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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Analfabetismo funcional: como o Brasil vai eleger um presidente?


Depois de poucos dias de os partidos anunciarem os candidatos e pré-candidatos para disputarem a Presidência do Brasil, os postulantes começaram suas aparições na mídia e apresentam suas ideias e planos. É uma ótima hora para avaliar quem tem um bom plano para o país. Uma observação que tenho para fazer a respeito deste período de campanha é a sobre as promessas feitas pelos políticos: 

coincidência ou não, todos eles têm o hábito de esquecer que o país é habitado por pessoas – por gente!. Garantem investimentos em infraestrutura de todo tipo, de benesses alucinógenas, porém, se esquecem que a população não tem garantido recursos básicos para sobrevivência e para sua independência e vida digna.

Em um país assolado pela pobreza e emergente, com relação à economia mundial, é necessário buscar alguém que proponha, como requisito básico, o investimento em educação, dado que vivemos em um país que enfrenta o analfabetismo funcional, o que leva o Brasil a uma desvantagem competitiva em relação ao mundo alarmante! E este é o tema do post de hoje: como o Brasil vai decidir por um presidente se apenas 22% dos universitários do país são plenamente alfabetizados?

Você consegue dimensionar isto? De cada 100 pessoas que deixam a faculdade, 68 não conseguem ter uma compreensão ampla de um enunciado, segundo a pesquisa Indicador de Alfabetismo Funcional, conduzida pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa. E reforço aqui: não compreendem um enunciado!

Estudo divulgado nesta semana pela Unicef, baseado em levantamento feito pelo IBGE de 2015, mostra que 6 a cada 10 crianças e adolescentes no país vivem na pobreza – são pobres ou têm privação de direitos. Ou seja, 32 milhões de meninas e meninos vivem na pobreza em várias dimensões. Daí, vem o dado alarmante: mais de 15 milhões são privadas de acesso à educação e à informação.

Por outro lado, existem milhões de crianças na escola, mas elas não estão aprendendo. Segundo levantamento do Banco Mundial, se mantivermos o nível atual de evolução em educação, chegaremos ao patamar dos países desenvolvidos em 238 anos para questões de leitura e 75 anos para questões de matemática! O poder público brasileiro deixou de realizar um ensino inclusivo, equitativo (que permite a competição justa) e de qualidade há muito tempo. Até agora, nenhum candidato a presidente tem mostrado empunhar esta bandeira fundamental para o desenvolvimento do país. O Brasil tem que formar cidadãos globais, que saibam trabalhar em equipe, que saibam persistir, que tenham resiliência e muita criatividade em função do mundo que já se descortinou à nossa frente, o mundo da robotização – da automação e da inteligência artificial.

Em um cenário em que as redes sociais são fortes aliadas dos políticos para divulgarem suas propostas, basta uma análise simples de alguns textos e respectivos comentários para comprovar que o brasileiro não compreende o que lê. Isto pode vir aliado a sentimentos negativos que resultam em ofensas, agressões e até fake news.

No Brasil, em que existe a escolarização, mas o sistema de escolas públicas é falho e os professores não valorizados, não são bem treinados e não são reciclados, nunca se escreveu tanto, tão errado e se interpretou tão mal. Existe gente que escreve na internet que é contra a decisão de um determinado juiz de condenar ou soltar alguém sem, no entanto, nem sequer compreender os detalhes técnicos legais pelos quais foi tomada aquela decisão. Há aqueles também que recomendam um remédio para determinada doença, sem ter conhecimentos médicos.

E no contexto das eleições, existem as pessoas que difundem opiniões sobre candidatos e suas campanhas, sem ao menos ler uma linha de suas propostas. Muito menos clicam nas reportagens sobre o assunto em seus feeds de notícias nas redes sociais, interpretando (e falando com propriedade sobre o assunto), depois de apenas ler o título da matéria.

Com todas estas evidências e fatos, é hora de colocar a educação nas escolas, a escrita, o gosto pela leitura e a interpretação de texto como uma das prioridades de análise das políticas de Estado para decidir o futuro da presidência do Brasil. De outro lado, também precisamos de candidatos que não precisam decorar palavras para falar em público, o que reforça também o analfabetismo funcional. Volto a pergunta feita no início do texto: como o país vai eleger um presidente? E acrescento outra: qual candidato cumpre com estes requisitos relativos à educação de qualidade?

O futuro das próximas gerações é hoje e está em nossas mãos! É preciso coragem para mirar em nossos candidatos a presidente e se arriscar em um futuro tão incerto pela falta de propostas no campo do que de fato faz a diferença de uma nação – a nossa educação.



Uranio Bonoldi - consultor, palestrante e oferece coaching personalizado para empresários e executivos. www.uraniobonoldi.com.br

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