"O ser humano tem três necessidades básicas
iniciais: alimento, abrigo e repouso. Se elas não forem atendidas, em poucos
dias o homem morre. Nas comunidades primitivas, em que outras necessidades
quase não existiam, os homens saíam de manhã e voltavam com o produto de suas
atividades de caça, coleta e pesca, e então se alimentavam das frutas
coletadas, dos peixes pescados e dos animais abatidos. Por óbvio, nem todos os
membros da comunidade participavam do trabalho, a exemplo das crianças.
Para abrigar o corpo e se proteger das intempéries
do clima, usavam couro de animais, folhagens e adentravam as cavernas, onde
repousavam e dormiam. Assim vivam as comunidades primitivas, também dividiam as
tarefas e repartiam o que produziam. Se alguém quiser saber como nasceu a
economia (sistema de produção, distribuição, circulação e consumo), basta
remontar à história e ver que ela nasceu com a luta do animal homem para
preservar sua vida.
Nesse sentido, a economia é a ciência da ação
humana, definida como o emprego de meios para atingir fins. À medida que a
população foi aumentando, instrumentos de produção foram inventados (os
chamados “bens de capital”, como as ferramentas movidas pelos braços humanos),
o conhecimento sobre as leis da natureza foi se ampliando, a coexistência em
grupos se expandiu, provocando o surgimento de outras necessidades, outras
atividades e formas novas de produção, distribuição e consumo.
Com o passar do tempo, começaram a se misturar
ações humanas de natureza puramente econômica com formas de organização das
comunidades (é o caso das cidades e, com elas, o alvorecer da política) e as
interações e conflitos da vida coletiva (estudados pela sociologia), e a ação
humana passou a ser observada, estudada e explicada por leis e regras que
poderiam ser englobadas em uma única ciência: a ciência da ação humana, que
existe com o nome de “praxeologia”, com sua teoria geral da ação humana.
O termo “praxeologia” foi empregado por Espinas,
talvez pela primeira vez, em 1890, e vem do grego práxis (prática, hábito,
ação). A rigor, a praxeologia é uma ciência maior, que seria a soma da
economia, sociologia, política e psicologia. Para as relações humanas em comunidade
e para a ação humana no âmbito da economia e das relações de mercado, foram
escritas as leis jurídicas a fim de regular e controlar a vida e os atos
humanos em sociedade, um corpo de leis tendo por base uma filosofia do direito.
Esse ordenamento regulatório passou a fazer parte do conjunto das ciências
sociais que hoje regem o destino das nações.
A economia é uma das mais novas ciências e, à
medida que o homem foi inventando máquinas, processos e tecnologias – com a
ajuda da física, da química e de outras ciências da natureza –, as necessidades
se multiplicaram. Com o aumento da complexidade da vida social, descobriu-se
haver uma regularidade e interdependência nos fenômenos de mercado, cujo
entendimento deixou a humanidade aturdida e confusa, e levou à formação de um
novo corpo de teorias para explicar a ação humana e suas consequências na luta
diária para atender as necessidades múltiplas com os recursos escassos da
natureza, do capital e do trabalho.
Durante séculos, os filósofos e os estudiosos da
ação humana tentaram descobrir as leis (científicas) que governam o destino e a
evolução da história humana. A evolução da economia (a ciência, não o sistema)
mostrou ao mundo que existe um outro aspecto, diferente do bem e do mal, do
justo e do injusto, segundo o qual a ação humana podia ser considerada. Quem
melhor analisou a ação humana sob as teorias da nova ciência foi o grande
Ludwig von Mises (1881-1973), um desses gênios raros que habitaram o planeta.
Mises dizia que toda ação humana representa uma
escolha e, ao escolher, o homem opta não apenas entre bens materiais e
serviços, mas entre todos os valores humanos. Assim, os teóricos começaram a
entender a economia (agora, o sistema) como uma máquina de produzir, distribuir
e consumir a partir de uma “ciência da escolha”. Isto é, até mesmo a escolha de
seu trabalho e dos atos de compra e venda no mercado se conecta com as escolhas
que o homem faz em relação aos valores que lhe são oferecidos para opção.
Quando a economia comportamental ganhou fama, muitos
pensaram estar diante de uma novidade. Mas não. O comportamento do agente homem
no mercado já vinha sendo estudado desde ao menos 1850, provocando a união
entre os fenômenos econômicos e as análises científicas oferecidas pela
psicologia. A partir do momento em que o Estado começou a crescer e a se tornar
uma fábrica de normas intervencionistas na vida do indivíduo, sobretudo após a
Primeira Guerra Mundial, o entendimento da economia passou a exigir
conhecimento das teorias econômicas e, também, da psicologia, da filosofia, do
direito, da sociologia e da política. Como dizia Friedrich von Hayek, não é bom
economista quem é apenas economista.
José Pio Martins - economista,
é reitor da Universidade Positivo.
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