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quinta-feira, 23 de maio de 2019

50,9% de jovens acham a possessividade masculina o principal motivo do feminicídio no Brasil, diz pesquisa da Microcamp


Para 70,72% dos entrevistados, o medo impede que denúncias de violência doméstica sejam levadas adiante. A omissão das testemunhas também colabora para que o quadro se agrave no Brasil


Paulo Adib, em palestra sobre feminicídio para colaboradores da Microcamp



A maior causa do feminicídio no Brasil é o sentimento de posse dos homens e o medo ainda é o principal motivo que impede muitas mulheres, vítimas de violência doméstica, de denunciarem seus agressores. Foi o que apontou pesquisa realizada pela rede de escolas de informática Microcamp com suas alunas, a maioria adolescentes e jovens. O resultado corrobora outros estudos sobre o tema, e demonstra que apesar do avanço no respaldo às mulheres no Brasil, elas ainda se sentem ameaçadas.

"É lamentável que o medo ainda detenha as mulheres, porque a violência doméstica e familiar é o início e a ponta do icerberg e o feminicídio, um crime de ódio que deixa marcas profundas na alma" avalia o policial e advogado Paulo Adib, gerente de Inteligência e Segurança Institucional da Microcamp, que recentemente ministrou uma palestra para os colaboradoras da empresa e diante do resultado da pesquisa, deverá estender a apresentação para os alunos da rede.

A pesquisa foi feita entre os dias 4 e 7 de maio, em 29 cidades de cinco Estados brasileiros. Apesar de ser direcionada às mulheres, que representaram 90,9% (1547) das respostas, 8.6% de homens e 0,5% de pessoas que se declaram ter outra orientação sexual, fizeram questão de responder. No total foram ouvidas 1701 pessoas, a maioria (51,3%) com idade entre 10 e 15 anos, 37,6% (640) entre 16 a 20 anos e 11,1% (188) acima de 20 anos. Dos entrevistados, 50,6% têm Ensino médio, 37% Ensino Fundamental II, 7,5% Fundamental I, 6,7% Ensino superior e 2,9% Colégio Técnico.

Além do medo, citado por 70,7% dos entrevistados, o estudo apontou outros motivos pelo qual as mulheres aguentam tanto antes de tomarem alguma atitude: 17,3% acham que é por esperança de que a violência não vai se repetir, 8,6% acreditam que é porque as vítimas dependem financeiramente do agressor e 3,4% por vergonha.

Entre os entrevistados, a maioria (91.3%) afirmou que nunca foi vítima de violência doméstica, contra 8,7% que disseram que sim. Das que admitiram ter sido vítimas, a maioria (17,8%) denunciou o agressor, enquanto 15,8% não reagiram e preferiram se calar, e 12,4% pediram ajuda a parentes, amigos ou vizinhos.

Quando questionadas se conheciam alguém que foi vítima de violência doméstica, a maioria (59%) afirmou que não e 41% sim. A pesquisa quis saber também quem já presenciou algum tipo de violência doméstica, e 68,1% disseram que não, e 31,9% que sim. Dos que presenciaram, 26,1% disse que pediu ajuda, 2,1% garantiu que socorreu a vítima e 16,4% preferiu não se envolver.

Em vigor desde 2006 e considerada pela ONU a terceira melhor lei do mundo no combate à violência doméstica, a Lei Maria da Penha é conhecida por 88,7% das entrevistadas, 8,9% delas porém já ouviram falar da lei mas não sabem do que se trata e 2,4% não sabem o que é.

Já em relação ao feminicídio, a maioria (83,4%) disse saber o que é, enquanto 11,9% já ouviram falar, mas não sabem do que se trata e 4,7% desconhecem totalmente.

Na opinião de 50,9% dos pesquisados, o principal motivo do feminicídio hoje no Brasil é a possessividade dos homens. Já 21,2% disseram ser o ciúme, 15,8% apontaram a bebida e outras drogas como a causa, 11,2% assinalaram outros motivos e 1% atribui ao acesso à arma de fogo.

De acordo com a pesquisa, a maioria (61,35%) concorda que houve avanço na proteção às mulheres nos últimos anos no Brasil, mas admite que ainda há muito a ser feito. Já 29% acham que não houve melhoria e 9,8% diz que sim. Isso apesar de 52,45 admitirem não conhecer os mecanismos de ajuda que o governo, a polícia e o judiciário oferecem às mulheres.

Na avaliação do palestrante, houve uma evolução no respaldo às mulheres no Brasil, tanto no que diz respeito ao papel do judiciário, da polícia, do governo e suas políticas públicas de proteção. "Falta às mulheres romper esse ciclo vicioso, virar a página e saber que a guerra não acabou, está apenas começando".

Ao trazer o tema para o debate junto às suas alunas, a Microcamp quer encorajar as mulheres a romperem o silêncio, a se tornarem multiplicadoras de informação e se conscientizarem de que são vítimas.


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