Para 70,72% dos
entrevistados, o medo impede que denúncias de violência doméstica sejam levadas
adiante. A omissão das testemunhas também colabora para que o quadro se agrave
no Brasil
Paulo Adib, em
palestra sobre feminicídio para colaboradores da Microcamp
A maior causa do feminicídio no Brasil é o
sentimento de posse dos homens e o medo ainda é o principal motivo que impede
muitas mulheres, vítimas de violência doméstica, de denunciarem seus
agressores. Foi o que apontou pesquisa realizada pela rede de escolas de
informática Microcamp com suas alunas, a maioria adolescentes e jovens. O
resultado corrobora outros estudos sobre o tema, e demonstra que apesar do
avanço no respaldo às mulheres no Brasil, elas ainda se sentem ameaçadas.
"É lamentável que o medo ainda detenha as
mulheres, porque a violência doméstica e familiar é o início e a ponta do
icerberg e o feminicídio, um crime de ódio que deixa marcas profundas na
alma" avalia o policial e advogado Paulo Adib, gerente de Inteligência e
Segurança Institucional da Microcamp, que recentemente ministrou uma palestra
para os colaboradoras da empresa e diante do resultado da pesquisa, deverá
estender a apresentação para os alunos da rede.
A pesquisa foi feita entre os dias 4 e 7 de maio,
em 29 cidades de cinco Estados brasileiros. Apesar de ser direcionada às
mulheres, que representaram 90,9% (1547) das respostas, 8.6% de homens e 0,5%
de pessoas que se declaram ter outra orientação sexual, fizeram questão de
responder. No total foram ouvidas 1701 pessoas, a maioria (51,3%) com idade
entre 10 e 15 anos, 37,6% (640) entre 16 a 20 anos e 11,1% (188) acima de 20
anos. Dos entrevistados, 50,6% têm Ensino médio, 37% Ensino Fundamental II,
7,5% Fundamental I, 6,7% Ensino superior e 2,9% Colégio Técnico.
Além do medo, citado por 70,7% dos entrevistados, o
estudo apontou outros motivos pelo qual as mulheres aguentam tanto antes de
tomarem alguma atitude: 17,3% acham que é por esperança de que a violência não
vai se repetir, 8,6% acreditam que é porque as vítimas dependem financeiramente
do agressor e 3,4% por vergonha.
Entre os entrevistados, a maioria (91.3%) afirmou
que nunca foi vítima de violência doméstica, contra 8,7% que disseram que sim.
Das que admitiram ter sido vítimas, a maioria (17,8%) denunciou o agressor,
enquanto 15,8% não reagiram e preferiram se calar, e 12,4% pediram ajuda a
parentes, amigos ou vizinhos.
Quando questionadas se conheciam alguém que foi
vítima de violência doméstica, a maioria (59%) afirmou que não e 41% sim. A
pesquisa quis saber também quem já presenciou algum tipo de violência
doméstica, e 68,1% disseram que não, e 31,9% que sim. Dos que presenciaram,
26,1% disse que pediu ajuda, 2,1% garantiu que socorreu a vítima e 16,4%
preferiu não se envolver.
Em vigor desde 2006 e considerada pela ONU a
terceira melhor lei do mundo no combate à violência doméstica, a Lei Maria da
Penha é conhecida por 88,7% das entrevistadas, 8,9% delas porém já ouviram
falar da lei mas não sabem do que se trata e 2,4% não sabem o que é.
Já em relação ao feminicídio, a maioria (83,4%)
disse saber o que é, enquanto 11,9% já ouviram falar, mas não sabem do que se
trata e 4,7% desconhecem totalmente.
Na opinião de 50,9% dos pesquisados, o principal
motivo do feminicídio hoje no Brasil é a possessividade dos homens. Já 21,2%
disseram ser o ciúme, 15,8% apontaram a bebida e outras drogas como a causa,
11,2% assinalaram outros motivos e 1% atribui ao acesso à arma de fogo.
De acordo com a pesquisa, a maioria (61,35%)
concorda que houve avanço na proteção às mulheres nos últimos anos no Brasil,
mas admite que ainda há muito a ser feito. Já 29% acham que não houve melhoria
e 9,8% diz que sim. Isso apesar de 52,45 admitirem não conhecer os mecanismos
de ajuda que o governo, a polícia e o judiciário oferecem às mulheres.
Na avaliação do palestrante, houve uma evolução no
respaldo às mulheres no Brasil, tanto no que diz respeito ao papel do
judiciário, da polícia, do governo e suas políticas públicas de proteção.
"Falta às mulheres romper esse ciclo vicioso, virar a página e saber que a
guerra não acabou, está apenas começando".
Ao trazer o tema para o debate junto às suas
alunas, a Microcamp quer encorajar as mulheres a romperem o silêncio, a se
tornarem multiplicadoras de informação e se conscientizarem de que são vítimas.
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