de lidar
com robôs e outras formas de inteligência artificial, cuja quantidade e
relevância só tendem a crescer conforme a transformação digital se expande.
Conhecer sua linguagem própria e ter a habilidade de estabelecer uma relação
produtiva com essas tecnologias, que integre humanos a robôs, portanto, é
essencial. Enquanto os assistentes de IA trarão mais eficiência e conveniência,
os profissionais precisarão saber como desenvolver essa inteligência de forma
que eles ampliem suas capacidades, façam mais e cada vez melhor, o que
impactará no desenvolvimento do próprio profissional.
PERTENCER A DIFERENTES
TRIBOS
Pertencer a tribos
significa, basicamente, construir uma boa rede de contatos. No futuro, a
tendência é que a economia seja cada vez mais baseada em pequenos
empreendedores, por isso os profissionais precisam aprender a lidar com
diferentes tipos de mercado e, portanto, de pessoas e interesses. Ser capaz de
construir uma rede de contatos própria e tão diversa é um desafio enorme, mas
que tem tudo para ampliar as oportunidades dos profissionais em suas carreiras.
FLEXIBILIDADE E INCLINAÇÃO À
MUDANÇA
O mundo do trabalho vem se
transformando cada vez mais rapidamente, prova disso é a perspectiva,
corroborada com diversos estudos de mercado, que diz que, no futuro, as novas
gerações terão profissões que ainda não existem. Isso significa que, como
profissionais, precisamos estar atentos a essas mudanças e, principalmente,
estar prontos para quando elas acontecerem. O sentido de flexibilidade e
inclinação à mudança predispõe uma facilidade maior para lidar com novos rumos,
com situações não previstas e que exigem do profissional um empenho tão grande
e focado quanto as situações planejadas. É preciso, portanto, manter o foco
inclusive em meio ao imprevisto e manter a produtividade mesmo na montanha
russa das transformações organizacionais.
RESILIÊNCIA
Esta é uma dimensão que é e
sempre foi importante em qualquer período do mercado de trabalho, até mesmo na
vida pessoal do profissional. Os resilientes vão longe, pois além de a
habilidade ser importante para a vida pessoal, a resiliência tende a ser um
traço extremamente relevante no ambiente profissional, pois ela faz com que as
pessoas não desistam frente às dificuldades que possam surgir. Em um futuro que
colocará o trabalho humano e as soluções tecnológicas no mesmo patamar, será
preciso que os profissionais tenham inteligência emocional, social e empatia,
estando preparados para lidar com coisas que ainda não conhecem, tirando o
melhor de cada experiência – dos erros aos acertos, sem desistir.
MENTALIDADE DE CRESCIMENTO
Esta é uma soft skill que
defendo como uma habilidade necessária aos profissionais do futuro em
complemento à lista do IFTF, porque ela está alinhada ao que as empresas
esperam de seus colaboradores – e que tendem a esperar cada vez mais. A
mentalidade de crescimento significa ter a cabeça aberta para ter novas ideias
o tempo todo, empreender, ter uma visão macro que permita um olhar capaz de
criar soluções mesmo antes dos problemas que elas venham a resolver. O
profissional que tem mentalidade de crescimento nunca fica acomodado, busca sempre
ampliar os resultados em todas as atividades que realiza, é altamente criativo
e motivado, constituindo um recurso extremamente importante para as empresas. É
o colaborador que gera resultados de negócio porque pensa que pode entregar
cada vez mais, de formas diferentes e inovadoras.
Barbara Olivier - formada em
Tecnologia, pós-graduada em Computação Gráfica e Multimídia e diretora
executiva de Inovação e Tecnologia na Afferolab, empresa líder em Aprendizagem
Corporativa no Brasil.
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